Corridas de ‘carros voadores’ são uma realidade

Com as novas tecnologias, o automóvel ganhou outra dimensão, expandiu horizontes e atingiu um nível superior com as corridas de carros voadores com mais de 1000 cv!

Há muito que ouvimos falar de carros voadores em filmes e livros de ficção, mas a realidade mostra que há empresas a apostar nesta nova categoria de veículos. Numa altura em que todos pensam na Inteligência Artificial, a start-up australiana Alauda Aeronautics vai realizar no próximo ano a primeira competição com carros voadores que promete ser um espetáculo impressionante e capaz de acelerar a revolução da mobilidade aérea. Uma indústria em rápido crescimento que, segundo a Morgan Stanley, deve valer 1,5 milhão de milhões de dólares até 2040. Grandes empresas do setor automóvel e da aviação como a Boeing, Brabham, Mclaren, Jaguar e Rolls-Royce já estabeleceram parceria com a Alauda Aeronautics.

Há seis anos a empresa surpreendeu meio mundo com o conceito de carros voadores pilotados por humanos. O projeto foi evoluindo e, em 2021, apresentou o MK3, o primeiro carro voador destinado a corridas. Apesar de se chamar carro, na verdade trata-se de um veículo elétrico de descolagem e aterragem vertical não tripulado (VTOL). Tem um design inspirado nos monolugares de Fórmula 1 das décadas de 50 e 60, a carroçaria é em fibra de carbono e o chassis em alumínio e dispõe de quatro pares de rotores que garantem a manobrabilidade e estabilidade. O motor elétrico de 96 kW (130 cv) é alimentado por baterias de lítio, acelera de 0 a 100 km/h em 2,8 segundos e alcança os 200 km/h.

Foram realizados mais de 350 voos de teste antes da prova de estreia que teve lugar nas salinas cor de rosa do Lago Lochiel, no sul da Austrália, com duas equipas, numa pista aérea digital com um quilómetro de extensão, a uma altitude de 15 metros, onde os MK3 atingiram 155 km/h de velocidade. Houve paragem nas ‘boxes’ para trocar de baterias, num processo semelhante ao que acontece na Fórmula 1 com os ‘pit stop’. Os carros voadores têm as mesmas especificações o que significa que é a habilidade do piloto e a estratégia da equipa que ditam os vencedores. A corrida teve três ultrapassagens na primeira volta e a manobra arriscada de Zephatali foi recompensada com a vitória. Foi um momento histórico na história do desporto motorizado. Depois da prova inaugural, foram realizadas outras corridas em pistas aéreas controladas eletronicamente no céu e dotadas de realidade aumentada com diferentes tipos de paisagens.

A pilotagem é feita remotamente num simulador que tem a mesma ergonomia do cockpit do VTOL. No interior dos veículos estava um avatar robótico ‘The Aviator’, que permite aos engenheiros recolher dados sobre os efeitos da velocidade e aceleração no corpo humano. A nível de segurança, o MK3 está equipado com o sistema LiDAR e radares que permitem criar um campo de forças virtual à volta do monolugar para evitar colisões. Existe também um sistema que permite ao veículo aterrar em segurança no caso de falhar um rotor ou uma das baterias. Por enquanto os pilotos não têm lugar no interior dos carros voadores, eles são controlados à distância por pilotos, mas o objetivo da start-up é organizar corridas tripuladas, tal como na Fórmula 1.

Ficção científica

Em fevereiro deste ano, a Alauda Aeronautics apresentou o MK4, a mais recente evolução do seu carro voador a hidrogénio, que será utilizado nas cinco corridas da EXA Series. Trata-se de um espetacular veículo com um turbogerador de 1000 kW (1340 cv) que utiliza hidrogénio verde para alimentar as baterias e os rotores. De salientar que a câmara de combustão do motor foi fabricada com a técnica de impressão 3D. Quatro hélices substituem as rodas e fazem levantar o veículo que tem aileron dianteiro e traseiro e entradas de ar como acontece nos monolugares. Tem 5,7 m de comprimento, mede 3,6 metros de largura e 1,4 m de altura.

Este revolucionário veículo atinge 360 km/h de velocidade máxima em 30 segundos – é o veículo voador mais rápido do mundo – e tem 300 quilómetros de autonomia. O MK4 mantém o sistema de rotores do modelo anterior, com a particularidade dos rotores serem controlados por inteligência artificial que ajusta automaticamente o ângulo de inclinação para a descolagem e voo. «É muito rápido em linha reta e pode ser manobrado com grande precisão. Em termos de maneabilidade é semelhante a um Fórmula 1 ou avião de caça», informou o fabricante. É com este modelo que Matthew Pearson, fundador Alauda Aeronautics, pretende organizar o Airspeeder Racing Championship em 2024, um passo importante para o desenvolvimento dos VTOL.

As corridas aéreas podem oferecer um nível de espetáculo nunca antes visto desde que seja garantida a segurança dos pilotos, e é nisso que os organizados continuam a trabalhar. Os testes têm sido realizados em pistas muito simples e começaram também os ensaios com veículos tripulados. Os primeiros pilotos foram selecionados entre mais de 1500 candidatos da aviação civil e militar, do desporto automóvel e até eSports. «Estamos prontos para realizar corridas de carros voadores tripulados. Construímos os veículos, temos a estrutura e atraímos patrocinadores e parceiros técnicos. Agora é a vez das marcas mais inovadoras e ambiciosas e das equipas de desporto automóvel aderirem a uma modalidade verdadeiramente revolucionária», declarou o CEO da Alauda.

Experiência da Fórmula 1 

Bruno Senna, sobrinho de Ayrton Senna, está envolvido no projeto como piloto de desenvolvimento e de corrida. «Ao longo de sua carreira demonstrou uma incrível destreza como piloto de Fórmula 1, Fórmula E, eSports e Drone Flying, e está perfeitamente preparado para participar nesta inovadora e emocionante forma de competição», disse Matt Pearson. O piloto brasileiro referiu: «não resisti à oportunidade de fazer parte deste desporto incrível. Tenho orgulho em participar na primeira série de corridas do mundo de carros de corrida voadores. A Airspeeder combina a minha paixão por corridas, voar e tecnologia. É fascinante quando corremos na dimensão vertical. Estou entusiasmado por definir linhas de corrida, ultrapassagens e estratégias de ‘pit stop’ dentro desse ambiente». Como piloto de desenvolvimento, Bruno Senna trabalha com a equipa de engenheiros e designers da Alauda Aeronautics e já passou mais de duas mil horas no simulador da empresa.