O populismo mina a democracia!

Este 25 de Abril foi uma oportunidade perdida para se discutir um país em quebra de rendimentos, asfixiado pela inflação e pela fiscalidade, onde o quotidiano é dominado terrivelmente pelas lutas sociais sem fim à vista, seja na Educação, Saúde ou Justiça. 

1. Este 25 de Abril que celebrou os 49 anos da revolução terá sido um dos mais fraturantes da nossa democracia, conforme se notou amplamente pelos discursos ouvidos de todos os quadrantes. Ao discurso agregador do Presidente Marcelo, responderam todos os partidos com discursos mais ou menos sectários e/ou reivindicativos, predominando em todos um populismo que ficou como imagem de marca deste Dia da Liberdade.

A presença de Lula da Silva que deveria ser consensual pelas relações fraternas entre os nossos países, foi pretexto para acentuar divergências profundas na nossa sociedade, quiçá fomentadas pela posição do Brasil perante a guerra na Ucrânia, predominantemente ditada por políticas económicas pragmáticas de quem depende da China e da Rússia para uma parcela altamente significativa das suas transações comerciais. 

Se o Dia da Liberdade começou dividido e radicalizado com manifestações a favor e contra Lula da Silva, mais se acentuou com o Chega a procurar capitalizar e a conseguir ter espaço enquanto partido antissocialista, com tiradas de um populismo que só teve comparação com os discursos de uma esquerda igualmente radicalizada, a arvorar-se em defensora da revolução. Bem pregou Marcelo a referir que o dono do 25 de Abril é o povo, um povo que privilegia e respeita a democracia, votando maioritariamente nos partidos que são os seus grandes defensores e se constituem, realmente, como alternativas de poder.

Infelizmente as tiradas de populismo até começaram bem antes das comemorações quando António Costa deu mais uma entrevista de fundo, num afã de tentar recuperar da quebra das sondagens e, mais uma vez, fez um esforço desesperado para colar o PSD ao Chega, mesmo depois de Montenegro ter sido bem explícito a demarcar-se do extremismo de direita. Este ‘chavão’, tantas vezes repetido, está gasto e, sobretudo, como não gruda com a realidade, apenas os fanáticos acreditam nele. Um discurso nada inocente, contribuindo para uma crispação absolutamente desnecessária entre partidos democráticos e baluartes da democracia, mas perfeitamente em linha com o António Costa de sempre, o mesmo que em 2015 se aliou à esquerda radical para se salvar politicamente depois da derrota com Passos Coelho, apesar das políticas de austeridade que o acordo PS (Sócrates)/troika o obrigou a implementar.

Em suma, este 25 de Abril foi uma oportunidade perdida para se discutir um país em quebra de rendimentos, asfixiado pela inflação e pela fiscalidade, onde o quotidiano é dominado terrivelmente pelas lutas sociais sem fim à vista, seja na Educação, Saúde ou Justiça. Para além de frases feitas e ditadas por perspetivas ideológicas, a única certeza que temos hoje é a de que as greves continuam, os problemas nestes setores cruciais apenas se agravam, os processos jurídicos correm riscos de prescrever (sobretudo os de maior mediatismo) e não vislumbramos quaisquer soluções que respondam concretamente a estas questões da maior relevância para os portugueses, os tais ‘donos de Abril’ subjugados a este quotidiano que lhes definha a esperança.

 

2. Lemos e nem acreditamos: a Comissão Independente que vai escolher o local do novo aeroporto vai analisar 17 possíveis alternativas. Existiam 9 possibilidades, a saber: (i) Montijo/Portela; (ii) Portela/Montijo; (iii) Alcochete; (iv) Portela/Santarém; (v) Santarém; (vi) Alcochete/Portela; (vii) Alverca/Portela; (viii) Beja; (ix) Monte Real. Recentemente, talvez porque fossem poucas (!), juntaram-se mais 8: Apostiça, Rio Frio, Poceirão, Évora, Ota, Sintra, Tancos e Pegões. 

Sinceramente, isto ultrapassa em muito o meu (parco) entendimento. Não faço ideia como surgem novas alternativas, quais cogumelos selvagens a minar o trabalho da Comissão Independente, mas uma coisa eu sei: quais destas localizações têm real consistência? Eu diria que muito poucas, pelo que elencar hipóteses académicas apenas porque o processo se pretende o mais democrático possível, é contribuir, na prática, para fomentar discórdias e obstaculizar o trabalho que a Comissão tem de realizar até 31 de dezembro. Isto não é nada, a não ser que o objetivo seja mesmo não haver decisão!

 

P.S. – A demissão da CEO da TAP foi sustentada num parecer jurídico, conforme nos informaram duas ministras (‘da Presidência’ e ‘Adjunta e dos Assuntos Parlamentares’). Dias depois, o ministro das Finanças disse «não haver qualquer parecer» e que a decisão se baseou exclusivamente no relatório da IGF. Posteriormente, a ministra da Presidência veio esclarecer que apenas se tratou de um problema de «semântica». A sério? Ninguém pede desculpas, não há qualquer problema de ética, de respeito pela verdade e, sobretudo, pelos portugueses, como se exige a qualquer ministro? Será que ‘vale tudo’ e o seu contrário porque nada sucede a quem prevarica e não se dá ao respeito?