Remodelação ou novo Governo

O copo presidencial encheu-se com o caso Galamba, mas este não é mais um caso. Marcelo exige uma mudança profunda a António Costa.

Remodelação ou novo Governo

Por Raquel Abecasis

O episódio Galamba foi a gota de água que fez encher o copo da tolerância do Presidente da República com o Governo. Perante os relatos de episódios rocambolescos no Ministério das Infraestruturas a envolverem violência física, roubo, chamadas para a Polícia e até um irregular pedido de intervenção dos Serviços de Informação e Segurança (SIS), Marcelo Rebelo de Sousa considerou que era tempo de acabar com os recados e passar diretamente à ação.

Na descrição dos telefonemas ou encontros longe dos olhares do público, o Presidente da República já terá dito a António Costa que o caso é sério e que a sobrevivência do primeiro-ministro passa por uma mudança profunda, senão mesmo completa do Executivo.

A dúvida neste momento é se tal mudança vai ocorrer no quadro de uma remodelação aprofundada ou se o Presidente vai optar pelo caminho constitucional de demitir o Governo e voltar a nomear António Costa para formar um novo Governo. A dúvida ficará esclarecida nos próximos dias, mas os contactos estarão já em curso.

“As coisas sucedem, vão sucedendo e depois verifica-se que sucederam”. Com esta frase Marcelo Rebelo de Sousa deu o sinal, logo às primeiras horas do Dia do Trabalhador, de que já está a agir, na sequência dos últimos casos que agitaram o Governo. Na visita que fez a uma exposição que conta a luta dos trabalhadores antes e depois do 25 de Abril, foi visível o tom grave do Presidente, que ao contrário do habitual foi parco em comentários e cumprimentou friamente os membros do Governo que o acompanharam durante o evento.

À saída os comentários ficaram de lado e o Presidente optou por deixar o sinal de que está a tratar destes “temas particularmente sensíveis” longe dos holofotes, garantindo que “o seu tratamento não é na praça pública, não é sob os holofotes da comunicação social. São tratados, vão sendo tratados até ao momento em que se vê que foram tratados.”

A forma e a profundidade das mudanças no Governo estará também a ser tratada nas conversas entre Belém e São Bento. Em cima da mesa estarão os perfis necessários para os próximos membros do Governo e até a orgânica do novo Executivo.

Na famosa crise do “irrevogável” nos tempos de Passos Coelho foi notória a forma como o então Presidente Cavaco Silva participou na entrada de alguns nomes para o Governo como foi o caso da escolha de António Pires de Lima para o Ministério da Economia. Situação semelhante poderá estar neste momento a ser falada entre o Presidente e o primeiro-ministro, nomeadamente no que respeita à necessidade de se encontrar um nome forte para o lugar de vice-primeiro-ministro, um lugar neste momento inexistente na orgânica do Governo.