Ainda faz sentido termos mediadores de seguros?

As pessoas devem estar cada vez mais no centro da decisão onde as novas tecnologias não podem ser esquecidas como ferramentas ao serviço dos clientes.

David Pereira
Presidente da APROSE – Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros

O que está a mudar no setor segurador com a transição digital? O que vai mudar com a inteligência artificial e a multiplicação dos canais de vendas? E o que tem de mudar no nosso setor? E a pergunta mais importante de todas: neste tempo em que conseguimos contratar um seguro sem nunca falarmos com outro ser humano, ainda faz sentido termos mediadores? Ou será uma daquelas muitas profissões que se vai extinguir com a chegada, em força, dos diferentes robots, cada vez mais artificiais e cada vez mais inteligentes?

Estas dúvidas são válidas. E prementes. Para mediadores de seguros e para muitos outros. Preparar milhares de profissionais para este processo revolucionário em curso é a grande responsabilidade de todos os agentes económicos.

A Associação Nacional de Agentes e Corretores de seguros (APROSE) representa mais de três mil mediadores, em todo o país, num total de 42% do de todas as apólices colocadas em Portugal e um volume de negócios de 13,1 mil milhões de euros. Se estivermos a falar dos ramos não vida, então a percentagem ultrapassa os 70%. Os mediadores são a coluna vertebral do setor segurador. Vão continuar a ser?

Nos últimos anos, apesar das vendas online ou dos seguros vendidos pelo telefone, o peso dos mediadores no mercado não diminuiu. Pelo contrário. Parece estar em contraciclo com a tecnologia. Qual é a explicação? Simples. O mediador de seguro foi assumindo um outro posicionamento, o seu posicionamento: Provedor do Cliente na sua relação com as companhias de seguros.

Em vez de comercial ao serviço desta ou daquela companhia, o mediador é o provedor do consumidor. A independência garante que recomenda os melhores produtos e soluções, independentemente da companhia que o comercializa. E a mesma independência também garante que atua como advogado do cliente em caso de sinistro. Algo que nenhum robot, computador ou linha telefónica será alguma vez capaz de fazer.

Sinistros recentes, como os incêndios ou as cheias, demonstram-nos que os mediadores podem ir ainda mais longe. Podem e devem atuar como um agente de mudança do setor dos seguros, junto das companhias e dos próprios decisores políticos, sempre na lógica da defesa dos interesses dos consumidores.

Em maio, no Centro de Congressos do Estoril, mais de 1000 mediadores e os principais agentes da indústria, vão reunir-se para aquele que será o grande encontro do setor segurador em Portugal. E, como podem ter percebido por estas linhas, será um encontro com uma agenda de intervenção e mudança muito concreta e assumida.

Este congresso terá como tema ‘O Futuro são as Pessoas’. As pessoas devem estar cada vez mais no centro da decisão onde as novas tecnologias não podem ser esquecidas como ferramentas ao serviço dos clientes. O avanço tecnológico não pode ser colocado de lado, mas sempre como apoio, pois o mediador e agente de seguros é, e será sempre, o verdadeiro provedor do cliente final.

Não sabemos como vai ser o futuro? Não. Mas sabemos que o futuro são sempre as pessoas.