As mãos pecadoras de Ronaldo

Cristiano Ronaldo voltou a ser notícia na Arábia Saudita. O jogador fez um gesto obsceno para os adeptos que gritavam por Lionel Messi e as reações não se fizeram esperar. Há quem pretenda a sua deportação.

A vida desportiva não está a correr bem ao internacional português. A derrota com o Al Hilal (0-2) complicou a luta pelo título e, uma vez mais, CR7 manifestou o seu desagrado da pior forma. Ao abandonar o campo, não encontrou nada mais inteligente do que fazer gestos obscenos, colocando as mãos nos genitais, enquanto olhava para os adeptos do clube rival que gritavam o nome do campeão do mundo argentino, Lionel Messi. A principal referência do futebol na Arábia Saudita teve um comportamento lamentável e vergonhoso num país extremamente conservador, onde os estrangeiros são aconselhados a respeitar à letra os costumes e usos locais, com a agravante do gesto ter acontecido no mês sagrado do Ramadão, durante o qual as pessoas se aproximam dos valores do Alcorão e evitam qualquer prática indecorosa.

 A advogada saudita Nouf bin Ahmed, conselheira dos centros de arbitragem das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional, avançou com uma petição ao Ministério Público a exigir a deportação do internacional português. «Não acompanho o desporto. Se os adeptos do Al Hilal provocaram Cristiano Ronaldo, este não soube responder. A sua conduta constitui um delito. Um ato publicamente indecente que requer prisão e deportação quando cometido por um estrangeiro. Iremos apresentar uma petição nesse sentido», escreveu na rede social Twitter, tendo confirmado mais tarde que o processo estava a decorrer. A atitude suscitou vivas reações na sociedade saudita, com as redes sociais onde CR7 tem milhões de seguidores a darem grande destaque ao caso. A imprensa desportiva foi também bastante dura e sugeriu a expulsão imediata da liga saudita. Cristiano Ronaldo tornou-se persona no grata para muitos na Arábia Saudita. 

Embora os mais conservadores exijam a sua deportação, especialistas em Direito do Desporto consideram que essa possibilidade não existe porque os assuntos relacionados com o futebol só podem ser julgados pelo comité disciplinar da federação saudita de futebol.

O Al Nassr emitiu um comunicado a defender o jogador, onde afirma que Ronaldo se lesionou numa «zona muito sensível» e por isso fez esse gesto. Tendo em conta a explicação, o comité disciplinar e de ética da federação aceitou a justificação e decidiu não levar o assunto a outras instâncias. A estrela do futebol saudita, contratado até 2025 por 200 milhões de euros por ano, continua, por isso, intocável.

Naufrágio de Ronaldo

A qualidade como jogador, os golos fenomenais e os inúmeros recordes fizeram de Cristiano Ronaldo um dos melhores jogadores de sempre e uma referência mundial, sobretudo para os mais jovens. Mesmo quem não é do seu clube repete os gestos triunfantes de CR7. Até por isso, as mais recentes atitudes do jogador são péssimos exemplos para os mais novos. 

Com o final de carreira aproximar-se, o internacional português está a fazer tudo para sair do futebol com a imagem de alguém que se julga acima de tudo e de todos, que não respeita os adversários e que não gosta de ser contrariado e muito menos assobiado. Por muitas Bolas de Ouro e outros troféus que tenha no museu, há outros valores na vida. 

Sendo um símbolo e referência da portugalidade não pode ter comportamentos desta índole. As imagens correram mundo e que pensarão os adeptos de outros países quando veem o capitão de Portugal agarrado aos genitais só porque ouviu o nome de Messi? Se a superestrela que ganhou quase tudo o que havia para ganhar não consegue viver com os assobios e com a omnipresença do campeão do mundo, então, muito mal está Cristiano Ronaldo.   

O jogador nunca conviveu bem com ambientes adversos, e não foi a primeira vez que teve atitudes reprováveis para os adeptos rivais. Em 2005, ao ser substituído no jogo entre o Benfica e o Manchester United respondeu aos assobios vindos das bancadas da Luz com um gesto obsceno com a mão e ainda antes de se sentar cuspiu na direção dos adeptos, tudo isto com as câmaras de televisão a acompanhar. Confrontado com essa atitude, limitou-se a dizer «não tenho nada que explicar». Na sequência desse comportamento, a UEFA instaurou um processo ao jogador por provocação. Na altura, Ronaldo tinha 20 anos e a falta de desportivismo podia ser atribuída a sua juventude e necessidade de afirmação. Aos 38 anos, com muitos títulos conquistados, continua a protagonizar o mesmo tipo de episódios. Por muitos milhões que existam na conta bancária, classe é coisa que não se compra.