Agora que ande a resgatar computadores de ex-funcionários do Governo é que não lembra ao careca. Nunca tal se tinha visto desde os tempos da PIDE, mas com Costa quase tudo é permitido, apesar de Marcelo ter lembrado na sua comunicação ao país que o SIS não está ao serviço do Governo, mas sim do Estado.
Tinha acabado de fazer uma entrevista e não tinha ouvido as últimas do dia, que tinha começado com a encenação em S. Bento, a propósito da ida de João Galamba ao gabinete do primeiro-ministro. «Viste a chicuelina que o Costa fez ao Marcelo», grita-me um amigo ao telefone. Como o José António, vulgo Batman, alcunha carinhosa como o tratamos, é mais dado a excitações futebolísticas, estranhei tanto entusiasmo político. «Não sabes, o Costa recusou o pedido de demissão do Galamba. O primeiro-ministro cortou orelhas e rabos e saiu pela porta grande, em ombros». Não sendo esse meu amigo grande fã de António Costa, achei curiosa a leitura que me acabara de fazer.
Fui ver o filme da demissão não aceite e pensei que o primeiro-ministro é um homem de coragem, que jogou forte, apesar de não ter grande jogo, como se dirá no poker. Encostado às cordas por sucessivas ameaças do Presidente da República de demitir o Governo, Costa encheu o peito e enfrentou Marcelo de frente, daí a tal chicuelina de que falava o meu amigo. Não sei quantas pessoas estavam à espera da decisão do chefe do Executivo, eu nunca sonhei com tal cenário. Com uma equipa fragilizada, Costa assumiu-se como o dono da bola, mas as consequências poderão ser trágicas, pois o árbitro Marcelo poderá querer limitar o tempo de jogo – embora o futuro de ambos esteja no fio da navalha.
O país – o que liga a estas questões – parou ontem para ouvir a resposta de Marcelo, mas o Presidente da_República não surpreendeu, apesar da dureza do discurso, e ‘só’ disse que tem trunfos para jogar no futuro, depois de arrasar João Galamba e o próprio Governo. Só que Marcelo sabe muito bem que se demitir o Governo ou dissolver a Assembleia da República, e que se nas próximas eleições o PS continuar à frente ou a direita não tiver uma maioria clara sem o Chega, não restará outra saída ao Presidente que não abandonar o Palácio de Belém. Marcelo sabe muito bem o que disse o seu amigo Jorge Sampaio quando demitiu o Governo de Pedro Santana Lopes. Aos mais próximos, Sampaio assumiu que se demitiria se o PSD ganhasse as eleições seguintes.
Para já, ficou a saber-se que oPresidente ainda vai estar mais atento e interveniente na vida política portuguesa, quer dando a cara, quer usando os seus heterónimos, e que Costa terá a vida política mais vigiada que qualquer potencial fundamentalista aos olhos do SIS.
A propósito do SIS, é óbvio que o serviço de informações desempenha funções de polícia criminal quando ‘expulsa’, às escondidas, do território nacional, potenciais terroristas, como foi o caso de Fátima. Agora que ande a resgatar computadores de ex-funcionários do Governo é que não lembra ao careca. Nunca tal se tinha visto desde os tempos da PIDE, mas com Costa quase tudo é permitido, apesar de Marcelo ter lembrado na sua comunicação ao país que o SIS não está ao serviço do Governo, mas sim do Estado.
P. S. 1 Como está muito em voga o poker, apostava tudo no escuro em como João Galamba não se irá demitir, apesar de ter sido arrasado por Marcelo.
P. S. 2. No meio desta telenovela, desapareceu dos holofotes a brilhante intervenção de Carlos Guimarães Pinto sobre os subsídios ao Centro de Estudos (Fundamentalista) Sociais. É uma vergonha perceber que três milhões de euros servem para os fundamentalistas do Bloco brincarem às suas teorias contra o capitalismo. Pior é impossível.
P. S. 3 O mundo, já sabemos, está louco. Em Seul, um jovem foi acusado de ter ‘comido’ uma obra de arte avaliada em mais de 100 mil euros. A obra em causa era uma banana substituída de três em três dias._Não sei se a fita que a segurava também é renovada. Em Lisboa, há um abaixo-assinado contra três esculturas que foram oferecidas à autarquia. Se a Câmara tivesse pago milhares de euros a alguns artistas do regime alguém questionaria essa decisão? Não creio. Mas como foi uma oferta...
vitor.rainho@nascerdosol.pt