Há atores, há políticos e há culturistas. Schwarzenegger é os três

Com carreiras brilhantes no culturismo, no cinema e na política, o antigo ator dedica-se agora a promover uma mensagem contra o ódio e o radicalismo. E dá o exemplo do pai, que foi militante do Partido Nazi: ‘Pude testemunhar em primeira mão como ficou destruído’.

por Fábio Sousa

Conquistou por três vezes o título de Mr. Universo, mas tornou-se conhecido sobretudo pelas suas representações em filmes que marcaram as décadas de 80 e 90. Personagens como o Exterminador Implacável e frases como «I’ll be back» ficaram-lhe coladas à pele. Porém, Arnold Schwarzenegger é muito mais do que isso. Antes de ser ator adquiriu o estatuto de ícone no mundo do culturismo, e mais tarde, viria a conquistar um lugar de destaque na política, ao tornar-se governador do estado da Califórnia. Agora, com 75 anos, Schwarzenegger voltou a surpreender.

Empenhado em espalhar uma mensagem de esperança e contra o radicalismo, o antigo ator assumiu que o seu pai foi militante do Partido Nazi e chegou mesmo a participar nas invasões da Polónia e de França. «O meu pai e muitos outros milhões de homens foram sugados para um sistema de ódio por meio de mentiras e enganos. Já vimos onde isso leva», declarou numa entrevista à CNN.

Arnold consagra agora as suas energias precisamente a essa causa que lhe é tão próxima: combater o antissemitismo e os crimes de ódio. Muita da sua campanha é realizada nas redes sociais. Quando apresentou as suas preocupações e falou da sua história, o vídeo tornou-se viral.

«Pude testemunhar em primeira mão como este homem [o pai] ficou destruído», acrescentou. «Os tipos de atrocidades que foram cometidos. Como tantos milhões de pessoas morreram e eles se tornaram fracassados». E terminava o seu apelo com estas palavras. «Isto não resulta. Vamos lá, vamo-nos entender. O amor é mais poderoso do que o ódio». Schwarzenegger nasceu dois anos depois do fim da guerra, e era compatriota do homem que desencadeou o conflito, Adolf Hitler.

 

Juventude musculada

A história de vida de Arnold Alois Schwarzenegger começa em Thal, Áustria, no ano de 1947. O seu pai, Ghustav Schwarzenegger, foi militar e mais tarde polícia; a sua mãe, Aurelia, era dona de casa, algo muito comum naquela época. Arnold foi criado num ambiente muito rígido, devido à educação militar do seu pai. Tinha um irmão mais velho, Meinhard, que morreu aos vinte e três anos num acidente de viação. Ghustav instigou nos seus filhos, desde muito cedo, o gosto pelo exercício físico. Ainda na juventude, Arnold ingressou no exército austríaco e ganhou o seu primeiro prémio numa competição de culturismo europeia, a Mr. Junior Europe.

Emigrou para os Estados Unidos da América e com apenas 20 anos já dominava a competição. Ganhou diversos concursos, tornando-se em 1967 a pessoa mais nova de sempre a receber o título de Mr. Universo. Em 1968 mudou-se para a Califórnia, onde passou a treinar e a competir em eventos com maior relevância no mundo do culturismo. Venceu três Mr. Universo e seis vezes seguidas (1970 a 1975) o campeonato profissional Mr. Olympia. Após estas vitórias sucessivas, fez uma pausa das competições, tendo apenas voltado em 1980 para reclamar o prémio Mr. Olympia uma última vez. Tinha nascido um ícone do bodybuilding mundial.

 

A vida no grande ecrã

Daí para a frente Arnold perseguiu o sonho de se tornar ator. Apareceu pela primeira vez no grande ecrã com o filme Hércules em Nova Iorque (1970), realizado por Arthur Allan Seidelman. O facto de ter conseguido o papel principal no seu primeiro filme proporcionou-lhe diversas outras oportunidades nos anos que se seguiram. Em 1977, conseguiu encantar todos os telespectadores com o seu carisma no aclamado documentário Pumping Iron. A sua primeira atuação icónica chegaria com Conan, o Bárbaro (1982). Logo de seguida, em 1984, alcança um novo patamar de fama com a sua prestação como o Exterminador Implacável. Frases como «I’ll be back» ou os óculos pretos usados pelo Terminator marcaram a geração dos anos 90 e tornaram-se uma referência da cultura pop. Numa sucessão impressionante, Arnold participou em filmes como Predador (1987), Gémeos (1988), em que contracenava com o pequeno grande Danny DeVito, Kindergaten  (1990), Desafio Total (1990), e muitos outros. Com uma pausa pelo meio, em 2010 viria a participar em Os Mercenários ao lado de Silvester Stallone, uma colaboração que colocou uma pedra sobre anos rivalidade acesa.

 

Uma nova Califórnia

Em 1983 Schwarzenegger tornou-se cidadão norte-americano e três anos mais tarde casou-se com a repórter Maria Shriver. Nos anos 90 ingressou na vida política e começou a ganhar relevo no Partido Republicano, tanto a nível nacional quanto estadual. Em 2003 foi eleito, pela primeira vez, como governador do Estado da Califórnia. Uma das medidas mais emblemáticas que implementou nos primeiros anos de mandato foram a Global Warming Solutions Act de 2006 (Lei Global de Soluções para as Alterações Climáticas), em que o seu estado se comprometeu em reduzir as emissões de gases de efeito de estufa. Outra missão que assumiu foi tornar a educação alimentar e o combate à obesidade uma prioridade nas escolas. Introduziu no sistema educativo medidas progressivas e de promoção de melhores hábitos alimentares, bem como um maior foco no desporto.

Foram vários os avanços que o antigo ator obteve no estado da Califórnia, muitos deles focados em ampliar a consciência ambiental e assim melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos. Após ter deixado o cargo de governador, continuou a dedicar-se às causas que acredita. Fundou o R20 Regions of Climate Action, uma organização não governamental que se dedica a desenvolver e implementar projetos na área das alterações climáticas. E a sua recente campanha para combater o antissemitismo e os crimes de ódio mostra que a sua carreira – e, quem sabe, a sua ambição – política ainda não se esgotou.