O descrédito da política é consequência da pobreza de espírito reinante

Os Portugueses só têm o que merecem, porque permitiram e elegeram ao longo de décadas gente malformada, sem ética, desonesta, sem formação e incompetente. Não importa dizer-se que a culpa é da esquerda ou da direita, a culpa é de todos.

por Fernando Camelo de Almeida

Os episódios recentes no Governo, na Assembleia da República e na Presidência da República vieram descredibilizar, ainda mais, a classe política. O que não se previa tarefa simples, uma vez que se deixou de acreditar e confiar nos políticos há imenso tempo, fruto da desonestidade, incompetência e falta de qualidade de grande parte dos atores políticos.

António Costa tem tanto de político hábil como de mau governante, o que o tem beneficiado sempre ao longo do seu percurso político. Basta recordar o apoio que teve do BE na Câmara de Lisboa e a posição posterior do então vereador Sá Fernandes que, provavelmente só por acaso, foi nomeado pelo Governo para liderar a equipa de preparação das Jornadas Mundiais da Juventude (Equipa encabeçada por Sá Fernandes custa 530 mil euros em salários só em 2023…), basta recordar a forma como “matou” politicamente António José Seguro quando este era Secretário Geral do PS, basta recordar como António Costa desrespeitou o resultado eleitoral de umas eleições legislativas formando uma geringonça com os partidos à esquerda que usou apenas enquanto sentiu que lhe eram úteis e agora basta observarmos como se serviu do “aliado” Marcelo enquanto lhe foi conveniente e repentinamente, sem qualquer pudor, o provoca e encrava politicamente. É de facto justo reconhecer a forma hábil e ardilosa como gere cada momento político, mesmo em cenários complicados. Só que desta vez, correu-lhe mal.

A oposição é fraca, o PSD não se tem conseguido afirmar como alternativa, a IL não terá votação suficiente para formar governo apenas com o PSD e o Chega é o único partido que beneficia do panorama, capitalizando o voto dos descontentes, afirmando-se assim como imprescindível para a formação de um governo alternativo. Este cenário é favorável a António Costa e não deve ser ignorado.

Marcelo Rebelo de Sousa tinha o “menino nas mãos”, fosse qual fosse a sua decisão, seria sempre criticado. No contexto atual, dissolver o parlamento não era a melhor opção política, por muito que lhe tenha custado, fez bem em deixar o Governo arder em lume brando com a CPI da TAP a decorrer e a manifesta incapacidade da maioria dos ministros em governar. Custa, claro que custa e vai-nos custar muito a todos nós, mas a dissolução do Parlamento poderia ter um custo ainda superior.

Esteve bem o Presidente da República, foi duro como se exigia, frontal como se impunha e colocou o interesse do País acima de qualquer disputa pessoal como era desejável para a imprescindível estabilidade. Este foi o discurso mais humilhante para um governo e em particular para um ministro, de que há memória. Naturalmente que qualquer pessoa minimamente sensata se demitia de imediato no lugar de Galamba, mas esperar um pingo de sensatez de Galamba é utópico.

Os Portugueses só têm o que merecem, porque permitiram e elegeram ao longo de décadas gente malformada, sem ética, desonesta, sem formação e incompetente. Não importa dizer-se que a culpa é da esquerda ou da direita, a culpa é de todos.

Enquanto isso, uma maioria de Portugueses está mais preocupada com as próximas jornadas do Campeonato Nacional de Futebol, deixando para os políticos a resolução dos problemas do País como se isso fosse coisa pouca ou apenas da competência deles.

Infelizmente, os três F’s do tempo da ditadura, continuam a ser predominantes na nossa pobre sociedade que mais do que uma crise política, vive uma enorme crise de princípios e valores que nos vai corroendo, tal como o comodismo e alheamento de um povo que nada exige e com tudo se conforma. Em suma, o descrédito da Política é consequência da pobreza de espírito reinante.