Oposição aponta o dedo ao PR e ao Governo

A oposição acha que Marcelo devia ter tido mais mão firme a tratar a situação em que o Governo se encontra. Uns acham que o Presidente também tem culpa, outros dizem que devia avançar com a dissolução do Parlamento.

Oposição aponta o dedo ao PR e ao Governo

A mensagem ao país do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa em reação à telenovela em torno do Governo não agradou à grande maioria dos partidos, principalmente por ter afastado a dissolução do Parlamento. 

Para o Chega, não há dúvidas: «O Presidente da República arrasou completamente o ministro João Galamba. O ministro está acabado. Teve hoje o seu ponto final», disse o representant do Chega, Pedro Pinto, que criticou o chefe de Estado: «Confiou em alguém que não é confiável – António Costa. E devia ter ido mais além. Deveria terminado hoje mesmo com este Governo». 

O deputado do partido de André Ventura defendeu, ainda, que o Governo está «em farrapos, partido aos bocados» e que «não dá credibilidade ao país». E reclamou que o país precisa de eleições: «Portugal precisa de estabilidade, não há dúvida, mas a estabilidade tem de vir com eleições».

Já Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal e também deputado, considera que foi «arrasadora» a avaliação do Presidente da República, mas, tal como o Chega, lamenta que Marcelo Rebelo de Sousa não tenha querido ir mais longe nas suas ilações. «O Presidente da República amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de António Costa. São ambos corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer», atirou o deputado.

Rui Rocha disse ainda que «a visão de futuro que o senhor Presidente da República apresenta é completamente contraditória com o diagnóstico e avaliação arrasadora que fez do Governo» e confessou discordar da decisão de Marcelo, considerando que se devia «devolver aos portugueses a possibilidade de decidirem o seu futuro», porque «em democracia há sempre alternativas».

Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, foi mais longe sobretudo nas críticas ao chefe de Estado, atirando que Marcelo está «enredado numa maioria absoluta arrogante e prepotente». E disse ainda: «Hoje, sabemos que não confiamos nem no Governo nem no Presidente para apresentarem as soluções que os portugueses esperam».

Para a deputada candidata à sucessão de Catarina Martins como coordenadora dos bloquistas, apenas as mobilizações populares podem «impor» ao PS medidas transformadoras: «É nisso que confiamos para alterar a situação política em Portugal».

A deputada bloquista disse que Marcelo foi o responsável pela criação desta maioria absoluta quando dissolveu o Parlamento e atirou: «É óbvio que existe um problema de credibilidade do Governo».

Por sua vez, a líder parlamentar do PCP considerou que «não se deve desviar atenções», avançando que «o povo reclama respostas para os problemas com que estão confrontados» e que «aquilo que o Presidente e que o Governo devem centrar é na resposta aos problemas».

Paula Santos disse no PArlamento: «Não se aproveitem os problemas para evitar as soluções que são necessárias. Há um ano, a Assembleia foi dissolvida de forma intempestiva; agora não há nada que impeça o Governo de dar resposta a estes problemas».

Lembrando que atualmente se assiste a um «conjunto de episódios lamentáveis que envolvem membros do Governo», a deputada sublinhou que «aquilo que os trabalhadores, os reformados, o povo reclama são respostas para os problemas com os quais estão confrontados: os salários e as pensões não chegam até ao fim do mês, há dificuldades na habitação, no acesso à saúde, para colocar comida todos os dias na mesa».

Já o PAN, pela voz de Inês Sousa Real, considerou que o Presidente da República foi de encontro à preocupação do partido de que há instabilidade que precisa ser resolvida mas acha que Marcelo devia ter ido mais longe com o objetivo de haver uma reforma no Governo. «O primeiro-ministro deve fazer esta reflexão. Não basta levar um ralhete, Portugal precisa de reformas estruturais e de um sentido de bem comum», disse a deputada do PAN.

Por sua vez, o Livre, de Rui Tavares, deixou a receita para sair da crise política que o país enfrenta: «É preciso dar mais passos de responsabilidade e sensatez», disse o responsável do Livre. E para o Governo sair desta crise, defende, Marcelo devia ter ido mais longe. «É pena» que o Presidente da República não tenha chamado os partidos a Belém, atirando ainda que a maioria absoluta do Governo foi uma maldição. 

Em comunicado, Nuno Melo, presidente do CDS, diz concordar com a análise do Presidente da República sobre o fracasso da governação do PS. Porém, Melo realçou que o CDS «discorda frontalmente das conclusões retiradas a propósito da grave crise  que Portugal atravessa», acrescentando que «manter-se o atual quadro político político perpétua um Governo diminuído e fragiliza o papel do presidente da República». «Não reagindo vigorosamente à desconsideração de António Costa, o Presidente da República permite que se instale uma  ideia equivoca de que deixou de conseguir garantir um funcionamento normal das instituições democráticas», diz Nuno Melo que acrescentou: «O país precisa de um novo ciclo político que dê esperança aos portugueses. Infelizmente e pelo contrário,  assistiremos agora a uma  degradação ainda maior da situação política nacional».

 

PS em silêncio absoluto

Quanto ao PS, o silêncio foi a resposta do partido maioritário à mensagem contundente do Presidente Marcelo, por ordem expressa da direção de António Costa. 

Na sequência, aliás, dessa decisão, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues cancelou a participação num debate televisivo, na SIC-Notícias, em que deveria ter estado frente a frente com a vice-presidente do PSD Margarida Balseiro Lopes – foi a própria moderadora que anunciou que o representante socialista tinha aceite o convite para participar no debate mas cancelou à última hora, justificando que a direção do partido tinha tomado a decisão de não haver qualquer comentário do partido e seus dirigentes às palavras do Presidente na noite de ontem.