Estudos pós-comunistas no CES

Graças a essa simpática cadelinha, o mundo passou a olhar para os cães de outra forma. Uma vez mais, a propaganda capitalista inventou horrores sobre o que aconteceu a Laika, mas o CES já desmentiu tudo

por João Cerqueira

O deputado da IL Carlos Guimarães Pinto denunciou no Parlamento que o CES de Boaventura Sousa Santos recebeu, entre 2020 e 2023, o triplo do valor atribuído ao IPO, e mais do que o conjunto dos Centros de Investigação em Economia das Faculdades de Economia do Porto, da Universidade Nova e da Universidade do Minho. Tratando-se de dinheiro dos contribuintes, isto pode parecer estranho. Ou escandaloso. Ou pornográfico. Mas não é, se tivermos em conta que as descobertas feitas no CES pelo seu diretor emérito podem ser equiparadas à descoberta da vacina contra a covid. Vejamos: após anos de investigação científica, Boaventura Sousa Santos descobriu que o racismo, o sexismo, a xenofobia, a homofobia e os maus-tratos aos animais são uma característica inerente às sociedades capitalistas. Esta descoberta deixou o mundo estupefacto; ou, pelo menos, a parte do mundo que ficou com o coração partido com a queda do Muro de Berlim. O que nos vale é que as mesmas sociedades capitalistas também permitem que haja liberdade para serem criticadas e, ainda por cima, financiam os seus críticos.

Este introito serve para demonstrar que o financiamento do CES deveria, sim, ser aumentado. Se  já descobriram tanta coisa má do capitalismo, é óbvio que está para breve a grande descoberta de que os apoiantes do sistema capitalista só podem sofrer de doenças mentais e devem ser internados. E depois, naturalmente, acaba-se o capitalismo e as desgraças do mundo. No entanto, falta nos estudos do CES uma disciplina importantíssima: Estudos Pós-Comunistas.

Como até os capitalistas admitem, o fim do Comunismo trouxe grandes retrocessos civilizacionais para os seus povos. Comecemos pela comunidade LGBT. Nos países comunistas, os gays e as lésbicas usufruíam de uma liberdade e de um reconhecimento social que ainda hoje provocam inveja a São Francisco e a qualquer Gay Pride. O empenho dos dirigentes comunistas na causa LGTB era tal que, em 1979, Brejnev beijou apaixonadamente na boca Honecker quando o visitou em Berlim. Se depois dormiram juntos, não se sabe, mas, para a História, ficou esse beijo simbólico da superioridade moral do Comunismo sobre o Capitalismo. Além disso, inspirado na ideia de António Ferro A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, Brejnev lançou o concurso O Gay mais Gay da União Soviética, vencido por um mocetão do Uzbeque.

Desde então, nenhum Presidente americano, primeiro-ministro europeu ou o engenheiro Guterres promoveram tais concursos ou beijaram homens em público. Falam, falam, mas é só conversa.

Outro grande feito soviético foi a promoção do Multiculturalismo, tendo em Estaline o seu grande obreiro. Percebendo antes do tempo a importância das sociedades multiculturais, Estaline deportou tártaros, cossacos, chechenos, calmucos, curdos, azeris, arménios e outras etnias para o mais longe possível das suas casas. As deportações foram feitas em comboios de luxo e os deportados embarcaram nessas viagens com uma esperança de encontrar um local melhor para viver semelhante à dos peregrinos do Mayflower. E ao contrário do que diz a propaganda capitalista, justamente denunciada pelo CES, entre os cerca de 4 milhões de deportados ninguém morreu ou foi maltratado – à exceção de uma idosa que se constipou quando chegou à Sibéria.

Outra prova de que o Comunismo estava avançado em relação às democracias liberais foi a revisão dos livros e da História. Um século antes de o Ocidente começar a corrigir livros infantis e ensinar que nos devemos envergonhar do nosso passado, já a União Soviética iniciara o processo purificador de rescrever a História, corrigir ou mesmo eliminar livros suscetíveis de ofender, confundir ou desviar o povo da tarefa de construir o paraíso na Terra, e riscar das fotografias coletivas traidores como Trotsky ou Yezhov.

E, por último, o tratamento e a importância dada aos animais. Demonstrando compreender que os cães são seres sencientes que os aproximam dos humanos, em 1957 a União Soviética demonstrou ser mais ousada do que o PAN ao escolher, treinar e enviar para o espaço a cadela Laika. Foi a derradeira prova da superioridade civilizacional do Comunismo sobre o Capitalismo e as suas sociedades preconceituosas. Enquanto os burgueses europeus e americanos abandonavam nas ruas os seus cães, os soviéticos elevavam Laika à mais alta esfera do espaço. Graças a essa simpática cadelinha, o mundo passou a olhar para os cães de outra forma. Uma vez mais, a propaganda capitalista inventou horrores sobre o que aconteceu a Laika, mas o CES já desmentiu tudo.

Portanto, é altura de o CES incluir os Estudos Pós-Comunistas nas suas investigações.

E, na qualidade de cientista social quando não estou a trabalhar ou a jogar ténis, ofereço-me para orientar os candidatos e para receber uma parte desses milhões de euros que tanta inveja provocam.