Banco de Portugal alerta para incumprimento de famílias e empresas vulneráveis

BdP enumerou os principais riscos e vulnerabilidades para a estabilidade financeira.

Para o Banco de Portugal (BdP) é claro que, nos últimos meses, “os riscos para a estabilidade financeira acompanharam o enquadramento geopolítico tenso, as pressões inflacionistas e a relativa turbulência nos mercados financeiros internacionais, espoletada por desenvolvimentos recentes em bancos nos EUA e na Suíça”.

E que, “apesar de refletirem fragilidades idiossincráticas, os eventos nessas instituições suscitaram um quadro geral de incerteza, que motiva uma monitorização acrescida por parte das autoridades”.

O banco liderado por Mário Centeno lembrou ainda que o Banco Central Europeu prosseguiu o ciclo de subida de taxas de juro, “apesar da recente desaceleração, e sinalizou a sua capacidade para apoiar a liquidez ao setor bancário da área do euro, se necessário, e preservar a transmissão da política monetária”.

Assim, o BdP enumerou os principais riscos e vulnerabilidades para a estabilidade financeira. Um deles é o potencial incumprimento das famílias mais vulneráveis, que se prende com a elevada inflação, subida das taxas de juro de curto prazo e o potencial agravamento da taxa de desemprego. “. A preponderância da taxa de juro variável no stock de empréstimos à habitação leva a que a subida das taxas de juro de curto prazo se traduza num aumento relativamente rápido e significativo dos encargos com a dívida”, explica.

Mas esse risco de incumprimento também se estende às empresas vulneráveis. “Apesar da evidência recente de resiliência do setor, um contexto económico e financeiro mais desfavorável, caraterizado por menor crescimento económico e taxas de juro mais elevadas, poderá aumentar a percentagem de empresas vulneráveis”, justifica o banco central.

Segue-se, no que diz respeito aos riscos, a turbulência acrescida nos mercados financeiros internacionais, “implicando potenciais efeitos de contágio entre os ciclos financeiro e económico”, refere a nota que diz que “uma eventual aversão ao risco mais generalizada teria impactos adversos sobre os custos de financiamento, a valorização dos ativos e a atividade económica”.

Uma trajetória menos favorável para o rácio da dívida pública é outro risco. “Os principais riscos associados a este processo derivam de um enquadramento económico e financeiro potencialmente mais adverso, com menor crescimento económico e inflação mais persistente, que motive uma reação mais intensa e duradoura das autoridades monetárias por via de taxas de juro mais elevadas”.

O Banco de Portugal fala ainda do arrefecimento no mercado imobiliário residencial “com impacto sobre os preços e sobre o valor do colateral de créditos garantidos por imóveis”, detalhando que “o contexto de subida das taxas de juro deverá contribuir para a desaceleração dos preços no mercado imobiliário residencial em Portugal”.

E ainda a materialização dos riscos de mercado e de crédito no setor bancário, “refletindo a interação entre uma evolução mais adversa das variáveis do cenário macrofinanceiro e as vulnerabilidades dos setores de contrapartida”.

Perante estes desafios e riscos identificados, “espera-se que os bancos aproveitem a melhoria do contexto económico e financeiro para adequar as condições dos empréstimos à capacidade de pagamento dos clientes”, diz o BdP que espera também que “mantenham políticas prudentes de constituição de imparidades e de conservação de capital, que permitam aumentar a sua capacidade de absorver perdas e de financiar a economia”.