Taguspark. Um lugar para ser feliz

Considerado o maior parque de Ciência e Tecnologia da Península Ibérica, no Taguspark funcionam 160 empresas e trabalham 16 mil profissionais. Mas, depois do sol se pôr e terminar o horário laboral, a vida continua: há fins de tarde com vista para o Tejo e espetáculos de teatro para ver depois do jantar.

É possível que quando se fala nele, a primeira ideia que venha ao pensamento seja «trabalho». No entanto, se pararmos realmente para observar, aqui, no Taguspark- a conhecida Cidade do Conhecimento em Oeiras -, a vida acontece em todas as suas dimensões.

São quase 11 da manhã. Os raios de sol são tão fortes que quase encandeiam, iluminando o extenso relvado e batendo de frente no branco das fachadas. Os autocarros param nas paragens e deixam os trabalhadores para o começo de mais um dia. Em todos os parques vemos carros estacionados. As pessoas seguem para os escritórios. Mas, ao contrário de outros lugares, onde os rostos ainda estão meio adormecidos, aqui, as pessoas sorriem. O que há de diferente neste espaço?

Quem não o conhece, quando aqui chega pela primeira vez surpreende-se com o tamanho desta «cidade dentro de uma cidade». E a novidade é que ela não para de crescer e de se transformar.

Estendendo-se por um total de 360 hectares, 150 dos quais ocupados por cerca de 160 empresas e 16 mil profissionais que trabalham e visitam diariamente o parque, o Taguspark assume-se como o maior parque de ciência e tecnologia em Portugal. Mas não aqui não se fazem apenas negócios e investigação; o espaço é também conhecido por se dedicar a inúmeras atividades que lhe dão cor e que o diferenciam.

Obras de arte decoram as paredes. Há esculturas espalhadas tanto pelo interior dos edifícios como pelos jardins que os circundam. Nas garagens, os graffitis de artistas com carreiras já consolidadas convivem lado a lado nas paredes com os de artistas emergentes que procuram um local de expressão. No Núcleo Central, as exposições vão trocando, de dois em dois meses, contando histórias através de pintura, fotografia ou escultura. Todas as terças-feiras há também um mercado tradicional que oferece produtos frescos e nacionais – fruta, pão, legumes biológicos. Às quintas-feiras, artistas e músicos de diferentes estilos são convidados para animarem a refeição dos colaboradores e visitantes. E, mais recentemente, o esforço e preocupações de um dia de trabalho são recompensados pelos sunsets no Panorâmico by Faz Figura, no 4.º piso do Núcleo Central. Ao final da tarde, com o Tejo como pano de fundo, é possível relaxar enquanto se toma um bom vinho português e se aguarda pela hora do jantar. E depois disso, com o estômago confortado, ainda é possível assistir a um espetáculo. Pela mão da Yellow Star Company, o auditório da Cidade do Conhecimento tem atualmente em cena peças de teatro para miúdos e graúdos. No princípio do mês estreou-se Cartas de Amor, adaptado do clássico da Broadway. Com texto de A. R. Gurney e encenação de Paulo Sousa Costa, o elenco conta com Virgílio Castelo e Maria Elisa Domingues, que se estreia no teatro. 

Mas qual o objetivo de tudo isto? Além de conseguir a «felicidade no local de trabalho», mostrar que este «é um espaço para todos», responde Graça Guimarães, Head of Marketing, Communication & Events.

Museu de Arte

A viagem começa precisamente no coração da ‘cidade’, o Núcleo Central. Ao entrarmos pela porta principal, somos imediatamente surpreendidos com uma escultura em tamanho natural – Girafa Lavoisier, criada com chinelos de enfiar no dedo pelos artesãos da Ocean Sole – uma organização não-governamental sediada no Quénia -, em parceria com a United to Remake, uma startup instalada na Incubadora do Taguspark. Em ecrãs espalhados pelo átrio vemos o processo de concepção da escultura. «É um intercâmbio muito bonito. Enviaram os vídeos para que vejamos de que forma foi construída a escultura. O transporte foi um desafio», lembra Beatriz Palma, responsável pelo Museu de Arte Urbana (MAU), do Taguspark. A girafa, claro, é em tamanho natural.

A viagem para ver algumas das peças segue depois pelos corredores e salas do Núcleo Central. No átrio, além da grande Girafa, podemos apreciar um grande quadro de Ana Mesquita (artista responsável por muitas das obras espalhadas pelo local). Repleta de cores, a obra intitula-se Amadeo Pop, e faz parte de uma série em homenagem ao artista de Manhufe prematuramente falecido em 1918, de pneumónica. 

Com 1,73 metros de altura e 2,62 metros de comprimento e intitulado Inscription, o quadro de Marco Conti, feito com técnica mista (grafite, carvão, acrílico, lápis de cor, caneta), dá vida à sala de reuniões do Núcleo. Nele vemos Marge Simpson, a menina amarela da série criada por Matt Groening, em cima de um cavalo. Do mesmo autor, na sala principal do restaurante Faz Figura, atrás de um vidro, encontra-se protegida a Última Ceia, uma obra de grandes dimensões, com 2,50 metros de altura e 4 metros de comprimento. Nela encontramos, ao invés das figuras de Jesus e os apóstolos, caras conhecidas que vão desde a princesa Diana ao génio Einstein, do rapper Tupac a Nelson Mandela, passando pelo Hulk. 

Aqui, também se pode admirar outras esculturas realizadas pelos artesãos da Ocean Sole – os mesmos que construíram a girafa do átrio. Já no restaurante, vemos animais marinhos: pendurados no teto, encontram-se dois peixes, também eles construídos com chinelos de enfiar no dedo. Tal como o polvo, a quarta e última escultura vinda de África. 

Chegámos ao Gabinete de Comunicação, decorado com um painel de azulejos. Realizada o ano passado, pelo artista DACOSTA, e intitulada Domino Séries 1/10, a obra em tons de azul marinho e branco remete para a cultura tradicional portuguesa, na forma, mas mostrando-nos figuras incontornáveis da ciência – Einstein -, da arte – Jean-Michel Basquiat -, da música – Cesária Évora e Amália Rodrigues.

No corredor circular, rodeado pelas salas onde trabalham os funcionários, destacam-se várias fotografias: «Além da pintura, da escultura, dos graffitis que temos nas garagens, dos azulejos, também queríamos ter uma espécie de exposição de fotografia no nosso Museu», explica Beatriz Palma. Dos artistas escolhidos, fazem parte Rahman Haghighi, António Alves da Costa, João Porfírio e Vasco Pinhol. 

Seguimos para o espaço exterior, decorado, até agora, com 10 esculturas, cada uma fixada num ponto diferente do Taguspark. «Queremos aumentar o nosso Museu, claro! Mas são sempre processos complexos. Recebemos muitas propostas de artistas que querem colaborar connosco», revela a responsável pelo pelouro artístico da Cidade do Conhecimento. A mais conhecida e apelativa talvez seja a In’duck’ tion, do artista Osir. Um pato feito de espelhos, com o bico vermelho que «boia» na pequena piscina. Bordalo II é também um dos artistas representados no espaço. Um grande esquilo, construído, como sempre, com lixo, tal como uma mãe pássaro que passeia com as suas três crias. Na coleção de esculturas do jardim sobressai ainda uma peça de Jaime Carvalho, apelidado Anjo Futurista. 

Exposição e Teatro – Em Cena

Regressando ao átrio do Núcleo Central, perto da entrada para o auditório pode visitar-se a exposição que estreou no dia 11 de Maio. Tributo é a homenagem de ALBUQ, pseudónimo do artista Pedro Albuquerque, a um dos grandes ícones musicais da cultura britânica: os Pink Floyd.

Patente de 11 de maio a 17 de junho, a exposição representa um diálogo entre ALBUQ e os sons do teclado de Rick Wright. «O diálogo entre o artista e a coleção ‘On Pink Floyd’, transmite as suas sensações, as suas lutas interiores, os seus encontros e desencontros com a história e, num método muito natural, a obra tomou conta de si própria, fugiu ao controlo do seu criador, e projetou-se na tela, na escultura, no papel e na imagem, não de uma forma mecânica, mas sim dialética», descreve o Taguspark.

Perto do quiosque, onde os funcionários podem tomar um café e comer um bolo, exibem-se os cartazes dos espetáculos que estão em cena este mês. «A Yellow Star Company começou este projeto com o Taguspark – Fora D’Horas – rompendo com a normalidade de vir ao espaço apenas para trabalhar. Para que as pessoas possam aproveitar a vida, durante a noite, fora do trabalho», explica Carla Matadinho, diretora da companhia. «O teatro traz aqui uma componente de lazer. Além de ser uma Cidade do Conhecimento, é uma casa que valoriza muito o lado das artes, o mundo da cultura», acrescenta. A Yellow Star Company começou a produzir estes espetáculos em janeiro. «Atualmente estamos com quatro no Taguspark, em que as pessoas podem ver durante o mês de maio: às quartas-feiras, a comédia Agora é que São Elas, com a Teresa Guilherme e o ator Luís Brás; às quintas-feiras, Ruy de Carvalho – A História de Vida, com o próprio Ruy e o ator Luís Pacheco; e agora, de sexta a domingo, até ao final do mês, as Cartas de Amor, com o Virgílio Castelo e a estreia da Maria Elisa nos palcos. O quarto espetáculo é para as crianças, Madagáscar – Uma Aventura Musical», detalha. 

O mais recente projeto, Cartas de Amor, estreou no princípio do mês. «É uma peça magnífica, um texto maravilhoso, com uma interpretação incrível do nosso Virgílio e com estreia da Maria Elisa, o que torna tudo mais especial. Conta uma história de amor que é vivida por um casal ao longo de vários anos, um amor que nasce ainda em pequenos. É giro ver o crescimento todo vivido por cartas, como acontecia antigamente. É uma comédia romântica e emotiva, de uma intensidade muito grande», descreve, acrescentando que esta peça «tem uma particularidade». «O autor não permite que o texto seja decorado. Portanto, os dois atores, que fazem de casal, estão a ler as suas histórias. A interpretação e tudo o que acontece são eles que sentem. É uma experiência única», reforça Carla Matadinho. 

Taguspark Fora D’Horas 

Numa entrevista a O Correio da Linha, no final do mês passado, Eduardo Baptista Correia, Diretor Executivo do Taguspark, explicava que em 2018, ao receber «uma marca que tinha sido relativamente negligenciada durante 10/15 anos», teve de «transformá-la»: «Nestes últimos cinco anos, tivemos de atuar em várias frentes. Apostámos numa política de regeneração. Regenerámos o edificado, que estava bastante degradado por falta de manutenção. Regenerámos a arquitetura exterior, a jardinagem e a limpeza. Regenerámos a forma como nos relacionávamos com os nossos clientes. Regenerámos a cultura meritocrática de equipa, a forma como a equipa funciona. Regenerámos a relação com os fornecedores, por um lado mais exigência, por outro lado um maior grau de confiança na forma como pagamos, na forma como reconhecemos também o mérito dos nossos fornecedores», explicou. 

Segundo o CEO, estes foram os pilares que levaram a equipa, logo numa primeira fase, «a definir claramente o caminho de regeneração» e, por outro lado, a marcar «um posicionamento que começou rumo ao Parque Mais Cívico da Europa».

Relativamente às novas iniciativas que oferecem ao espaço e a quem o visita «tudo aquilo que precisam para serem felizes», Eduardo Baptista Correia afirmava que o Taguspark se encontra «num território particularmente bem concebido», onde «é muito agradável passear». «Não há muitos locais tão bonitos e sossegados como o Taguspark», garantia à mesma publicação. «Porque a nossa arquitetura não tem nada a ver com a arquitetura rural, somos dos pontos do País com a arquitetura mais inovadora, mais contemporânea, com uma jardinagem mais cuidada, com um conjunto de obras de Arte no exterior», descreveu. Baptista Correia acredita que num futuro não muito distante o Taguspark poderá ser palco de festivais de música e concertos.

«Foi todo regenerado, foi todo feito de novo! Não só para que as pessoas que aqui trabalham possam usufruir do espaço na sua totalidade, como para as pessoas que vêm aqui fora de horas», reforça Graça Guimarães, sentada num dos sofás à entrada do Núcleo Central. «O Fora D’Horas é exatamente uma marca que nós queremos passar de maneira a que consigamos mostrar que o Taguspark funciona fora do horário de trabalho», conclui. E, para que nada escape aos visitantes, até há um mapa desdobrável com todas as coordenadas.