Precisamos menos dos políticos do que imaginamos

O que está em causa, não é a escassez de talento em si, antes o desajuste entre a formação e o que as empresas realmente necessitam. Portugal não tem falta de talento em qualidade, tem é falta de talento em quantidade e o ensino desajustado.

por Luís Castro
Jornalista

A Europa tem um duplo desafio: Inovação e Demografia. Há um problema grave de recrutamento e investimento. No ano passado, só em Inteligência Artificial, os EUA duplicaram o investimento para noventa e três mil milhões de euros, o dobro da China. A Europa ficou-se por um terço e Portugal apenas por metade da média europeia. Investimos pouco e estamos mais velhos.

A média de idade dos asiáticos é de 30 anos, a dos americanos de 33 e a dos europeus de 44. Portugal é dos piores, com 47 anos. Europeus mais idosos do que nós, só os italianos com 48 anos de média. Por aqui se percebe que vivemos um paradoxo: a Europa está a envelhecer dramaticamente e a economia está a rejuvenescer rapidamente. Portugal está para lá da linha vermelha e continua a mandar embora aqueles a quem prometeu que teriam um futuro por cá.

Nos últimos três anos, saíram de Portugal o equivalente a três estádios de futebol cheios de gente – Luz, Alvalade e Dragão. Muitos são jovens que iam para voltar e agora já duvidam se querem regressar. Por cá, setenta por cento dos licenciados ganham menos de mil euros por mês. Um médico, por exemplo, recebe o dobro em Espanha, o triplo em França ou na Alemanha, quatro vezes mais nos países nórdicos, ou seis vezes mais no Luxemburgo.

Recentemente, um estudo da ManPower Group dizia-nos que Portugal é o quarto país do mundo onde há mais falta de talento. A conclusão é precipitada, se nos ficarmos pelo título, até porque o estudo acaba por esclarecer que o que está em causa, não é a escassez de talento em si, antes o desajuste entre a formação e o que as empresas realmente necessitam. Portugal não tem falta de talento em qualidade, tem é falta de talento em quantidade e o ensino desajustado.

Nos países desenvolvidos adapta-se a formação às novas profissões, aquelas que as empresas necessitam ou vão necessitar no futuro. Por cá, pedimos às crianças que imitem sons de sapos e minhocas cegas, discutimos casas de banho, não há avaliação e até já se admite acesso a profissões sem que se tenha estudado para tal. Insano. Ridículo. Ninguém discute que quatro em cada dez alunos já dependem da Ação Social Escolar.

Mas, enquanto os corredores do poder se engalfinham em questões discutíveis ou inúteis e comportamentos deploráveis, o país vai fazendo o seu caminho. Empresários e professores mostram que talvez necessitemos menos dos políticos do que imaginamos. Graças às empresas, a economia está a crescer; graças às Universidades, Portugal já é o terceiro país da UE que mais engenheiros forma – e de alta qualidade. Uns saem, outros ficam.

Os nossos jovens são cada vez mais disputados pelas grandes empresas mundiais. E foi, também por eles, que no ano passado Portugal atraiu dois mil e quinhentos milhões de euros em investimento direto (19% dos EUA, 15% da Suíça, 15% dos países nórdicos e 13% da Alemanha). 66% dos projetos foram em centros de competência de engenharia e software, provando que as maiores multinacionais reconhecem que temos talento e qualidade na formação. Mas, não chega – temos de fazer com que o talento também vá para a política, para o Parlamento e para a gestão dos interesses públicos.

Portugal tem duas mil e duzentas start ups que geram 1,2% do PIB nacional, empregam oitenta mil pessoas e captaram um valor recorde de quinhentos milhões de euros em investimento externo, só no ano passado. António Costa Silva, um dos ministros mais competentes deste Governo, prometeu a melhor lei da Europa para estas empresas, mas o Parlamento desconsiderou-o e deixou o ministro da Economia e do Mar a falar sozinho.

Quando os deputados decidiram penalizar, ou não incentivar, fiscalmente os fundadores e CEO das start ups com a nova lei, os deputados mostraram como conhecem muito pouco destas empresas que têm uma capacidade de crescimento rápido maior que as da indústria tradicional, pois não necessitam de espaços físicos e outras infraestruturas, elas crescem digitalmente.

Na verdade, não se pode pedir muito a políticos que gerem ou legislam sobre milhões quando nunca geriram, sequer, tostões. Por isso, há que desconfiar quando o Estado diz que vai ajudar. Não se incomodem, basta que não prejudiquem e saiam da frente. Maquiavel já dizia que sinal de inteligência é a consciência da sua própria ignorância.