Democracia destruída pelos ‘donos’ do Estado

O triste espetáculo que os vários ‘casos’ que o caso TAP nos proporciona, são, atualmente, a maior evidência que a democracia e o Estado estão profundamente afetados.

Por Eduardo Baptista Correia

O conceito de democracia constitui uma das mais sublimes conceções no modo como a sociedade se organiza, decide e evolui. A democracia enquanto conceito filosófico entrega as decisões coletivas ao povo que, em teoria, endossa aos melhor preparados para o representar em cada fase da história. O sistema democrático contrasta com outros onde o poder é exercido por uma pessoa, como é o caso da monarquia absoluta, ou ainda como é o caso da oligarquia em que o poder é mantido por um pequeno número de indivíduos.

Quando seriamente analisado o panorama dos atores políticos em Portugal verificamos um absoluto controlo por parte dos partidos políticos em todas as estruturas em que o povo é chamado a eleger. As honrosas exceções estão presentes ao nível do poder local onde há a possibilidade, tantas vezes ameaçada pela oligarquia partidária, da apresentação de candidaturas independentes dessa mesma oligarquia. Os partidos são controlados por pequenos grupos que em circuito fechado ocupam os lugares, controlam os acessos, e trocam entre si influências.

A lamentável teatralização que invadiu a democracia constitui o reflexo da incapacidade do modelo oligarca vigente em tratar e decidir sobre o futuro coletivo. A forma e o conteúdo do debate são bem reveladores da normalização da estupidez e incompetência que os mesmos de sempre trouxeram à vida política e à gestão da causa publica. A vida desse grupo que controla a oligarquia partidária fez-se em exclusivo de carreiras dentro dos partidos com um único propósito: o acesso ao poder.

A ausência de mecanismos de controlo e exigência meritocrática constitui a melhor apólice de permanência do perfil vigente. São essencialmente carreiras feitas nas estruturas partidárias, com licenciaturas, quando é o caso, maioritariamente realizadas em universidades de baixa qualidade, sem experiência nem atividade profissional independente e autónoma da estrutura partidária. São às centenas, conhecem-se quase todos e saltam de organismo em organismo em função dos interesses políticos de ocasião.

Os debates que assisto, no parlamento, nas comissões de inquérito, nas assembleias municipais e noutras instâncias onde o perfil presente é o do atual ator político anteriormente descrito, são a mais evidente prova de que não há nem interesse nem capacidade neste grupo para resolver problemas concretos e estrategicamente alicerçados. Eles e elas não são capazes de contribuir para a inovação e desenvolvimento da economia portuguesa e melhoria das condições de vida dos portugueses. Eles e elas debatem de forma vazia de conteúdo, mas carregada de retórica. Falam muito sem dizer nada e são incapazes de fazer.

O triste espetáculo que os vários ‘casos’ que o caso TAP nos proporciona à volta dos ministros socialistas, que se encaixam perfeitamente no perfil da normalização da estupidez e da incompetência, são atualmente a maior evidência que a democracia e o estado estão profundamente afetados. Foram invadidos por um conjunto de interesses, mesquinhos, sem escrúpulos e sem honra. Estes, do Partido Socialista, só não caem porque essa destruição contaminou de forma muito intensa o espetro político nacional. Este é sem dúvida o nó górdio que impede Portugal de evoluir.

Estamos cada vez mais no sistema do vale tudo… Salve-se quem puder.