Aumento de salários é inferior à inflação real

Alerta é do economista Eugénio Rosa que diz existir uma ‘campanha de manipulação da opinião pública’. Economista explica ao Nascer do SOL o seu ponto de vista através de dados reais.

Aumento de salários é inferior à inflação real

Convencer os portugueses de que os preços estão a diminuir e a economia a crescer é «uma das campanhas de manipulação da opinião pública». O aviso é do economista Eugénio Rosa que diz que para isso «distorcem-se dados e ocultam-se outros».

Para comprovar esta sua tese, Eugénio Rosa levou a cabo mais um estudo com dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), Eurostat e relatórios de empresas onde promete «dar um retrato verdadeiro da realidade».

Ora, olhando para os últimos dados do INE referentes a abril deste ano, a inflação média anual «continua a resistir a baixar, e a inflação média anual dos ‘produtos alimentares e bebidas não alcoólicas’ continua a aumentar». Por isso, o economista atira: «O efeito do IVA zero tem sido também, na prática, zero».

E explica: «Contrariamente à ideia que vários media fizeram passar junto da opinião pública, entre março e abril, a inflação media anual praticamente manteve-se igual (8,7% em março de 2023 e 8,6% em abril de 2023), e a inflação anual dos ‘produtos alimentares e bebidas não alcoólicas’ aumentou de 16% para 17,2%». Eugénio Rosa diz que «mesmo a inflação total anual não traduz, com verdade, a realidade», o que acontece porque, diz o INE, considera que a despesa com a alimentação representa apenas 21% da despesa total mensal de cada família.

«Se esta percentagem de 21% aumentar para 40%, que deve estar muito mais próxima daquela que a maioria das famílias gastam com a alimentação do seu orçamento familiar, a inflação atual anual de 8,6% subirá para um valor muito próximo dos 9,5%», explica ainda.

E dá outros dados lembrando que o Eurostat confirma a subida de preços em Portugal em abril e mostra mesmo uma aceleração entre janeiro de 2023 e abril de 2023 (+3,4%).

Questionado pelo Nascer do SOL sobre o porquê de dizer que os dados são manipulados, o economista explica que o gabinete de estatística calcula vários Índices Preços no Consumidor (IPC) total (inclui todas as classes de bens), ou seja, várias taxas de inflação. «Uma, é aquela que tem sido divulgada, compara os preços de um mês de um ano com os preços do mesmo mês do ano anterior. É a chamada ‘inflação’ homóloga. Esta ‘inflação’ não é tecnicamente consistente nem é correto utilizar, porque dependendo dos preços de um único mês e por isso  é muito influenciada por fenómenos sazonais de um mês, pode aumentar ou diminuir muito devido a fatores sazonais (clima, melhor abastecimento), e não é utilizada para atualizar salários e pensões ou para calcular a sua perda de poder de compra», defende.

Na sua opinião, o que é tecnicamente correto utilizar é a inflação anual em que comparar inflação anual de um ano  com a do ano anterior. «Ou seja, por exemplo,  comparo a média dos preços dos últimos 12 meses a contar para trás a partir de abril de 2023 com a média dos preços dos últimos 12 meses para trás a partir de abril de 2022, e depois calculo quanto aumentou ou diminuiu», explica. E se fizer este cálculo o resultado da queda de preços «é muito reduzido no nosso país». Eugénio Rosa explica os dados: Segundo o INE, este ano a inflação anual (variação anual dos preços) variou desta forma: janeiro: +8,24; fevereiro: +8,58%; março:+ 8,74%; e abril: +8,60%. «Como se vê a tendência de baixa verificada em abril é muito reduzida, e nos meses anteriores até se registou uma subida embora também muito pequena. Mas está longe da grande tendência de baixa que o Governo tem procurado convencer a opinião pública».

Mas este não é o único fator que leva o economista a dizer que existe manipulação de preços. «O INE para calcular a inflação (aumento do IPC) considera que as famílias portuguesas gastam apenas 21% do seu orçamenta familiar com ‘produtos alimentares e bebidas não alcoólicas’, mas isso não é verdade. Para muitas famílias, nomeadamente de rendimentos mais baixos, há estudos que mostram que a percentagem atual não é apenas 21%, mas sim 40%». E, para essas famílias, como a inflação anual dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, segundo o INE, aumentou em abril para  +17,24%. «Isto determina que para estas famílias a taxa de inflação anual seja em abril +9,6% e não os 8,6% referidos anteriores», defendendo ser necessário que o INE fizesse um inquérito às famílias portuguesas para saber com verdade como elas gastam o seu rendimento mensal, «mas já o não faz há vários anos». E conclui: «E é desta forma também que se manipula a opinião pública tentando convencê-la de uma realidade imaginária e fazendo aumentos de salários e pensões muito inferiores à inflação real».