Bom senso, precisa-se!

Feito o introito, alguém me explica a irrazoabilidade destas proibições governamentais de venda de tabaco em bombas de gasolina, cafés e restaurantes, com o argumento de que não se pode fumar no local? Ou até da proibição de fumar em esplanadas? RAP (Ricardo Araújo Pereira) já glosou com a situação, com a sua implacável inteligência,…

1. Sendo filho de pais fumadores, desde muito jovem convivi com o tabaco, inalando o fumo dos outros, jamais sem fumar. Por isso, a minha relação com os fumadores é de plena tolerância, sempre chamando a atenção para os malefícios do mesmo, dando como exemplo certo a minha Mãe, vítima de cancro do pulmão.

Feito o introito, alguém me explica a irrazoabilidade destas proibições governamentais de venda de tabaco em bombas de gasolina, cafés e restaurantes, com o argumento de que não se pode fumar no local? Ou até da proibição de fumar em esplanadas? RAP (Ricardo Araújo Pereira) já glosou com a situação, com a sua implacável inteligência, pelo que tudo o que eu possa dizer neste aspeto ficaria redundante. 

Mas este episódio caricato é mais uma prova da autocracia do Governo, ao seu habitual estilo de ‘quero, posso e mando’, tão característico de António Costa, ao invés de persistir em medidas didáticas e dissuasoras. O combate ao tabagismo tem de ser feito de forma inteligente, sendo sobretudo um trabalho de educação dos jovens para se consciencializarem da estupidez que o ato de fumar representa, dados os malefícios que, com elevadíssima probabilidade, causarão no futuro. Os adultos, esses, têm perfeita consciência do erro que cometem e uma larga maioria desespera por corrigir o hábito enraizado em décadas, quantas vezes sem conseguir. 

E agora? Quando perceber que esta medida de tão absurda terá resultados eleitorais, nem que seja porque a oposição a irá eleger como uma medida rapidamente a corrigir, o Governo apressadamente irá alterar a legislação publicada, com uma argumentação qualquer, tão estapafúrdia quanto a medida inicial bem reveladora de uma incrível falta de bom senso, ficando este episódio como mais um para a história das deliberações anedóticas. 

 

2. Sobre a Lei da Eutanásia, há anos que tudo já foi dito sobre esta matéria que nada tem a ver com política, mas com Direitos Humanos e convicções pessoais, para muitos também religiosas. No entanto, vimos a mesma ser aprovada por políticos que enfermam de ideologias de base radical (incluindo os liberais), aproveitando esta circunstancial maioria parlamentar de esquerda para obrigar o Presidente Marcelo a promulgá-la, pese embora todas as dúvidas constitucionais que legitimamente suscitou.

Vamos ser claros: as campanhas eleitorais para as legislativas discutiram publicamente o assunto? Foi bandeira do PS, IL, Livre, PAN ou Bloco, ou este tema ficou escondido em letras pequeninas nos programas eleitorais? Alguém acredita que este tema tenha pesado na opção de voto de mais de 90% dos eleitores? Obviamente que não e, se alguém sabe isso, são os próprios partidos que agora vêm proclamar que foram mandatados por vontade popular para aprovarem estas leis fraturantes, rejeitando qualquer referendo. 

No entanto, para os propalados defensores desta Lei, algo correu francamente mal, quando o Papa Francisco veio lamentar publicamente que «em tempos de Fátima, o Parlamento português tenha aprovado uma lei para matar». O mote ficou dado para a Igreja Católica entrar nesta batalha e a partir daqui nada será como dantes. Será tema de próximas campanhas, bandeira de políticos e religiosos. Apenas uma pergunta: acreditam que o PS de Mário Soares, Sampaio e/ou Guterres teria tamanha falta de bom senso, cometendo erro tão crasso?

 

3. A necessidade aguça o engenho! Não tenho outra maneira de definir o disparate em que consiste a decisão do SNS (com o apoio do Ministério da Saúde) de que os partos ‘normais’ sejam feitos por enfermeiros e apenas os difíceis pelos médicos. Para começar: quem define se o parto é ‘fácil ou difícil’? Só pode ser um médico, digo eu… Ou vão deixar uma decisão desta responsabilidade na mão de pessoas sem conhecimentos suficientes, algures numa triagem de Manchester ou na própria futura Mãe?

Novamente entra aqui a minha experiência pessoal, vítima de um parto difícil em que as enfermeiras que assistiram o meu parto deram o máximo que sabiam (e não sabiam), mas, ao não ser feita uma cesariana, as sequelas ficaram para a vida, como me confirmou um neurologista. Qual a surpresa de que casos como o meu se repitam com inusitada frequência a partir daqui? Haja bom senso, por favor! 

 

4. Vamos ainda a meio dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP, agora apimentada com as audições do ministro Galamba, do seu ex-adjunto Pinheiro e de mais uns quantos intervenientes nesta estória que, mais do que envergonhar o Governo, envergonha o país por constatar o nível atual de alguns dos seus dirigentes. 

No entanto, se alguém nesta sucessão de acontecimentos merece a medalha de ouro atribuída a faltas de bom senso é António Costa. Podendo demitir o seu ministro Galamba depois das tristes cenas no Ministério das Infraestruturas, decidiu, por razões incompreensíveis, afrontar o Presidente Marcelo e, ao não o demitir, como o mais elementar bom senso impunha, sujeitou-se às consequências. Viu o seu ministro ser zurzido logo a seguir pelo Presidente em discurso duríssimo e, como se isso não bastasse, a sua palavra foi colocada em causa ao classificar precipitadamente como ‘roubo’ o desaparecimento do computador, facto que comprovadamente não sucedeu.

A ‘cereja no topo do bolo’ para desgraça de Costa começa agora a surgir com múltiplas questões sobre a intervenção do SIS na recuperação do computador, surgindo dúvidas pertinentes sobre a legalidade da sua atuação, e agora também acusações concretas suscitadas por Pinheiro alegando indiscutíveis ameaças (ainda por comprovar ao escrever estas linhas). Ou seja, creio que Costa jamais imaginou que a decisão de manter Galamba, ao arrepio do mais elementar bom senso, tivesse custos tão elevados, quer para o Governo quer para a sua pessoa. 

 

P.S. – Mas nem tudo está a correr mal para Costa que viu o Presidente Marcelo no seu recente discurso no Parlamento Europeu dar-lhe um ‘empurrão’ para as suas ambições europeias…