Sporting – Benfica. Alvalade não é para festas

O dérbi de Alvalade foi um grande jogo, o empate é que não agradou a ninguém. O Sporting perdeu definitivamente a possibilidade de chegar ao terceiro lugar e o Benfica ainda não foi desta que festejou o título em casa do rival.

Por João Sena

Estamos perto de conhecer o campeão nacional 2022/23. O Benfica chegou a ter uma vantagem de dez pontos sobre o FC Porto, mas à medida que o campeonato avançava o avanço diminuía. A festa que chegou a parecer uma inevitabilidade tornou-se uma incógnita, uma vez que os azuis e brancos estão a dois pontos e falta disputar uma jornada. O Benfica falhou o primeiro match point para ser campeão.

No sábado, a partir das 18 horas, começam as decisões quando o Benfica receber o despromovido Santa Clara e o FC Porto defrontar o europeu Vitória de Guimarães. A menos que haja um milagre no Dragão e os azuis e brancos vençam por 12 golos de diferença, ao Benfica basta um empate para celebrar o “38”, ou seja, se o jogo terminar como começa (0-0), o Benfica é campeão. No caso de as duas equipas terminarem empatadas em número de pontos (85) e na diferença de golos marcados e sofridos aplica-se o quarto critério de desempate que é o maior número de vitórias em toda a competição e aí ganha o Benfica. 

A partida de Alvalade teve emoção e fases bem distintas: na primeira parte o Sporting esmagou o Benfica, no segundo tempo inverteram-se os papéis e os encarnados dominaram e chegaram ao empate. Em minutos, a alegria e frustração passou de um lado para o outro da Segunda Circular. 

Não é fácil encontrar um dérbi onde uma equipa ganha uma vantagem de dois golos em apenas 45 minutos e a outra anula essa vantagem nos segundo 45 minutos. Temos de recuar 61 anos para o Sporting deixar fugir uma vantagem de dois golos frente ao rival, também esse jogo acabou empatado (3-3). Uma coisa é certa, o Sporting evitou que o Benfica fosse campeão no seu estádio e poupou o coração dos adeptos: “Ninguém queria isso”, afirmou Rúben Amorim. Estaria a mentir se dissesse que isso não estava na cabeça dos jogadores”, disse o treinador. Roger Schmidt passou ao lado da eterna rivalidade, o seu foco é outro: “Há uma grande motivação para sermos campeões. Ganhar o campeonato em casa pode ser fantástico”.

Demonstração de força Na primeira parte o Sporting foi muito melhor a nível coletivo e individual. Foi sólido na defesa, a inoperância do ataque adversário também ajudou, foi sempre mais rápido a ganhar a bola e, além dos golos de Trincão e Diomande, criou outras ocasiões para marcar. Rúben Amorim foi mais inteligente a abordar o jogo. Até parecia que era o Sporting que lutava pelo título ao conseguir 63% de posse de bola e cinco remates enquadrados, o Benfica não teve nenhum, o resultado ao intervalo (2-0) era simpático para os da Luz. A equipa de Roger Schmidt fez, porventura, a pior primeira parte da época, onde não se viu um rasgo de futebol – não é a jogar apenas 45 minutos que chega ao título. Nos encarnados nada funcionou e limitaram-se a ver o Sporting jogar. Isso só aconteceu pela teimosia do treinador em manter Aursnes a defesa direito quando tinha Bah e Gilberto no banco, e depois por uma má leitura de jogo ao querer pressionar alto quando os jogadores do meio-campo (João Neves e Chiquinho) não seguravam uma bola. A opção Aursnes a lateral direito pode resultar frente a equipas como o Estoril e Portimonense, mas quando o falso lateral apanha pela frente um endiabrado Nuno Santos, bem apoiado por Morita, percebe-se que esse não é o seu lugar.

Rúben Amorim também sabia isso e foi por aí que o Sporting carregou durante 45 minutos para mal do norueguês. Ou seja, o Benfica perdeu um elemento fundamental no meio-campo e nas alas e não ganhou um bom defesa direito. 

O futebol praticado foi lento e previsível, com o meio-campo a ver a banda a passar, e o Sporting a jogar como queria. Com Gonçalo Ramos ‘ausente’ do jogo, foi o pequeno Rafa a ganhar uma bola de cabeça à defesa do Sporting. Estava tudo trocado nas águias. 

Entrada fortíssima O Benfica respondeu à excelente primeira parte do Sporting com uma exibição de grande nível, que surpreendeu muita gente tal a apatia demonstrada até então, no segundo tempo. Essa reação foi uma consequência da falta dela no primeiro tempo. A entrada no jogo foi muito semelhante ao que aconteceu frente ao FC Porto, na Luz, e que acabou com uma derrota clara. A abordagem do Benfica aos jogos mais importantes (Sporting, FC Porto e Braga) tem sido deficiente, por essa razão só venceu no Dragão.

Roger Schmidt percebeu o que se passou no relvado e mexeu na equipa. Bah entrou para defesa direito e Aursnes foi para o lugar de João Mário, que teve mais um jogo para esquecer. Foi com esta troca que o treinador alemão salvou o jogo, pois a dinâmica da equipa mudou por completo, passou a ter mais bola, sabe-se que o Benfica joga bem quando tem a bola em seu poder, empurrou o Sporting para trás e equilibrou as contas do dérbi, que acabou com números mais aproximados na posse de bola (52% contra 48%). Com Aursnes na sua posição natural a equipa começou a jogar futebol, o que não tinha acontecido até aí, e o norueguês ainda marcou o primeiro golo, o segundo foi de João Neves, já nos descontos, e teve grande contestação dos jogadores do Sporting, nomeadamente do capitão Coates, por fora de jogo e falta de Florentino no início da jogada. 

Já Ruben Amorim não foi tão feliz com as substituições. Mesmo com jogadores frescos o Sporting foi baixando o ritmo de jogo e perdeu o controlo do meio-campo. “O empate tem sabor a derrota porque queríamos ganhar, mesmo com o Benfica em crescendo na segunda parte acho que fomos melhores e merecíamos vencer. Este jogo foi o reflexo da época, com altos e baixos, ainda não conseguimos manter um ritmo bom durante todo o jogo”, afirmou. Quanto ao futuro, o treinador do Sporting foi claro: “Quero continuar, mas coloco o meu futuro nas mãos do presidente. Vou começar com margem mínima e, obviamente, estarei mais fragilizado na próxima época”, admitiu.

O treinador do Benfica esperava um jogo difícil e reconheceu que “na primeira parte o Sporting jogou muito bem e nós não jogámos ao nosso nível, o resultado ao intervalo era normal. Na segunda parte foi tudo diferente, quisemos voltar ao jogo, fomos mais intensos, atacámos mais e melhor. Não somos máquinas, somos seres humanos e temos de trabalhar arduamente para conquistar o que queremos, estou muito feliz pela forma como os jogadores conseguiram mudar o jogo. Ao intervalo disse que tínhamos de mudar totalmente de atitude, fazer mais pressão e ganhar duelos”, disse Schmidt, que frisou ainda que “não perder este jogo foi muito importante para a autoconfiança e para a preparação para o próximo jogo”.