Paulina Chizane: temos que desafricanizar África?

É altura de dizer que estamos cansados de nos quererem obrigar a odiar o que fundou o Ocidente, como os grandes valores, as grandes obras e os grandes homens.

por João Maurício Brás

A escritora moçambicana Paulina Chiziane recebeu o prémio Camões e presenteou-nos com a ideia de que a língua portuguesa deve ser filtrada, submetida a censura e purificada, pois precisa de «tratamento, limpeza, descolonização». Os políticos e a cultura não se incomodaram ou protestaram até aplaudiram. Estamos ‘mortos’, podem dizer e fazer-nos tudo, mas não devemos ser politicamente cobardes e submissos, temos a obrigação de defender sempre a liberdade e a cultura. São as Chizanes e os seus emuladores que querem purificar os livros de Ian Fleming e produzir filmes do 007 sem o 007, que reescrevem os livros de Enid Blyton, de Agatha Christie e de Roald Dahl, que querem proibir filósofos como Platão e Kant em escolas europeias porque são demasiado brancos e acusam Aristóteles de ter criado o racismo científico. É este gente que quer as história da Branca de Neve sem os anões porque é discriminatório, e impedir o beijo do príncipe porque é sem consentimento. Esta gente é perigosa, fazem lembrar o pior do fascismo, a mentalidade totalitária que quer um mundo purificado com uma linguagem uniformizada, onde ideias, palavras e pensamento podem ser proibidos e ou apagados. É gente desta que inspiram os algozes do pensamento totalitário da cultura do cancelamento e do pensamento único. Tratam-nos como criminosos que devemos viver com uma culpa que não temos e como imbecis destituídos de pensamento crítico, que não percebemos que o passado é diferente do presente e por isso nos deve ser fornecido o que e como podemos pensar e dizer. Rescrever os livros para lhes alterar o sentido, derrubar estátuas, desenterrar mortos com séculos e julgá-los em praça pública, punir por delito de opinião e pensamento, proibir palavras está a atingir um grau que nem o nazismo e o comunismo ousaram.

Esta gente parece odiar-nos e quer que odiemos a nossa história. A história não é apenas uma utopia de bondade, Não devemos apagar ou corrigir as versões do passado, devemos orgulhar-nos do que nos distinguiu para também saber ser crítico com o que não se deve repetir, sabendo que é hipocrisia julgar o passado com as lentes do presente. Criticar essa gente, eles sim fascistas é logo envolvido no truque típico do progressismo, só há uma versão do bem, a deles, pensar e ser crítico, cairá logo sobre o espetro do racismo, da homofobia, do sexismo, etc.. Ora, isto nada tem a ver com o valor e dignidade de todos os povos, mas com visões fascizantes.

É altura de dizer que estamos cansados de nos quererem obrigar a odiar o que fundou o Ocidente, como os grandes valores, as grandes obras e os grandes homens.

As feministas do ódio impuseram a desmasculinização das palavras, agora premiamos a descolonização da língua, seja lá o que isso signifique. Apetece perguntar quem é o Camões e o Pessoa do dialeto shona,swali ou zulu? Não se trata de superioridade, mas também não é inferioridade, cada cultura tem a sua história. Não tenho que odiar a minha cultura e história.

Se eu fosse uma Paulina diria que temos de desafricanizar África. Chega de guerras étnicas, de morticínios, de tanta corrupção, de cleptocracias e ditaduras, de gente a morrer à fome e com doenças já extintas no ocidente, afinal não querem quase todos fugir para a terra do colonizadores?

Moçambique é dos países no mundo com a maior taxa de casamentos infantis de meninas (48%) e mutilação genital infantil, dados da ONU… Será uma herança colonial?