Steven Zhang, o jovem que veio da China para revolucionar o Inter

Nas mãos de Zhang, o Inter já conquistou quatro troféus, incluindo o título de campeão da série A. As aventuras de um multimilionário chinês num clube de futebol italiano.

Quando assumiu as rédeas do Football Club Internazionale Milano, em 2016, Steven Zhang tinha apenas 27 anos, o que fazia dele o mais jovem presidente de sempre do histórico emblema italiano. Na altura, a equipa milanesa atravessava um período de estagnação. Passados sete anos, o clube já somou quatro novos troféus e tornou-se uma presença assídua nas competições europeias. Dia 10 de junho, pelas 20h00, vai medir forças em Istambul com aquela que muitos consideram ser a melhor equipa do mundo, o Manchester City de Guardiola, para decidir o destino do troféu mais apetecido do futebol europeu, a Liga dos Campeões.

Mas quem é o jovem chinês e por que decidiu investir no clube italiano? O que havia de tão atrativo no futebol para o multimilionário entrar na aventura de ser dirigente desportivo?

Foi em junho de 2016 que a gigante chinesa Suning de Zhang Jindong adquiriu a maioria da sociedade do Inter por 270 milhões de euros. Por essa altura, Steven Zhang, filho do dono da Suning, entrou para a administração do clube, ascendendo, logo em outubro, à posição de presidente.

Não foi fácil para o novo número 1 do clube conseguir resgatar um clube que se encontrava num período de estagnação e com dificuldades em adaptar-se a um futebol em rápida mudança.

Para mostrar até que ponto abraçou a cultura dos nerazzurri, o empresário chinês mandou pintar o seu Pagani Huayra, um carro de um milhão de euros, com as cores do clube e passou a olhar para o futebol italiano como uma religião. Esforçou-se para analisar o problema de todos os ângulos, tentando perceber como o clube era visto pelos adeptos e pelos media.

De Nanjing a Milão

Foi na década de 90 que os irmãos Zhang Jindong e Zhang Guipi fundaram o seu primeiro negócio, uma loja de eletrodomésticos. Mais tarde, expandiram-se para novos mercados, como o imobiliário, tendo criado a Suning Real Estate. Em menos de duas décadas a Suning.com tornou-se uma marca conhecida por toda a China. O grupo, que também está presente no Japão, chegou a possuir mais de 1600 lojas em mais de 700 cidades da China. Atualmente, segundo a lista da Forbes 2021, Zhang tem uma fortuna estimada em 7,4 mil milhões de dólares (aproximadamente 7 mil milhões de euros), ocupando o 339.º lugar no ranking dos mais ricos.

A educação do seu filho mais velho, Steven Zhang, nascido a 21 de dezembro de 1991 em Nanjing, passou sempre por escolas internacionais, o que viria a revelar-se uma mais-valia. Steven licenciou-se em Economia na Escola de Negócios de Wharton da Universidade da Pensilvânia. Numa fase inicial da sua carreira trabalhou como analista da Morgan Stanley, uma empresa americana ligada ao setor financeiro, mas não passou de um período de preparação para assumir o seu lugar, ainda muito jovem, na Suning Holding Group.

Ao dar-se uma olhada pelas redes sociais do multimilionário vê-se que é apaixonado por velocidade (é habitual participar em corridas com os seus amigos) e por moda. Contudo, há uma paixão que Steven Zhang coloca acima de todas as outras: o Inter. Numa entrevista à Consumer News and Business Channel (CNBC) no âmbito da sua ascensão à presidência do clube, o empresário declarou: «O futebol na Europa é como uma religião. As pessoas são malucas por aquilo. Logo, a Suning, como uma empresa de consumo, investiu num clube de futebol e espera que este acabe por se tornar uma porta que abra culturas, abra trocas e abra experiências». Relativamente ao estado do clube aquando da sua entrada, assumiu: «Futebol é futebol. Tem sempre os seus altos e baixos. Não se consegue mudar uma empresa ou um clube num curto período de tempo». Curiosamente, foi precisamente isso que fez.

De volta ao topo

Em 2021, o Inter conseguiu alcançar o primeiro lugar da tabela na Série A, algo que já não acontecia há 11 anos. Zhang afirmou que os investimentos feitos no clube são «a longo prazo», porém não foi preciso esperar muito para obter resultados. «O futuro é claro como a água desde que assumimos o comando do clube», disse numa entrevista à Reuters, em 2021. Além deste título, o dirigente conseguiu novos patrocínios para a equipa de Milão, como foi o caso da plataforma DigitalBits, uma empresa ligada às criptomoedas. Só que a plataforma acabou por não conseguir fazer o pagamento acordado de 24 milhões de euros), devido à instabilidade do mercado, o que levou o Inter a cancelar o contrato.

Entretanto, o clube de Milão conseguiu atrair jogadores de calibre mundial para o seu plantel, nomes como Lautaro Martínez (80 milhões), campeão mundial pela seleção da Argentina, o médio centro e internacional italiano Nicolò Barella (70 milhões) e Alessadro Bastoni (55 milhões). Para tentar competir com outros colossos europeus que possuem investidores do Médio Oriente e dos EUA, o empresário chinês tem vindo a fechar acordos com bancos e empresas de forma a assegurar o capital financeiro do Inter. Em 2022 a Suning conseguiu garantir um financiamento de 275 milhões de euros da Oaktre Capital Management. Mas pode não ser suficiente, uma vez que no ano fiscal de 2021/22 a equipa italiana apresentou perdas na ordem dos 245,6 milhões de euros e espera-se que este ano a situação seja semelhante. E nem mesmo o estatuto de finalista da Liga dos Campeões, com o respetivo encaixe de 80 milhões de euros no somatório da prova, vale de muito. Caso não consiga pagar o empréstimo que contraiu, o empresário chinês poderá ver-se forçado a vender o clube como forma de saldar as dívidas.

Ao longo da primeira metade de 2023 têm sido vários os investidores e grupos à procura de um acordo para a compra do clube. De acordo com o Il Giornale existem investidores americanos interessados em comprar este emblema histórico do Calcio. Mas Zhang mantém que o Inter não está à venda. l

* Editado por José Cabrita Saraiva