Maioria silenciosa

O excesso de impreparação e incompetência que assola, na generalidade, os partidos políticos tem sido a causa primeira da confusão instalada entre o acessório e o esencial.

Em Portugal o conceito da ‘maioria silenciosa’ parece perdurar ao longo das últimas décadas. Oriundo dos tempos excessivamente revolucionários dos anos 70, dominados pela esquerda extremista, agressiva, violenta, ávida e profundamente desrespeitadora do civismo, do mérito e da propriedade privada, o conceito da maioria silenciosa comtemplou de facto a atitude da maioria dos portugueses que de forma recatada não participavam no desvairo instalado que grande prejuízo trouxe à sociedade e à economia portuguesa. Enquanto os extremistas ocupavam as ruas com manifestações, barricadas e outras formas de pressão e chantagem, a maioria dos portugueses estava essencialmente preocupada com a instabilidade, o desnorte e a falta de desígnio. Por um misto de precaução, medo e forma de estar pacifica, não se manifestavam e por isso pareciam não existir. Foi essencialmente essa maioria silenciosa que deu vitória expressiva à Aliança Democrática, liderada por Francisco Sá Carneiro, nas eleições de 1979 e 1980, terminando de forma enérgica com a ideia de um país sem rumo, ao sabor das manifestações, barricadas e outras formas de chantagem sobre o civismo, sobre o mérito, e sobre as liberdades essenciais da iniciativa privada.

As fabulosas conquistas alcançadas no dia 25 de Abril de 1974, foram, nesse tempo, rapidamente substituídas pelo desrespeito pela pessoa e pelas regras base do civismo. A descolonização selvática constitui um dos períodos mais trágicos da história portuguesa tendo sido consequência direta daquele comportamento, que à luz das liberdades por essa esquerda extremista reclamadas, tiveram como consequência exatamente o contrário. Colocaram em risco de vida milhares de famílias que na sua quase totalidade, perderam o seu património acumulado por décadas de trabalho.

A falta de capacidade que os extremistas têm em entender e respeitar a liberdade e o espaço dos outros é a razão pela qual o seu habitual ruído, que os torna supostamente centrais e dominantes, é extremamente perigoso para o equilíbrio social que as maiorias silenciosas consideram estar na essência do progresso, do equilíbrio e, em última instância, dos índices de felicidade que a espécie humana ambiciona. Se ao tempo a maioria silenciosa encontrou na Aliança Democrática, líderes e projeto, atualmente a maioria silenciosa encontra-se desprovida de guarida e projeto, ao ponto das vozes extremistas até, por vezes, lhe servirem de plataforma de protesto.

Portugal necessita aumentar o nível de exigência. A forma displicente como os princípios do civismo e da meritocracia têm sido substituídos por discursos básicos e estéreis à volta dos temas do clima, das igualdades de género e de umas liberdades individuais muito pouco humanistas, cívicas ou meritocráticas tem prejudicado a nossa evolução coletiva. O excesso de impreparação e incompetência que assola, na generalidade, os partidos políticos tem sido a causa primeira da confusão instalada entre o acessório e o essencial. Temos vindo a perder o pensamento e o trabalho necessários na construção dos temas essencialmente estruturantes do bem-estar e da qualidade de vida.

Enquanto isso são os extremos que aparecem como aparentemente competentes na sua missão e a maioria silenciosa sem domicílio, e saturada, silenciosa se mantém.