Erdogan entronizado como líder que transformou a Turquia

Recep Teyyep Erdogan foi reeleito presidente turco com 52% dos votos no ano em que a república turca celebra o seu centenário.

por Imran Mhomed 

Com mais uma vitória no bolso, Erdogan alarga para mais de duas décadas o seu predomínio na cena política turca. Quando terminar o mandato, em 2028, será o líder que mais tempo passou no palácio presidencial. "Mesmo que todos os resultados que ainda não foram inseridos no sistema vão para um candidato presidencial, os resultados não serão alterados", disse.

Na sequência de uma das eleições mais disputadas em que participou, Erdogan terá uma mão ainda mais forte tanto no plano doméstico como internacional. Os resultados das eleições terão implicações muito além de Ancara. A Turquia está na encruzilhada da Europa e da Ásia e desempenha um papel fundamental na NATO – é o segundo maior contingente militar da Aliança.

Nos seus primeiros comentários, Erdogan falou com a sua falange de apoiantes à porta da sua casa em Istambul.

"Agradeço a cada membro de nossa nação por confiar-me a responsabilidade de governar este país mais uma vez, pelos próximos cinco anos", disse ele. "Esperamos ser dignos da vossa confiança, como o temos feito há 21 anos." E acrescentou: "o único vencedor hoje é a Turquia." Erdogan prometeu trabalho, trabalho e trabalho para o segundo século da Turquia. "Ninguém pode menosprezar a nossa nação", proclamou.

Erdogan foi aplaudido durante a sua primeira década como um líder único, por transformar a Turquia numa história de sucesso económico e político. Mas nos últimos 10 anos ele enfrentou críticas crescentes – dentro e fora de portas– por reprimir a dissidência e adotar regras e leis típicas de regimes autocráticos.

Outrora um “actor” sem importância para os países em desenvolvimento, a Turquia voltou ao mapa mundo, sob a liderança de Erdogan.

A luta árdua que está a travar no plano económico e financeiro contra a alta inflação, deixa as suas políticas na mira dos opositores, que descreem do curso atual do país. 

Os aliados de Ancara nesta guerra financeira são, e serão, os países do Golfo.

As relações com o Qatar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Omã e Bahrain estão para durar e Erdogan é visto, inclusive, como um exemplo a ser seguido nos países do Golfo.

No plano internacional, o governo de Erdogan vetou a adesão da Suécia à NATO e comprou sistemas de defesa antimíssil russos, para ira dos falcões em Washington, que já apontaram para a porta da saída se a Turquia não se comportar como “aliado”. A flexibilidade diplomática de Ancara, ao serviço de uma declarada estratégia de afirmação regional, ajudou a intermediar um acordo nos cereais, crucial para evitar uma crise global de alimentos.

No plano interno, tem transformado radicalmente o país. Construiu um dos maiores aeroportos do mundo, o turismo galopa, os níveis de segurança são elevados e a indústria do país rejuvenesce. O investimento externo é cada vez maior, há bairros onde só se fala inglês, ou árabe ou russo. Agora há uma gigantesca tarefa de reconstrução de províncias inteiras afetadas pelo grande terramoto desde ano, uma das prioridades entre prioridades de Erdogan.

O homem de origens humildes, que jogou futebol e vendeu limonadas nas ruas de Istambul, é muito criticado no Ocidente pela sua “deriva” islâmica conservadora. Em si mesmo, ser religioso muçulmano ou islâmico é um sinal de segurança, de respeito e devoção. Segurança para as pessoas, respeito pelas crenças de cada um e devoção em servir melhor o seu povo.

A minha vida profissional tem-me dado o privilegio de conhecer o país. Na Turquia, ninguém é condenado por servir ou consumir bebidas alcoólicas; as mulheres são livres de usar ou não usar o véu. Há liberdade de expressão. Ninguém é obrigado a converter-se ao islão para visitar a Turquia muito menos para conhecer o magnifico povo turco.

A Turquia não é um modelo de democracia perfeita aos olhos ocidentais. Mas isso não legitima a avalanche de críticas que são, também elas, um sinal de intolerância religiosa de certos setores de opinião.

Erdogan deverá ficar para a história como o líder que reinventou a Turquia.

Podem os nossos líderes ambicionar o mesmo lugar nas suas nações? Garantirá Biden um lugar na história americana como reformador ou transformador? Ou Olaf Scholz na Alemanha? Ou Rishi Sunak no Reino Unido? Macron?

Como se diz na gíria futebolística, Erdogan “não marca golos ao intervalo”

Sem PRR’s, e já sem as eternas promessas de adesão ao clube Europeu, Erdogan fez aeroportos e ferrovias, portos e cidades. E nós, com o dedo sempre apontado aos outros, aos seus inquestionáveis defeitos, o que fizemos para desenvolver Portugal para melhor? A resposta, não nos deixa tranquilos.