Boaventura de Sousa Santos: “não deixarei nunca de defender a dignidade e a integridade que fui construindo”

Sociólogo conta que nasceu em 1940 e que é de uma geração “em que comportamentos inapropriados, se não mesmo machistas, quer se trate da convivência ou da linguagem, eram aceites pela sociedade”. 

Boaventura de Sousa Santos diz assumir o compromisso de ser cada vez mais vigilante, no sentido de evitar "mal estar ou opressão", na sequência das acusações de assédio sexual.  

Num artigo de opinião publicado no Expresso, o sociólogo conta que nasceu em 1940 e que é de uma geração “em que comportamentos inapropriados, se não mesmo machistas, quer se trate da convivência ou da linguagem, eram aceites pela sociedade". 

"Não é sempre fácil perceber conscientemente que se está a ter comportamentos que antigamente não eram vistos como inapropriados. Não se trata de justificar comportamentos passados, apenas de verificar algo que pode acontecer e redundar em ações pouco construtivas. Reconheço que em determinados momentos posso ter sido protagonista de alguns desses comportamentos. Nessa medida, lamento que algumas pessoas possam ter sofrido ou sentido desconforto e por isso lhes devo uma retratação", escreveu ainda.  

“Este meu reconhecimento de modo algum implica que eu assuma a prática de atos graves que me têm vindo a ser imputados e não deixarei nunca de defender a dignidade e a integridade que fui construindo ao longo de mais de 50 anos de esforço e dedicação", continua Boaventura de Sousa Santos, acrescentando que não poderá "senão continuar a dedicar todos os esforços, para aprofundar a promoção de uma cultura institucional e interpessoal de prevenção, deteção, condenação e eliminação de comportamentos machistas nas suas mais diversas manifestações". 

"Os intelectuais que, como eu, reconheceram há muito que uma das dimensões da dominação nas sociedades contemporâneas é o heteropatriarcado, têm uma obrigação especial de vigilância, não só epistemológica como também prática, emocional e interpessoal, de não cair em contradição entre o que defendem teoricamente e as suas atuações concretas nas relações interpessoais e institucionais", escreve o também investigador. 

Boaventura Santos defende que, "enquanto a cultura feminista não estiver plenamente consolidada, deve ter-se presente que, na esmagadora maioria dos casos, as mulheres não têm encontrado instrumentos institucionais e comunicacionais adequados para apresentar as suas queixas, ver reconhecido o seu sofrimento injusto e obter a reparação que for considerada adequada".