Baixa fasquia para europeias cai mal no PSD

Sociais-democratas não gostaram de ouvir Luís Montenegro dizer que perder europeias por dois pontos não seria um mau resultado. Direção fala em ‘descontextualização’ maldosa.

Perder as próximas europeias, que se realizam apenas daqui a um ano, por uma pequena diferença não preocupa Luís Montengro. «O PSD perdeu as últimas eleições europeias [em 2019] por 12 pontos. Se o PSD ficar a dois ou três pontos acha que é um mau resultado? Eu não acho», afirmou Luís Montenegro em declarações à RTP1 na passada segunda-feira, numa entrevista de balanço do seu primeiro ano à frente do PSD – ganhou as diretas a 28 de maio do ano passado, tendo apenas sido entronizado líder a 3 de julho no Congresso do Porto.

Mas a premissa não agradou a quem no partido alimenta esperanças de ver o PSD reerguer-se. Fontes sociais-democratas ouvidas pelo Nascer do SOL denotam um «retrocesso brutal» na confiança que o líder do partido demonstrava ter há precisamente dois meses, aquando do seu périplo por vários países europeus com comunidades portuguesas, no âmbito da iniciativa Sentir Portugal. «Ninguém compreende que, a um ano de distância, já admita perder por poucochinho», comenta um parlamentar do PSD.

Em Genebra, na Suíça, a 28 de março, o líder do PSD chegou mesmo a traçar como meta ser o mais votado nas europeias. E, na altura, havia até consequências políticas claras para uma derrota eleitoral na Europa: «Farei o meu trabalho até à última gota de suor e de esforço que for capaz e responderei pelos resultados. Nunca estarei nos sítios onde as pessoas não desejam que eu esteja, eu não sou daqueles que perde e quer ainda assim governar à força, esse tipo de postura política não é para mim.»

A direção social-democrata contesta a tese de que há um recuo nas expectativas e prefere colocar em perspetiva as circunstâncias em que o partido se apresenta a este ato eleitoral. «O ponto de partida da eleição europeia para o PSD é o pior de sempre. Nas últimas eleições europeias o partido obteve o seu pior resultado histórico», recorda Hugo Soares, em declarações ao Nascer do SOL, acrescentando que «a recuperação que agora se coloca é muito acrescida».

O secretário-geral do PSD rejeita que haja uma mudança de discurso ou nos objetivos com que o partido se propôs a encarar as europeias. «O PSD tem a ambição clara e inequívoca de ganhar as próximas eleições europeias, com a consciência de que o ponto de partida é mau, mas muito confiante no seu projeto político para poder vencer essa eleição», argumenta.

Luís Montenegro foi eleito para um mandato de dois anos e deverá sujeitar-se a novo sufrágio interno após as eleições para o Parlamento Europeu agendadas para o início do mês de junho do próximo ano, o que faz deste um momento decisivo para a atual direção. 

 O facto de agora ter também sido cauteloso quanto às conclusões que irá tirar desses resultados também leva a crer, afirmam  fontes sociais-democratas ao Nascer do SOL, que «está com receio» de abandonar a liderança do partido em caso de uma derrota eleitoral.

Se em março deixou implícito que deixaria a presidência do partido, agora já não é linear que perder seja sinónimo de uma demissão. «Não vou dizer que o insucesso eleitoral das europeias conduz necessariamente à minha cessação de funções. Com certeza que não», esclareceu.

Amaro abandona PE em julho

A entrevista que não chegou sequer à meia-hora de duração, decorreu pouco mais de duas horas depois de Luís Montengro ter anunciado que o PSD retirara a confiança política ao deputado Joaquim Pinto Moreira, arguido na Operação Vórtex. A decisão surgiu na sequência de o deputado social-democrata ter requerido o regresso ao Parlamento à revelia da direção do partido.

O líder do PSD quis distinguir as dimensões individual e política para dar nota de que Pinto Moreira poderá continuar na bancada parlamentar, se for essa a sua vontade, mas deixará de «exteriorizar» a posição do partido.

Já sobre a Operação Tutti Frutti, na qual o deputado Carlos Eduardo Reis é um dos visados, Montenegro disse não conviver bem com «a dúvida da autenticidade do processo eleitoral», justificando a decisão de ter solicitado ao Conselho de Jurisdição do partido a abertura de uma investigação ao processo de escolha dos candidatos a Lisboa nas eleições autárquicas de 2017. E deixou também um recado aos socialistas: «O PS também deve aclarar a situação.»

As revelações feitas numa série de reportagens da TVI/CNN apontam para um alegado pacto entre o PSD e o PS para cada partido manter a liderança de determinadas juntas de freguesia da capital nas autárquicas de há seis anos. No centro das suspeitas estão ainda o presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton, o antigo deputado Sérgio Azevedo, e também o ministro das Finanças, Fernando Medina.

Houve apenas um caso que escapou na entrevista da RTP1 a Luís Montenegro. Tal como o Nascer do SOL avançou na semana passada, o eurodeputado do PSD, Álvaro Amaro, continua em funções apesar de ter anunciado a renúncia ao mandato no Parlamento Europeu (PE) no final de abril.

Entretanto, o social-democrata já esclareceu que estará em funções até 7 de julho devido a um relatório que tem em mãos, que será votado em meados de junho em Estrasburgo.

«Na sequência da minha decisão de renúncia ao mandato de deputado ao PE, foi hoje formalizada a renúncia que produz efeitos a partir do dia 7 de julho de 2023 tendo em conta as atividades parlamentares e o trabalho legislativo, de relevância direta para Portugal, que está sob a minha responsabilidade», detalhou Álvaro Amaro, numa declaração enviada à Lusa.

No PE, Álvaro Amaro integra a Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e a delegação à Assembleia Parlamentar Paritária (ACP-UE).

O eurodeputado social-democrata tinha anunciado em 28 de abril a decisão de renunciar ao mandato após ter sido condenado, pelo Tribunal da Guarda, a uma pena suspensa de três anos e meio, por prevaricação, sentença da qual anunciou a intenção de recorrer.

Carlos Coelho, o nome que se segue na lista de candidatos do PSD ao PE, terá que continuar a aguardar até julho pela efetivação da renúncia de Álvaro Amaro para regressar ao cargo de eurodeputado.