Porra, expliquem-me!… (2)

O projeto do Aeroporto de Beja tem sido objeto de uma inusitada evolução: passou de um desmesurado optimismo inicial quanto ao seu papel no desenvolvimento socioeconómico do Alentejo até ao desprezo patético e injustificado.

por António Maria Coelho de Carvalho
OCA reformado

No passado dia 6 de abril, ficámos a saber que, a 23 de Março, houve um encontro em Beja sobre o respectivo aeroporto, que juntou o embaixador da China em Portugal, o presidente da ANA, a secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, e a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, mas os ministérios recusaram revelar os motivos da visita, que quase passou despercebida porque os jornalistas não foram admitidos.

O presidente socialista da Câmara de Beja disse à TVI que o Governo não o avisou da visita ao concelho e o autarca do município de Cuba recusou o convite.

Segundo a ministra da Coesão, a visita foi organizada por um conjunto de empresários portugueses que convidaram um pequeno grupo de empresários chineses e o embaixador da China. A comitiva deslocou-se a «explorações  agrícolas» com «produção de energia», a projectos apoiados com fundos europeus e, depois, propiciou-se uma visita ao Aeroporto de Beja, para se perceber o seu potencial logístico, que não tem ‘slots’, ou seja, em que é mais fácil o movimento de aviões.

Questionada pela Lusa, Ana Abrunhosa afirmou que é conhecida há muito tempo por defender a ideia de que o Aeroporto de Beja «tem um enorme potencial de exploração».

Também em Abril, os jornais noticiaram que havia voos no aeroporto de Beja, sem controlo alfandegário por falta de pessoal, e um funcionário da alfândega de Faro confirmou, ao Público, que o caso de Beja ganhara relevância pelos casos de contrabando de estupefacientes que aconteceram no aeródromo de Tires.

O projeto do Aeroporto de Beja tem sido objeto de uma inusitada evolução: passou de um desmesurado optimismo inicial quanto ao seu papel no desenvolvimento socioeconómico do Alentejo até ao desprezo patético e injustificado. Tanto mais estranho se recordarmos que tudo aconteceu em governos socialistas, desde o de José Sócrates aos de António Costa. Mais do que estranho, é misterioso, se atendermos à confissão da ministra Ana Abrunhosa de que há muito defende o aproveitamento do Aeroporto de Beja porque «tem um enorme potencial de exploração».

Haja quem obrigue o Governo a explicar ao país por que razão aquela infra-estrutura foi liminarmente excluída do estudo de localização do novo aeroporto.

Que conclusões se podem tirar? Permitam-me dar as minhas: há demasiadas pessoas e entidades interessadas em construir um aeroporto em Portugal, não em benefício do país, mas no seu próprio interesse.

Só assim consigo entender que num pequeno país, cada vez mais pobre, com reconhecidas assimetrias regionais, sem dinheiro para pagar o que deve a professores e profissionais de Saúde, não se aproveite um aeroporto já operacional para melhorar a qualidade de vida da sua região mais carenciada.

Com o desenrolar da tragicomédia representada na CPI à TAP, o que mais me indigna é, recordando António Barreto, os nossos governantes não se sentirem obrigados a justificar as opções que tomam e a divulgar os seus resultados. Alguns dos maiores problemas do país estão nas mãos do mais garoto dos garotos que nos governam. A despudorada máquina de propaganda dos amigos de Sócrates já se apressou a apelidar o recente discurso de Cavaco Silva de «raivoso», «ignóbil», «odiento» e «antidemocrático», sinal que lhe fez mossa.

Sinto indignação pelo desgoverno, medo pela saúde e bem-estar dos portugueses, e esperança de poder ver o triunfo de governantes amigos da Verdade e de Portugal, numa melhorada Democracia.