Curto Prazismo

Estou convencido que enquanto não forem capazes de colocar o PSD num patamar distante do curto prazismo, dificilmente atingem aquilo pelo qual tanto trabalham: uma clara preferência por parte dos eleitores que procuram, nos políticos, menos conversa e mais trabalho de qualidade.

por Eduardo Baptista Correia

A mini curta metragem L’Altra Par com menos de 3 minutos e que aconselho a ver, de origem Egípcia e cujo realizador tem apenas 20 anos, foi premiada como a melhor curta metragem na última edição do Festival de Veneza. Retrata muito bem a forma maquilhada e imediatista como se pensa e atua no mundo atual.

Pessoalmente considero que a atuação para o imediatismo constitui um sinal de fragilidade na substância e uma atenuante na resolução dos desafios e problemas. É uma efetiva desculpa para que na realidade, o que exige estudo e trabalho, envolve competências técnicas de difícil domínio e que obriga a coerência rigorosa seja vilmente substituída por debates vazios. A não resolução das ilusões que a dita esquerda portuguesa criou como verdades supremas e que tanto prejudicam a capacidade dos portugueses terem vidas melhores num país que funciona mal, continuará a afundar as pretensões de desenvolvimento, inovação e qualidade de vida da economia.

Esse modo ligeiro e imediatista é particularmente preocupante quando contamina de forma intensa o modelo e a forma de pensar e operacionalizar o desenvolvimento económico e social da sociedade Portuguesa. Por inerência lógica é grave, perigoso, e indesculpável quando em causa está uma economia e uma sociedade que gradualmente se vem atrasando e que se encontra sistematicamente a demonstrar a incapacidade de resolução dos seus problemas crónicos. Considero-os crónicos porque os identifico de forma muito clara em origens especificas na década de 70 do século 20, mais propriamente 1974 e 1975, que em minha opinião, constituem a razão pela qual o país não acelera, preso por dogmas de uma dita esquerda que insiste em iludir e ludibriar o cidadão. Como o futuro e os desígnios estratégicos não fazem parte do pensamento nem lhes é dado espaço nem tempo, passámos a entretermo-nos com as agendas minoritárias e os casos de personagens que emergem deste modelo de imediatismo e incompetência de governantes desqualificados de competência e carregados de capacidade de mentir.

O poder da razão foi substituído pela razão do poder e esse modelo instalou-se.

O caso da TAP, que tem origem numa indeminização de €500.000 devia, nas agendas mediáticas e no que à TAP diz respeito, ser substituído pelo debate de como é possível (e é) transformar esta empresa problemática que se encontra mal gerida e moribunda e que, efetivamente, não contribui para uma boa imagem de Portugal, numa marca e numa empresa que contribuam para mostrar o que de melhor os portugueses são capazes de fazer.

Saber se os vários personagens, e já são vários, desta quase telenovela, dos quais o ator principal nestes últimos episódios, é o personagem Galamba, mentiram ou não mentiram, é indiscutivelmente relevante. Permitir que constitua o centro da agenda é cair no perigo e no ridículo do modelo de curto prazismo.

O eleitor entende muito bem este modelo, não se revê nele, e por isso não se emociona com propostas que não conseguem sair deste formato por não estar interessado em mudar as personagens mantendo a configuração.

Apelo daqui ao Luís Montenegro e ao Hugo Soares, respetivamente presidente e secretário-geral do PSD, para refletirem sobre esta matéria. Estou convencido que enquanto não forem capazes de colocar o PSD num patamar distante do curto prazismo, dificilmente atingem aquilo pelo qual tanto trabalham: uma clara preferência por parte dos eleitores que procuram, nos políticos, menos conversa e mais trabalho de qualidade.

Um abraço aos dois.