CGD com menos lucros em 2010

Desvalorização em bolsa de participações financeiras, como BCP, penalizam resultados do banco do Estado

a cgd – caixa geral de depósitos vai ser este ano menos rentável para os cofres do estado. o apoio que deu à economia portuguesa durante a crise de 2010 – que se reflecte numa diminuição da margem financeira – e, sobretudo, a desvalorização em bolsa de participações financeiras, como as do bcp, zon e edp, penalizaram as contas do banco do estado no ano passado, antecipando-se assim uma diminuição dos dividendos que vai entregar ao accionista.

as contas de 2010 ainda estão a ser fechadas e têm de ser auditadas, mas, segundo o sol apurou, a caixa deverá registar lucros na ordem dos 150 milhões de euros – contra os 278,9 milhões de euros de 2009 (em que houvera uma quebra de 39,2% face ao ano anterior).

questionado pelo sol, o presidente da cgd admitiu que se antecipa uma quebra dos resultados líquidos face a 2009, mas sem revelar números. faria de oliveira avança, porém, que «nos últimos três anos, a cgd registou imparidades [perdas potenciais] de 1.250 milhões de euros por desvalorização das participações e outros títulos». por outro lado, a rentabilidade da caixa «tem sido fortemente afectada pela quebra da margem financeira, devido ao seu tipo de carteira de longo prazo, com cerca de 70% do negócio concentrado no crédito à habitação».

o resultado desta actividade está associado ao indexante euribor – e as taxas de juro reduziram-se, em 2010, para cerca de 1% – e ao spread (margem cobrada pelo banco sobre o dinheiro que empresta). «para cumprirmos o nosso papel de apoio à economia portuguesa, optámos por não aumentar os spreads, apesar de o custo de financiamento estar mais caro, e impactando negativamente os resultados», explica.

o resultado líquido do grupo cgd foi de 106,8 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, uma descida de 68,1% em comparação com o mesmo período de 2009. mas, para faria de oliveira «o mais importante é a solidez do banco» e «a cgd não tem qualquer problema, estando até acima dos rácios médios europeus». nos últimos três anos, o estado injectou perto de dois mil milhões, depois do aumento de capital de 550 milhões de dezembro passado.

para tentar imunizar a caixa da volatilidade dos mercados, a actual administração – cujo mandato terminou oficialmente no final de dezembro e está em funções até à assembleia geral de abril – apresentou ao governo um novo modelo corporativo. a ideia é fortalecer a instituição só com as actividades bancárias (incluindo banca de investimento, factoring e operações no exterior) e separar os seguros, participações financeiras e outros activos em holdings, que poderão ser participadas pela cgd, mas não dependentes do banco. «o plano foi formalizado junto do accionista no último trimestre de 2010 e está em apreciação», diz o banqueiro.

cgd lidera criação de fundo de mil milhões para recapitalizar empresas

a caixa banco de investimento está a iniciar uma ronda de contactos junto de investidores internacionais – nomeadamente dos eua, reino unido, china, índia e médio oriente – para a constituição de um fundo de reestruturação de pequenas e médias empresas portuguesas, que ajude a dinamizar a economia lusa.

«a iniciativa é da cgd, mas o projecto conta também com o envolvimento dos outros quatro grandes bancos portugueses [santander totta, bes, bpi e bcp], em participações ainda por definir», explicou faria de oliveira ao sol, concretizando que o fundo deverá contar com um capital próximo dos mil milhões de euros.

ainda não há uma data definida para arrancar, mas o presidente da caixa garante que «está a ser dada a prioridade máxima a este projecto e, depois de recolhida a receptividade dos investidores, a montagem do fundo é rápida».

o futuro mecanismo de apoio às pme portuguesas vai «ficar sob a responsabilidade de uma gestão independente, profissional e com competências específicas nesta área», revela faria de oliveira, dizendo que há nomes pensados, mas que «é cedo para falar neles».

o banqueiro espera uma forte adesão das empresas a este fundo, pois «na actual conjuntura há um grande problema no acesso ao financiamento bancário e o número de empresas portuguesas com os níveis de auto-financiamento (capitais próprios) inadequados é muito grande».

mas o gestor adverte já que o fundo só irá participar em empresas com viabilidade, com planos de negócios consistentes e, sobretudo, orientadas para a internacionalização ou para o negócio das exportações.

tania.ferreira@sol.pt