Ementa de Natal dos portugueses na Venezuela é uma ‘mistura de tradições e sabores’

Emigrados há dezenas de anos, os portugueses da Venezuela transformaram as ementas festivas, como a da noite de Natal, numa `mistura de tradições e sabores´, em que a gastronomia portuguesa está lado a lado com a venezuelana.

"estamos aqui há muitos anos, o natal para nós é uma mistura de tradições e de sabores. por estar na venezuela a ementa tem uma forte componente local, mas os toques que engalanam a consoada são portugueses", explicou ana maria de abreu à lusa.

natural da ribeira brava, madeira, com 65 anos de idade, 50 deles vividos em chacao, leste de caracas, venezuela, esta portuguesa disse que para ela e os conterrâneos "é obrigatório preparar carne de vinha de alhos, uma boa galinha ou um peru e uma perna de porco assada no natal".

mas a ementa que está a preparar para esta noite "é também venezuelana", tem uma salada fria de galinha com batata, cenoura, ervilhas e maionese, acompanhada por rabanadas de pão recheado com fiambre fumado, azeitonas e passas de uva.

o prato principal que pensa servir é a "hallaca" ou "hayaca", cujo nome deriva de "ayúa" e "ayuaca", que no dialecto guariani quer dizer "misturar" e "misturado", mas que por deformação passou a ser "ayaca".

conta a tradição que os escravos negros aproveitavam as sobras dos guisados dos banquetes dos senhorios, misturavam com farinha de milho, fazendo uma massa que era envolvida em folhas de plátano (banana tropical) e cozida.

a "hallaca" actual passou por algumas transformações, a massa de farinha de milho é misturada com o óleo de sementes de "onoto", um arbusto da amazónia e outras zonas tropicais, que eram usadas pelos aborígenes para pintar o corpo de cor de abóbora, como repelente de insectos.

a massa é estendida em cima das folhas de plátano, no centro são colocados pedaços pequenos de carnes guisadas (frango, vaca e porco), azeitonas, alcaparras, passas de uva, ovos cozidos. cuidadosamente fechada para impedir a fuga do recheio, é protegida pelas folhas de plátano e cozida em abundante água.

"confesso que a primeira vez que provei a 'hayaca', pelo seu sabor tão particular, fiquei na dúvida se gostava ou não, porque estava habituada a sabores menos intensos, agora, em alguns natais preparo o que chamo de 'hallaca' portuguesa, recheada com bacalhau, ovo cozido, azeitonas, muita cebola e pimentão", explicou.

queixando-se que o alto preço do bacalhau dificulta cumprir com a tradição de compartilhar aquele prato com familiares, amigos e vizinhos, explicou que, num domingo de dezembro, a família reúne-se para preparar as "hallacas" que "às vezes passam das duas centenas e comem-se durante toda a quadra".

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