Sendo o ballet uma forma de arte tão exigente, foi preciso arranjar uma alternativa para que os alunos da Academia mantivessem também o seu foco na escola. Nesta altura, surgiu uma ideia: o ensino articulado. A solução, uma parceria com a Escola Afonso Lopes Vieira, só traz vantagens, garante a professora de dança. E não fala unicamente de alunos portugueses.
Pelo Conservatório passam alunos de todos os pontos do mundo – desde Espanha a Macau –, e o protocolo acabou por ser formalizado pela mão do Ministério da Educação.
O ensino articulado «dá a possibilidade de os alunos não terem, por exemplo, determinadas disciplinas. A escola reduz a carga horária e permite que eles tenham apenas as manhãs ocupadas com a escola e depois, mais ou menos a partir das duas e meia da tarde até às seis e meia, focam-se na dança», explica Annarella. Desta forma, «os pais destes jovens têm a segurança de que os filhos continuam a estudar».
A opinião do outro lado da parceria é a mesma. Pedro Biscaia, diretor da Escola Secundária Afonso Lopes Vieira, garante que todo este protocolo foi uma «questão de oportunidade» e que as vantagens são muitas para ambas as partes. «Somos uma escola periférica e a Annarella resolveu instalar-se a cerca de 20 metros, por isso pensámos que podíamos transformar uma dificuldade - de ambos-, numa vantagem», começa por contar. «Por exemplo, um pai de um dos alunos que vivesse em Leiria teria de andar a transportar o filho entre escolas, para o ballet, de um lado para o outro, preocupado com horários, etc. Por outro lado, interessava-nos captar novos públicos, não apenas de um meio suburbano, mas alunos que normalmente são disciplinados, que sabem lutar por objetivos. Portanto, tínhamos toda a vantagem em captar esses mesmos alunos para cá», diz o diretor.
Todos os alunos que estão inseridos nesta parceria e que frequentam a Academia da Annarella estudam na Afonso Lopes Vieira. Sobre estes, o professor só tem elogios. «São alunos muito determinados, disciplinados e bons alunos. A Câmara Municipal de Leiria distingue, anualmente, os melhores alunos de cada ano e de cada curso. Da nossa escola, metade dos alunos que foram indicados, eram alunos da Annarella», revela o diretor.
«Os miúdos que estão nesta situação e que estão longe de casa têm, todos eles, um caráter, uma resiliência … é positivamente contagiante para os outros alunos da escola. Sabem todos para o que vêm. Têm um objetivo e levam-no em em frente. São miúdos brutais», diz o diretor com orgulho do que a escola conseguiu ao fim de dois anos a «lutar». «Foi preciso lutar muito para conseguir isto em termos burocráticos. Este é um conceito inovador, tivemos alguma colaboração do Ministério da Educação – que apreciou esta ideia –, mas desde a opinião positiva de um secretário de Estado até formalizar as coisas em papel foram precisos dois anos. Tivemos uma luta muito grande», diz, sublinhando a crítica.
Um projeto de sucesso com provas dadas de que o ballet pode mesmo ser uma ferramenta para o sucesso dentro de uma sala de aula – afinal, a concentração que é necessária para ir em busca da perfeição também se treina.