A exposição foi remodelada em 2014, o que «possibilitou abordar a temática da água de uma forma mais genérica, sem deixar de contar a história e a evolução da cidade de Lisboa». A apresentação está dividida em quatro grandes temas: o planeta, a história e evolução da cidade de Lisboa, o ciclo da água (natural e urbano) e a sustentabilidade (com foco na pegada hídrica).
Do edifício da Estação Elevatória do Vapor seguimos para uma das obras mais emblemáticas de Lisboa, o Aqueduto das Águas Livres, que também faz parte do Museu da Água. Depois de caminharmos durante algum tempo, chegámos ao cimo daquele que é o maior arco em pedra construído em alvenaria do mundo. A 65 metros de altura, vê-se Lisboa inteira. O aqueduto tem dois passeios exatamente iguais, um do lado norte e outro do lado sul. Por enquanto, apenas é possível caminhar por estes passeios no exterior, mas um dos objetivos da EPAL é fazer uma requalificação do interior da construção, onde passava a água, para que possa ser aberto ao público.
As obras do aqueduto tiveram início em 1731, mas o projeto começou a ser pensado anos antes. Em 1728, começaram a ser recolhidos os impostos para a construção do aqueduto. Com o nome «real d’agua», este imposto funcionava como uma espécie de IVA que era cobrado sobre os bens de primeira necessidade da época, como a carne, o sal (para preservação dos alimentos), o azeite (para iluminação das candeias), a palha (o gasóleo da época) e o vinho. Anos mais tarde, em 1799, o imposto acabou por ser abolido, apesar de as obras do aqueduto terem continuado até 1834.
O segmento que permite fazer a travessia sobre o Vale de Alcântara já estava terminado em 1744, 11 anos do grande terramoto. E ainda está de pé. O terramoto de 1755, que destruiu uma parte significativa da cidade, provocou apenas a queda de três claraboias da arcaria. «Esse é o grande mérito da construção portuguesa e da engenharia militar», refere Margarida Filipe. Com 35 arcos e um percurso de praticamente um quilómetro, o aqueduto é todo feito em pedra calcária, retirada das pedreiras de Monsanto e do próprio vale. Se olharmos com atenção, é possível ver de lá de cima que a própria rua foi rasgada - e há inclusivamente ainda uns resquícios dessa obra e da retirada da pedra.
«Como todas as grandes obras, a obra do aqueduto também foi polémica. Houve quem gostasse e quem não gostasse», conta a nossa interlocutora. Quando foi construído o Aqueduto das Águas Livres, Lisboa estava no auge do estilo barroco. Como os arcos são uma construção romana, foram considerados ultrapassados e fora de moda. Além disso, a zona onde está agora o aqueduto era um espaço árido, onde passava o rio e, na altura, houve quem visse a obra como um «obstáculo», explica Margarida Filipe.
Agora é possível visitá-la, mas em tempos a arcaria esteve encerrada ao público. Tudo por causa do assassino Diogo Alves, que se tornou numa verdadeira lenda ao aterrorizar Lisboa, na primeira metade do século XIX, atirando as suas vítimas do alto do imponente Aqueduto das Águas Livres. Em três meses, matou 70 pessoas. Na altura, a rainha D. Maria chegou mesmo a pedir uma guarda especial apenas para o local, mas nunca conseguiram apanhar o assassino em flagrante. Diogo Alves foi apanhado mais tarde, durante um assalto, e foi um dos últimos homens condenados à forca em Portugal. D. Maria já tinha na sua secretária o decreto para abolir a pena de morte em Portugal, mas recusou-se a assiná-lo enquanto não apanhassem o criminoso.
Do alto do aqueduto, passamos para as profundezas da Galeria do Loreto. A água transportada pelo Aqueduto das Águas Livres, ao chegar a Lisboa, era conduzida através de uma rede constituída por cinco galerias maioritariamente subterrâneas, com cerca de 12 quilómetros de extensão no total. A função destes túneis era assegurar o fornecimento de água a chafarizes e alguns estabelecimentos públicos.
Dessas cinco galerias, apenas a do Loreto está disponível para visitas. O percurso de cerca de 1,5 quilómetros começa na Casa do Registo - contígua ao Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras -, passa debaixo do Largo do Rato e percorre a Rua da Escola Politécnica. Depois os visitantes podem optar por sair no meio do Jardim do Príncipe Real ou ao lado de uma esplanada do Miradouro de S. Pedro de Alcântara. Tudo isto debaixo da terra, o que implica normas de segurança, como usar capacete. O ambiente é húmido e pouco iluminado. Enquanto percorremos os túneis apertados, podemos observar nas paredes imagens do exterior, que mostram exatamente o sítio por onde estamos a passar.