Um Erasmus para a lusofonia

Os estudantes das universidades de Portugal, Brasil, países africanos de expressão portuguesa, Timor-Leste e Macau poderão em breve ter a oportunidade de fazer uma parte dos seus cursos numa outra academia lusófona – tal como hoje acontece no espaço europeu através do popular programa Erasmus.

o projecto, ainda por baptizar, é uma das prioridades para os próximos três anos assumidas por jorge ferrão, novo presidente da associação das universidades de língua portuguesa (aulp), reunida este mês no instituto politécnico de bragança.

o programa lusófono de intercâmbio também envolverá docentes e outros funcionários das universidades e será, segundo ferrão, adaptado à realidade económica dos países de língua portuguesa. o alojamento em casas de família e a partilha dos encargos entre as universidades de origem e as instituições de acolhimento são algumas das soluções apontadas para contornar o que o reitor da universidade lúrio de moçambique admite ser a indisponibilidade financeira de alguns países.

brasil, portugal e macau, em contrapartida, poderão disponibilizar verbas a curto prazo. brasília tem cinco milhões de euros para financiar programas de intercâmbio nos próximos cinco anos e o valor poderá crescer, já que o governo de dilma rousseff assume como objectivo o aumento, de 50 mil para 75 mil, do número de bolsas de mobilidade internacional atribuídas anualmente. lisboa deverá financiar o erasmus lusófono através do programa ciência global. macau, que actualmente participa num programa de intercâmbio académico com vários institutos politécnicos portugueses, também revela interesse no projecto, que poderá reforçar a posição do antigo território português enquanto ponte entre a china e a lusofonia.

clélio diniz campolina, reitor da universidade de minas gerais (brasil) e ex-presidente da aulp, disse ao sol que o novo projecto «não será uma mera cópia» do erasmus europeu. o programa poderá vir a ser «tão ou mais atraente» que o sistema de intercâmbios do velho continente – tomando como referência experiências em marcha entre universidades brasileiras e moçambicanas.

 

atrair professores
o erasmus lusófono é ainda apontado como uma ferramenta para multiplicar bolsas de mobilidade académica em países com parcos recursos, como são tomé e príncipe, que enviou apenas dois estudantes para o estrangeiro em 2010. no arquipélago, há também a expectativa de que o programa de intercâmbio atraia docentes altamente qualificados de outros países lusófonos.

no xxi encontro da aulp, as academias acordaram outros pontos de cooperação, como o incentivo para uma maior presença da lusofonia nas publicações científicas internacionais. o reforço do empreendedorismo, a transferência de conhecimentos e a adequação da oferta académica ao mercado de trabalho – numa altura em que, além de portugal, também moçambique regista um aumento do desemprego entre licenciados – foram outros temas em debate na reunião de bragança.

pedro.guerreiro@sol.pt