O texto onde a escritora Teolinda Gersão critica “o massacre” em que se transformaram as aulas de português dos alunos, por causa das novas regras de gramática está a causar furor nas redes sociais. A escritora diz que a actual gramática complica “tudo de uma ponta à outra” e que está a afastar as crianças e jovens da língua portuguesa, defende a escritora no texto Declaração de amor à Língua portuguesa.
“Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas”, lê-se no texto, que já foi partilhado milhares de vezes. “Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim”.
O texto irónico foi escrito em 2012 depois de Teolinda Gersão ter ajudado os netos a estudar português e ter lido de uma ponta à outra a gramática dada pela escola. “Está mais actual do que nunca porque esta gramática é cada vez mais inútil”, defende ao SOL a professora catedrática, que ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada na Universidade Nova de Lisboa, e hoje se dedica apenas à escrita. “Infelizmente esta gramática está totalmente ultrapassada. Nada tem a ver com o mundo real de todos os dias e só afasta os alunos da leitura”, remata.
joana.f.costa@sol.pt