Quer trabalhar menos? Vá para a Suécia

País nórdico está a fazer projetos-piloto com horários de seis horas. A satisfação e a eficiência dos trabalhadores aumentaram, mas é uma medida cara. Em Portugal, uma redução de horas de trabalho seria de difícil implementação.

No lar de idosos Svartedalens, em Gotemburgo, a vida dos funcionários deu uma volta no início do ano. Em fevereiro, as enfermeiras mudaram de um horário de oito para seis horas diárias sem qualquer redução no salário, tornando-se cobaias de uma experiência-piloto para testar modelos alternativos de organização do trabalho. Os trabalhadores estão mais motivados e a eficiência aumentou, mas a medida tem um senão: é cara para os cofres públicos.

A enfermeira Lise-Lotte Pettersson, ouvida pelo Guardian, frisa que a redução do horários melhorou a qualidade do trabalho. «Costumava andar exausta o tempo todo, chegava a casa do trabalho e ‘apagava’ no sofá. Agora não. Estou muito mais alerta: tenho muito mais energia para o trabalho e também para a vida familiar».

Segundo João Cerejeira, economista da Universidade do Minho especializado em mercado de trabalho, há estudos científicos que demonstram que o aumento da satisfação no local do emprego, mesmo em aspetos não monetários, aumenta a produtividade. «No caso da experiência de Gotemburgo, pelo facto de se tratar de uma profissão de desgaste físico e psicológico, é natural que a redução do horário de trabalho tenha aumentado os níveis de satisfação e, por consequência, melhorado a qualidade dos serviços prestados», diz.

Mas, para reduzir os horários sem consequências para os vencimentos do trabalhadores, o caso sueco mostra uma consequência: os encargos acrescidos que a medida traz. O lar recrutou 14 novos funcionários para se adequar aos novos horários e ao sistema de turnos, e foi o município a pagar a fatura. «Estas iniciativas são interessantes, mas é necessário ter em conta os custos e os benefícios associados na adoção de medidas semelhantes para a generalidade das atividades», acrescenta o docente.

Algumas empresas suecas já tinham a tradição de horários reduzidos. A unidade da Toyota naquele país é um dos casos conhecidos: mudou para turnos de seis horas há 13 anos. Agora, surge o do lar de idosos. Segundo o Guardian, há ainda serviços em hospitais públicos que estão também a avançar para turnos de seis horas.

No entanto, estes ainda são casos isolados; a generalidade da população sueca está longe destes horários reduzidos e trabalha largas dezenas de horas por semana. Alguns funcionários ouvidos numa reportagem do The Local, um jornal sueco editado em inglês, trabalhavam 50 horas por semana. E mesmo que fossem para casa às 17h30 passavam o serão e os fins de semana agarrados ao computador a verificar o e-mail.

Para João Cerejeira, uma redução transversal dos horários traz sempre um «dilema»: quem paga essa medida? Os trabalhadores, com menores salários, a entidade empregadora, com maior custo do trabalho por hora, ou o Estado, caso compense a empresa?

E em Portugal?

A Suécia é um dos países europeus com horários mais reduzidos da Europa, juntamente com outras economias do Norte da Europa – sendo economistas robustas e produtivas geram recursos que permitem uma menor sobrecarga de trabalho. Em contraponto, economias como a portuguesa são as que mais horas de trabalho acarretam. Um estudo recente da OCDE indicava que Portugal registou um dos maiores aumentos no peso dos trabalhadores com horários superiores a 50 horas. As últimas estimativas anuais da Comissão Europeia indicam que o horário normal de trabalho em Portugal está acima da média.

Nancy Almeida, gestora da Hays Portugal, uma empresa de recrutamento, realça que a flexibilidade de horários de trabalho não é uma característica comum às empresas portuguesas. Contudo, alguns empregadores já têm vindo a adotar medidas que promovem a flexibilidade dos horários, sobretudo nas multinacionais e em empresas da área tecnológica. «Permitem aos seus colaboradores definirem os seus horários de trabalho e gerirem as horas de entrada e de saída, mediante o fluxo de trabalho e as preferências de cada um», refere.

A gestora da Hays considera que, mais do que reduzir horas de trabalho, as empresas nacionais deverão adotar estratégias para flexibilizar a organização dos horários, dando espaço à liberdade individual para adaptação ao seu ritmo e à vida pessoal. Em algumas áreas, como os serviços públicos ou os bancos, deverá ser difícil de operacionalizar, mas em muitas outras «trata-se de uma mera questão organizativa e processual».

João Cerejeira concorda que mexer nas horas de trabalho não deve ser a prioridade, na atual conjuntura, porque levaria ao aumento dos custos. O economista aponta antes para a necessidade de «flexibilização dos tempos disponíveis».

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joao.madeira@sol.pt