Biografia de Marcelo Rebelo de Sousa. As tropelias de um aluno brilhante

É como estudante de Liceu que ganha a mania de atribuir notas a quem o rodeia, como acabaria por fazer muitos anos mais tarde num programa de comentário político na TSF. E é também aí que ganha fama de ser irrequieto, extravagante e dado a partidas que muitas vezes exploram as fragilidades dos outros.

O mesmo Marcelo adolescente que colabora com as Conferências de São Vicente Paulo para entregar comida aos pobres é capaz de graças cruéis para provocar o riso dos colegas. “E eis-nos enfim chegados a esta promessa eminente, faz gaffes, faz disparates, anda sempre contente”, escreveu António Mega Ferreira no livro de curso do 7.º ano do Liceu.

Precoce, escreve o primeiro artigo de jornal aos 14 anos, no Século, curiosamente a defender a regionalização, que ajudaria a evitar com o referendo que ganhou com líder do PSD.

Aos 17 anos, ganha o seu primeiro dinheiro a participar em novelas radiofónicas, na Emissora Nacional, ao lado da futura atriz e então colega de turma Ana Zannati, com quem teve um namorico breve de adolescência.

Gosta de festas, bebe as suas primeiras imperiais e tenta impressionar as miúdas com a moto Famel Pachancho que recebeu como prémio das boas notas. Mas isso não o faz descurar o trabalho: passa os verões a antecipar a matéria que dará no ano seguinte e conclui até dezembro todo o trabalho para o ano letivo.

O esforço dá frutos. Em 1964, ganha o prémio D. Dinis por ser o melhor aluno do Pedro Nunes. Na cerimónia onde recebeu um prémio de uns impressionantes mil escudos, encontra-se com Henrique Granadeiro, o melhor do Instituto de Estudos Superiores de Évora, e Leonor Beleza, que ganhou por ser a melhor do Liceu Maria Amália, e que haveria de se tornar numa das suas melhores e mais próximas amigas.

Beleza, juntamente com Braga de Macedo, rivalizava na Faculdade de Direito da Clássica de Lisboa com os 19 de Marcelo. Faziam todos parte de uma turma onde estavam também o padre Vítor Melícias, o músico Rao Kyao, o realizador Luís Filipe Rocha e os jornalistas Carlos Fino e Cáceres Monteiro.

Na Universidade, Marcelo voltou a cruzar-se com Marcello Caetano, mas o professor catedrático tratou sempre de manter distância em relação ao filho do amigo. A frieza chegava a ser ostensiva. E só foi quebrada quando no final de uma oral de Direito Administrativo, Marcello cumprimentou Marcelo Nuno e lhe disse que gostava que ele se dedicasse à universidade e àquela matéria.

Além de Marcello, também a avó Joaquina acompanhava o estudante universitário. Depois da morte do seu segundo marido, tinha finalmente aproximando-se do filho Baltazar e, agora, estava em casa dos Rebelo de Sousa, onde Marcelo aproveitava para lhe pregar grandes partidas.

Numa das vezes, ia matando de susto a avó. Meteu-se debaixo da cama da senhora para simular o tremor de terra e de tal maneira foi convincente que ela ia saindo pela porta fora em camisa de dormir.

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