Papel higiénico e Companhia Lda

A aposta de António Costa está ganha: queria consumo e teve-o. Mas as exportações caíram a pique

Papel higiénico, sabonete e toalhetes para as mãos são os ingredientes principais do modelo económico de António Costa. 

Antes do resgate, os centros comerciais da Grande Lisboa eram quase tão concorridos quanto a cidade de Meca. Marcar férias de Verão, Páscoa ou Natal, com viagem e hotel, só era possível com um ano de antecedência. 

As consultas médicas de especialidade tinham-se popularizado através do mecanismo do seguro de saúde e dos hospitais privados, mas esperava-se um mês para cada consulta. 

Marcar arranjo para o carro era uma saga. Marcar cabeleireiro ou arranjar as unhas implicava agendamento de dias. Esperavam-se horas à porta dos restaurantes favoritos.

Com o resgate, com a perda de rendimentos de funcionários públicos e de pensionistas, tudo isso terminou em poucos meses. Os centros comerciais ficaram vazios, as lojas fecharam. Muita gente da classe média cancelou os seguros de saúde, passou a haver fartura de consultas. Eram os mesmos 15 euros pelos mesmos 15 minutos de consulta, mas era para amanhã e não para o mês seguinte. O mesmo nas oficinas. O cabeleireiro também era para já. Os empregados dos restaurantes chamavam-nos da porta. 

Pagar o empréstimo que o Governo socialista de José Sócrates pediu foi duríssimo. Os credores, a troika, impuseram as suas condições: para além de quererem os seus 78 mil milhões de euros de volta, quiseram também que mudássemos de vida. Que mudássemos a nossa economia, que apostássemos nos bens transacionáveis, em vez de só termos shoppings, restaurantes, cafés, oficinas, cabeleireiros & nails.

Nasceram empresas, exportou-se muito mais, o desemprego baixou. Mas mudar de vida, de hábitos, mudar a cultura de um povo, é duro e é difícil. É penoso e ingrato para qualquer Governo. Ainda assim, as pessoas perceberam o esforço, viram os resultados e deram a vitória à coligação de direita. 

Na oposição, António Costa apresentou-se como aquele que iria repor tudo: devolver rendimentos, sobretudo aos funcionários públicos e pensionistas, repor as 35 horas para os mesmos funcionários públicos, repor feriados. Prometeu medidas emblemáticas para calar os setores que mais desempregados originaram: restauração e construção civil. Para contentar a restauração ‘ofereceu’ a baixa do IVA. Ao setor da construção ‘ofereceu’ a reabilitação urbana feita com o dinheiro da segurança social. Os taxistas, sossegados com a Uber escorraçada, estão calados com as obras em Lisboa. 

Os resultados são os esperados. Voltámos ao antigamente. Os shoppings de Lisboa estão cheios e sujos. A pestilência das instalações sanitárias avança pelos corredores. Em qualquer sítio, conseguir papel higiénico, sabonete das mãos e toalhetes parece ser tão difícil como um clube de futebol conseguir o triplete: Liga, Taça e Supertaça. 

A aposta de António Costa está ganha. Queria consumo interno, teve-o. As exportações caíram a pique, o desemprego não baixa. O Ronaldo eleva-nos às alturas. É verão. Folgam as costas.