PGR só dá mais 13 dias para concluir acusação de Sócrates

Prazos apertados levam o DCIAP a ter de abdicar de várias linhas de investigação para as quais já tem fortes indícios. E José Dirceu, braço-direito de Lula, pode ‘safar-se’. Isto porque, segundo o SOL apurou, Marques Vidal não pretende alterar o prazo que fixou para o fim da investigação (17 de março).

Por falta de tempo para fechar a acusação da Operação Marquês, o Ministério Público português não deverá constituir José Dirceu, homem-forte de Lula da Silva, arguido, apesar dos fortes indícios de que recebeu 1,2 milhões de euros do Grupo Espírito Santo.

Como o SOL apurou, tendo em conta a inflexibilidade mostrada até hoje pela procuradora-geral da República para alterar o prazo de 17 de março, já nem foi expedida carta para as autoridades brasileiras para que José Dirceu fosse ouvido naquele país no âmbito desta investigação.

Numa altura em que os investigadores do DCIAP consideram estar a fechar-se o ciclo de alegadas luvas pagas pelo Grupo Espírito Santo (um total de 96 milhões de euros) – sobretudo depois das revelações de Helder Bataglia – começa a escassear o tempo. Embora a investigação tenha sempre defendido que os prazos são indicativos, a verdade é que Joana Marques Vidal está a bater o pé para que se feche já a Operação Marquês, sem as diligências que os procuradores consideram ser essenciais.

Entre estas estão cartas rogatórias da Suíça, sobre as luvas pagas pela E.S. Resources, cartas essas que não vão chegar a tempo.

Somando os valores que o MP acredita terem sido recebidos por Sócrates, Armando Vara, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Ricardo Salgado e outros que já foram tornados públicos, estes não perfazem os 96 milhões. Ainda assim, o SOL sabe que a investigação já chegou às outras pessoas que terão recebido dinheiro remanescente, através de documentação que foi encontrada numa busca no verão do ano passado à Portugal Telecom e a antigos administradores. Documentação essa que indicava já, como Bataglia defende agora, que Salgado dera ordens para as transferências.

Salgado e Bataglia contradizem-se

O empresário luso-angolano garantiu no seu último interrogatório em Lisboa que foi Salgado quem pediu para que transferisse das suas contas para as de Carlos Santos Silva 12 milhões de euros. Mas a versão de Salgado foi outra. Nas instalações do DCIAP, o antigo banqueiro disse que não fazia a mínima ideia de tais transferências, e que o dinheiro enviado a Bataglia se destinava tão-só à prospeção de petróleo.

Salgado foi ainda confrontado com os pagamentos feitos pela E.S. Resources a José Dirceu, que se acredita ter tido um papel fundamental na ruinosa entrada da PT na Oi.

Estas novas declarações abririam mais linhas de investigação que seriam fundamentais para a nova fase da Operação Marquês, a qual está sobretudo centrada neste negócio que se revelou fatal para a telefónica portuguesa. Mas, apesar de ter já traçado todo o circuito do dinheiro que terá ido parar a José Dirceu, o MP português não deverá avançar nessa frente, uma vez que o político brasileiro teria de ser ouvido por carta rogatória, cuja resposta nunca chegaria dentro do prazo.

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