Peixe-aranha, lacrau e vespa asiática. Qual deles o mais perigoso?

Entre estas três espécies, a vespa asiática é, sem dúvida, a mais perigosa. No entanto, cada um destes animais tem as suas próprias características únicas e desempenha um papel importante no respetivo ecossistema.

Peixe-aranha, lacrau e vespa asiática são três tipos diferentes de animais, cada um com suas próprias características e particularidades. Mas têm um ponto em comum: todos eles são agentes de picadas dolorosas. O termo “peixe-aranha” geralmente refere-se a várias espécies de peixes que têm características físicas que os fazem parecer um pouco com aranhas. Isso pode incluir a presença de espinhos ou apêndices alongados que lembram as pernas de uma aranha. Esses peixes são encontrados em várias partes do mundo, geralmente em recifes de coral e em águas tropicais.

Já os lacraus são aracnídeos comummente conhecidos como escorpiões. Os escorpiões são animais terrestres que possuem um corpo segmentado, um par de pinças dianteiras e um ferrão venenoso na extremidade do abdómen. Encontram-se em várias regiões do mundo – incluindo em Portugal, no Alentejo, por exemplo – e podem variar em tamanho e toxicidade, dependendo da espécie. Já vespa asiática é uma espécie de vespa originária do leste asiático. Devido ao seu tamanho relativamente grande e ao seu comportamento predatório, também é conhecida por “vespa assassina”. Muito maior do que uma vespa comum e carnívora, representa uma ameaça para as populações de abelhas locais.

Algumas espécies de lacraus e vespas podem representar riscos para os seres humanos devido à sua capacidade de injetar veneno com picadas ou ferrões, enquanto os peixes-aranha são mais inofensivos para os humanos, como explica João Alves Mendes, cirurgião cardiotorácico e proprietário de uma clínica médica no centro de Paço de Arcos, em Oeiras.

“A maioria das espécies de peixe-aranha não é considerada perigosa para os seres humanos. No entanto, algumas delas possuem espinhos venenosos que podem causar dor intensa, inchaço e outros sintomas desagradáveis se forem tocados ou pisados. Os acidentes com peixes-aranha são relativamente raros, e a maioria das lesões ocorre quando as pessoas não têm cuidado ao manusear ou nadar em áreas onde esses peixes estão presentes. Em casos raros, a picada de um peixe-aranha pode ser grave, mas as complicações graves são incomuns”, diz o profissional de saúde, recomendando, “assim que possível, que se coloque a área da picada em areia quente”.

“Depois, mergulhe a área da picada em água quente por cerca de 30 minutos. A temperatura ideal da água deve estar acima dos 40ºC, pois o calor ajuda a degradar o veneno. No entanto, tome cuidado para não usar água muito quente, a ponto de causar queimaduras. Este procedimento só é eficaz se for realizado nos primeiros 30 minutos após a picada. Se não puder usar água quente, tente aplicar calor à área da picada de outra forma, por exemplo, segurando um cigarro aceso próximo à lesão, com cuidado para não tocar diretamente na pele. Também pode tomar ibuprofeno ou paracetamol para aliviar a dor”, sublinha, adicionando que se encontrar espinhos visíveis deve removê-los com uma pinça, evitando tocar diretamente na lesão, desinfetando a mesma como se fosse uma ferida normal.

As picadas de lacraus são menos comuns, mas também acontecem. “A perigosidade dos escorpiões varia de acordo com a espécie. Alguns escorpiões têm venenos mais potentes do que outros. Em geral, a maioria das picadas de escorpião não é letal para os seres humanos, mas pode ser extremamente dolorosa e causar sintomas como dor intensa, inchaço e, em casos mais graves, náusea, vómitos e problemas respiratórios. As picadas de escorpião podem ser particularmente perigosas para crianças pequenas, idosos e pessoas com sistemas imunitários comprometidos”, continua o médico.

Também “muito dolorosa” é a picada da vespa asiática. E perigosa: em agosto um homem de 88 anos morreu depois de ser picado perto de sua casa, em Mangualde. Não foi a primeira vítima. “Em alguns casos, pode causar reações alérgicas graves, o que pode ser potencialmente fatal”, nota João Alves Mendes.

“Se a área da picada desenvolver um inchaço acentuado com um diâmetro maior do que 10 centímetros, deve tomar um comprimido anti-histamínico. Em casos mais graves ou se a picada ocorrer na face, afetando as pálpebras ou os lábios, também deve ser adicionado um comprimido de corticosteroide. Se o inchaço nas pálpebras e/ou lábios for muito pronunciado, é recomendado procurar um médico num serviço de urgência no Centro de Saúde ou hospital”, explica o médico.

Se após a picada desenvolver urticária (pele com manchas vermelhas, comichão) em todo o corpo, deve também procurar assistência médica num serviço de urgência. Nesse caso, será administrado anti-histamínico e corticosteroide por via intravenosa para tratar a reação alérgica. Se ocorrer anafilaxia, que é uma reação alérgica grave e potencialmente fatal que se manifesta imediatamente após a picada (geralmente dentro de 10-15 minutos) com sintomas como falta de ar, sensação de desmaio, tontura, aperto na garganta, língua muito inchada, comichão intensa e vermelhidão em todo o corpo, é necessário chamar imediatamente o serviço de emergência (INEM através do número 112). “Se tiver uma caneta de adrenalina (epinefrina), deve usá-la imediatamente injetando-a na face externa da coxa. Deite-se no chão com as pernas elevadas ou sente-se, dependendo da gravidade da falta de ar ou dos sintomas de tontura ou vómito”.

“Porém, a maioria das picadas de vespa não leva a complicações graves, e os ataques são relativamente raros, a menos que se esteja em proximidade com um ninho. Se alguém for picado ou ferroado e tiver sintomas graves, é importante procurar assistência médica imediatamente”, salienta João Alves Mendes. Ainda no início de setembro foi noticiado que em 2023, no concelho de Vila Pouca de Aguiar, a presença da vespa asiática, aumentou significativamente. Até ao momento, os Serviços Municipais de Proteção Civil conseguiram eliminar 88 ninhos dessa espécie de vespa. Esse aumento está a causar sérios impactos.

A vespa asiática representa uma ameaça especialmente para a apicultura porque caça abelhas, reduzindo assim a população de polinizadores. Tal tem efeitos negativos na produção de alimentos, já que muitas plantas dependem da polinização por abelhas e outros insetos para produzir frutos e sementes. Além disso, a presença dessas vespas pode afetar a sustentabilidade dos ecossistemas locais, causando desequilíbrios na fauna e na flora. A ação dos Serviços Municipais de Proteção Civil em eliminar os ninhos é uma medida importante para controlar a disseminação dessas vespas invasoras e minimizar os impactos negativos que elas causam nas diversas regiões.

O aumento da presença da vespa asiática em Portugal, que chegou ao território português em 2011, está relacionado com a globalização do transporte de pessoas e mercadorias, que ocasionalmente transporta espécimes dessas vespas junto com a carga, como explicou Nuno Forner, da associação Zero, ao Nascer do SOL, em fevereiro de 2019. Isso significa que essas vespas podem ser transportadas em malas ou no interior de aeronaves. No entanto, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural de Portugal não considera a situação como fora de controle. A presença de ninhos deve ser comunicada às autoridades competentes em vez de tentar destruí-los por conta própria, devido aos riscos associados. A distribuição geográfica dos ninhos pode ser verificada no site da Plataforma SOSVespa, gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Há aranhas venenosas em Portugal?

Em Portugal, existem algumas espécies de aranhas que podem ser consideradas venenosas, embora a maioria delas não represente um perigo significativo para os seres humanos. Uma das aranhas mais conhecidas em Portugal é a Loxosceles rufescens, também chamada de “aranha-violinista” devido à marcação em forma de violino no seu corpo. Embora a picada dessa aranha possa ser dolorosa e levar a sintomas locais, como inchaço e vermelhidão, as reações graves são extremamente raras.

Outra espécie de aranha em Portugal que é conhecida pelas suas mordidas dolorosas é a Cheiracanthium punctorium. No entanto, as suas picadas geralmente causam apenas sintomas locais, como dor e inchaço temporário.

É importante notar que, em geral, as aranhas em Portugal não são uma ameaça significativa para os seres humanos. A maioria das picadas de aranhas resulta em sintomas leves e pode ser tratada com cuidados locais. No entanto, se alguém for mordido por uma aranha e experienciar sintomas graves ou alérgicos, é aconselhável procurar assistência médica.

Além disso, é importante não confundir aranhas locais com espécies de aranhas mais venenosas encontradas noutras partes do mundo, como as viúvas-negras ou as aranhas armadeiras, que não são nativas de Portugal.