Abandonado surpreende o mundo

O Povo chama-lhe ‘A Vinha do Abandonado’ tal o cenário de desolação que se lhe depara diante dos olhos. Na Quinta da Gaivosa, a 450 metros de altitude e com um declive de 30% a descer abruptamente até as águas do Corgo, um afluente do rio Douro, uma velha vinha de mais de 80 anos…

Os Alves de Sousa, pai e filho (enólogo) bem tentaram replantar, mas as novas videiras acabaram por morrer. A sorte parecia traçada. Abandonada estava e abandonada iria continuar. Só que muitas vezes a tenacidade dos homens é capaz de operar milagres. E por que não vindimar o pouco que ainda sobrevive e vinificar isoladamente estas uvas na adega? Assim pensaram, assim fizeram. Em 2004, a primeira colheita experimental revelou um carácter verdadeiramente único. À frescura da altitude, juntaram-se uma notas balsâmicas da floresta circundante e dos muitos eucaliptos da Quinta e ainda alguma mineralidade, tudo a conferir complexidade ao vinho que acabava de nascer e que viria para o mercado em 2006. E que vinho! Abandonado depressa cativou os mais famosos críticos internacionais e o famoso Robert Parker brindou-o com 95 pontos, enquanto o não menos conhecido Charles Metcalf o incluía nos 50 melhores vinhos portugueses.

Desde então surgiram mais três colheitas (2005, 2007 e 2009) todas agora provadas por nós, a que se juntou a mais jovem, a de 2011. Que vinhos! Sobretudo este último, que levou o próprio produtor Alves de Sousa a assegurar que esta colheita «resultou num dos melhores vinhos que alguma vez criámos».

De cor rubi profunda, notas de eucalipto e frutos pretos, denso, com enorme volume na boca mas também muito equilibrado e elegante. Dele se produziram 4 mil garrafas e pode evoluir em garrafa ainda mais 20 a 25 anos. Se o encontrarem no mercado, não hesitem, e o mesmo conselho vale para qualquer uma das outras colheitas. De abandonado a estrela, este Abandonado Tinto 2011 (e os seus irmãos mais velhos) são autênticas preciosidades.

Abandonado

Ano: 2011

Região: Douro

Castas: Tinta Amarela, Touriga Franca, Touriga Nacional, Sousão e outras (20 castas autóctones)

jmoroso@netcabo.pt