Abelhas e dieta mediterrânica: o mesmo sentido de equilíbrio

É conhecida a importância das abelhas como referencial do bom ambiente e da sustentabilidade, para os quais devem concorrer, quer a preservação de plantas autóctones, quer a salvaguarda da biodiversidade na sua composição de diferenças, vegetais e animais.

Por Pedro do Carmo, Deputado do PS

Num tempo marcado pela expressão de alguns fundamentalismos, com ambições de se imporem como letra de lei ou imposição de gosto, importa valorizar o sentido de equilíbrio, o compromisso que há muito sustentamos para a construção de soluções para as comunidades e os territórios.

E o que têm de comum o setor apícola e a dieta mediterrânica? Justamente um sentido de equilíbrio que é importante e deve ser valorizado como força de diferenciação positiva das nossas realidades e do futuro que queremos.

É conhecida a importância das abelhas como referencial do bom ambiente e da sustentabilidade, para os quais devem concorrer, quer a preservação de plantas autóctones, quer a salvaguarda da biodiversidade na sua composição de diferenças, vegetais e animais. A sua relevância foi há muito sublinhada por Albert Einstein quando sublinhou que «se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana». Esse grito de alerta de então, mantém a sua atualidade dada a centralidade destas para a polinização. Afinal, estima-se que cerca de 80% das plantas se reproduzam pelo movimento de busca de pólen das abelhas junto de frutas, legumes e grãos.

São conhecidas as propriedades nutritivas e terapêuticas do mel para a saúde humana, tendo Portugal produtos de excelência em função das latitudes e dos cobertos vegetais do nosso território, que contribuem para a afirmação do potencial produtivo do nosso Mundo Rural e para a nossa gastronomia, nas suas expressões tradicionais e nos impulsos de inovação.

As abelhas precisam desse equilíbrio e nós também. O equilíbrio é a base da dieta mediterrânica, com produtos saudáveis, equilibrados, de baixa pegada ecológica pela proximidade entre a produção/captura e o consumo e com processos de confeção simples, que não implicam a perda dos nutrientes ou a adição de produtos negativos para a saúde humana. A relevância milenar desta base alimentar, formatada do labor dos agricultores, dos produtores e dos pescadores dos territórios mediterrânicos, reconhecida como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, plasmado em muita da oferta gastronómica tradicional do país, consumida por quem cá vive e por quem nos visita, assume-se como um ativo que importa valorizar. Pelo que significa de equilíbrio, de compromisso e de tolerância face a alguns fundamentalismos vigentes ou tentados. Pela relevância que têm para a sustentabilidade dos modos de vida de muitas comunidades locais, associadas à ruralidade. Por serem um ativo económico do país, da diferenciação dos territórios e da sustentabilidade que devem ser apoiados e preservados como pilar de equilíbrio nas interações dos seres humanos com o meio ambiente. Estes princípios de consumo abundante de alimentos de origem vegetal; de produtos frescos da região, pouco processados e sazonais; de azeite como principal fonte de gordura; baixo a moderado de lacticínios, sobretudo de queijo e iogurte; baixo e pouco frequente de carnes vermelhas; frequente de pescado; e baixo a moderado de vinho, principalmente às refeições; fazem frente aos fundamentalismos proibicionistas, alavancam a diversidade da atividade turística do país e são razão de ser do papel central dos equilíbrios do Mundo Rural para o desenvolvimento do país. Como o setor apícola, são um ativo estratégico de equilíbrio, biodiversidade e sustentabilidade.