Ajudar as empresas

A Peugeot-Citroen quer despedir cerca de 8 mil trabalhadores em França. E fechar uma fábrica perto de Paris, onde trabalham umas três centenas de portugueses ou de luso-descendentes.

a fábrica desta empresa em mangualde não vai despedir – já o fez em abril, quando passou de três a dois turnos de laboração.

a decisão da peugeot caiu mal no governo socialista francês, que até inclui um ministério ‘para a recuperação industrial’. mas as vendas do construtor automóvel francês baixaram 13% no primeiro semestre deste ano…

a peugeot, assim como a renault, em anos anteriores receberam apoios estatais. o que não impediu a peugeot de despedir 4.800 trabalhadores em 2008. o facto é que existe excesso de capacidade instalada no sector automóvel europeu. o único construtor europeu que prospera é a volkswagen – felizmente para nós, por causa da autoeuropa.

nos próprios estados unidos não são inéditas as ajudas estatais a fabricantes de automóveis. nem sempre bem sucedidas, como aconteceu no passado com a chrysler. esta empresa foi depois comprada pela alemã daimler-benz, mas as coisas não correram bem. hoje a chrysler pertence à fiat, que também ameaça encerrar fábricas em itália.

diferente foi o ‘resgate’ da general motors, em 2009. a gm tinha entrado em pré-falência. o presidente obama deu-lhe a mão e injectou muito dinheiro dos contribuintes na empresa. mas impôs severas condições, levando ao encerramento de várias das suas fábricas.

a gm foi capaz de aproveitar esta ajuda para dar a volta por cima: hoje é, de novo, o primeiro construtor automóvel mundial, ultrapassando a toyota. nem sempre isso acontece: os apoios estatais às empresas têm às vezes efeitos perversos. recebido o alívio financeiro, os gestores descansam e não fazem as mudanças necessárias. passado um tempo, as empresas que assim actuam ficam piores do que antes de serem apoiadas.

ajuda inteligente foi a concedida pelo governo alemão na crise de 2008-2009. berlim subsidiou empresas industriais para não despedirem trabalhadores especializados, que fariam falta uma vez passada a crise. e, de facto, a alemanha depressa voltou a um espectacular crescimento das exportações.

ou seja, não se pode ser dogmático quanto às ajudas directas a empresas. não têm razão os que tudo esperam do estado, nem os fundamentalistas do mercado. tudo depende das circunstâncias de cada caso.

em portugal a protecção estatal tem produzido sobretudo resultados negativos. as empresas protegidas da concorrência tendem a relaxar, a não antecipar a evolução dos mercados, a não mudar – tornam-se assim mais fracas e menos capazes de enfrentarem a competição internacional, quando ela chega.

uma modalidade particularmente perniciosa de ajuda é manter em funcionamento (para evitar despedimentos, por exemplo) empresas que não são viáveis a prazo. a vida artificial dessas empresas pode ser assegurada pelo estado; nesse caso, é deitar dinheiro dos contribuintes pela sarjeta abaixo. mas os bancos, para não prejudicarem os seus balanços com perdas causadas por incumprimentos de devedores, também contribuem para manter empresas inviáveis. por vezes, porque os devedores são grandes accionistas dos bancos.

se as ajudas directas às empresas nem sempre resultam, o mesmo não se passa com outro tipo de ajudas. estas são bem conhecidas: acesso ao crédito bancário, menos burocracia, pôr a justiça a funcionar, etc.

não poderia terminar esta crónica sem um elogio às empresas exportadoras nacionais de bens e serviços. com poucas ou nenhumas ajudas, contra ventos e marés, elas têm ganho quotas de mercado numa surpreendente demonstração de vitalidade empresarial. são a esperança do nosso futuro económico.