Arrendamentos e hotéis em Lisboa a ferver

Maria vai dormir na sala na noite da final da Liga dos Campeões. Conseguiu arrendar por 1.000 euros a três espanhóis o seu quarto, num prédio estreito na Buraca, em Lisboa. Com os hotéis da cidade e arredores quase esgotados para o dia do jogo entre Real Madrid e Atlético, no estádio da Luz, muitos…

Arrendamentos e hotéis em Lisboa a ferver

Luís, que vive sozinho no T3 na margem sul do Tejo, não acredita que a distância ou o preço do seu apartamento sejam um impedimento para os espanhóis que ‘invadirão’ o país. “A casa é grande, dá para seis pessoas, e são apenas 30 minutos até ao Estádio da Luz. Espero fazer negócio”, diz o desempregado de 41 anos, reconhecendo, no entanto, que os cinco mil euros pedidos “são negociáveis”. 

O antigo funcionário de uma empresa de automóveis ainda não teve respostas ao anúncio que colocou no OLX – um site especializado em vendas, onde até ontem havia quase 350 ofertas de aluguer de casa para o fim-de-semana da Champions, com preços que vão dos 100 aos 2.500 euros por quarto. Mas Luís espera que um amigo, emigrante em Espanha, lhe encaminhe alguns conhecidos que rumem a Portugal para ver o jogo.

Mais sorte teve Maria. Logo no dia em que colocou o anúncio na net, teve duas propostas e acabou por arrendar o seu quarto a três madrilenos. “Daqui ao estádio são três quilómetros a pé e achei que este era um bom negócio”, conta a lisboeta de 47 anos, que nunca alugara a casa, mas não perdeu a oportunidade. 

Em vez dos 1.800 euros que pedia no anúncio, vai receber mil euros por noite, comprometendo-se a montar no quarto uma cama-extra e a ir buscar e levar os espanhóis ao aeroporto. Apesar de viver sozinha, não receia partilhar a casa com desconhecidos: “Vivo com três cães de guarda, um deles um pittubll”.

Júlio também vai arriscar: decidiu subarrendar o quarto que aluga em Lisboa, onde está a estudar desde Setembro. O espanhol de 23 anos, natural de Valência, não vai ao jogo: em vez disso, pede 585 euros e oferece pequeno-almoço. 

Final com preços 130% acima de Londres

Para os milhares de espanhóis que querem dormir em Lisboa, alugar um quarto particular pode ser mesmo a única solução. Só na capital as mais de 46 mil camas de hotéis e residenciais estão praticamente esgotadas no dia 24. Até esta quarta-feira, apenas 3,3% estavam ainda livres, revelou ao SOL a Trivago, um motor de busca de hotéis na internet.

Mas os preços são exorbitantes. Há hotéis de três estrelas a pedir 5.000 euros por um quarto na noite de 24. É o caso do Hotel Borges, no Chiado, onde o preço por quarto duplo aumentou 58 vezes: uma dormida que normalmente custa 85 euros, sobe para 5.000 euros na noite da final, de acordo com o site de pesquisa de hotéis Booking. No America Diamonds Hotel, também de três estrelas, o valor pedido por um triplo chega aos 6.000 euros na noite de 24, baixando duas semanas depois para 235 euros.

“Em média, os hotéis na capital estão a cobrar 791,07 euros para a noite de 24 de Maio em quarto duplo”, adiantou ao SOL fonte oficial da Trivago. Um preço médio que é superior em 128% ao que foi cobrado em Londres, que acolheu a final no ano passado, e 60% mais elevado do que o da final de Munique em 2012. 

As queixas dos madrilenos sobre a falta de quartos e a inflação de preços chegaram ao presidente da Câmara de Lisboa, que na semana passada foi a Madrid promover a capital portuguesa. António Costa defendeu que há “um pouco de exagero” nas críticas, até porque se a ocupação na cidade está no máximo “é sinal de que a procura correspondeu à oferta que existe”

Certo é que os valores pedidos, apesar de especulativos, estão dentro da lei. Segundo a Associação da Hotelaria de Portugal, os hotéis são livres de fixar os seus preços, que até podem oscilar ao longo do dia, conforme a procura. O que a lei exige é que o consumidor tenha informação: “Os preços têm de estar disponíveis para consulta e à disposição em qualquer suporte (digital, internet, sites próprios, etc)”, diz fonte oficial daquele organismo.

Restaurantes em Benfica abertos até mais tarde

Nos arredores do estádio da Luz – onde no sábado da final deverão concentrar-se 61 mil espectadores, dos quais pelo menos 34 mil espanhóis que pagaram bilhete –, cafés, restaurantes e comerciantes admitem alargar horários.

“Vou ter a porta aberta até ao final do jogo, quando normalmente fecho às seis”, diz Maria da Conceição Magalhães, dona do restaurante Malatane, numa das principais ruas de acesso ao estádio. Além de bifanas, vai servir pratos típicos como bacalhau à minhota ou dobrada. Menos animada com o aumento da clientela está Maria Alice Alves: forrou a montra do snack-bar Boquinha Doce com posters da Champions, mas espera sobretudo portugueses. “Vou vender bifanas, mas aos clientes habituais dos jogos. Os outros vão para o Colombo e às roulottes”. 

Também Júlia, dona da Tabacaria Ática, ficará aberta até mais tarde, aproveitando para diversificar a oferta: não venderá cerveja mas águas, tal como fez no Euro 2004.

joana.f.costa@sol.pt