Assassinos de Marlon Correia tinham informador

O assalto à Queima das Fitas do Porto, junto ao Parque da Cidade, aconteceu minutos antes da hora prevista para a chegada da carrinha de valores que iria recolher o cofre com as receitas das bilheteiras – o que leva a Polícia Judiciária, segundo o SOL apurou, a não descartar a hipótese de os suspeitos…

esta é a principal linha de investigação que está a ser explorada pelos inspectores da polícia judiciária (pj). naquela noite, os quatro assaltantes dirigiram-se ao local onde pensavam estar o cofre – que tinha mais de 200 mil euros. o facto de o cofre ter sido deslocado para um local diferente terá agravado o desnorte do grupo, que entrou e saiu a disparar em várias direcções.

a pj já analisou as imagens de videovigilância, onde se vêem quatro homens encapuzados, de estatura baixa, dois deles com coletes com a inscrição ‘polícia’. o objectivo é compará-las agora com imagens de outros assaltos.

marlon foi apanhado na chuva de disparos. finalista de desporto e jogador de futebol no arcozelo, o jovem pertencia a uma família de emigrantes na venezuela, que há uns anos regressou a portugal por causa da insegurança naquele país.

imagens não autorizadas

a verdade é que as gravações – que também serão úteis para perceber se o suspeito disparou, ou não, de forma intencional contra o estudante marlon – não poderão ser usadas como prova em tribunal. isto porque a federação académica do porto (fap), responsável pela organização do evento, não pediu autorização à comissão nacional de protecção de dados (cnpd) para instalar «qualquer sistema de videovigilância» – confirmou ao sol a cnpd. ora, segundo a jurisprudência dominante, imagens obtidas de forma ilícita não têm valor probatório.

«não confirmamos nem desmentimos», disse rúben alves, presidente da fap, recusando revelar pormenores sobre a segurança do evento. «jamais qualquer actividade de qualquer organização será imune a um ataque desta índole e violência», acrescenta.

segundo fontes policiais, as imagens mostram alguma inexperiência dos assaltantes: à medida que três deles avançavam pelo recinto (o quarto ficou à entrada) iam disparando tiros de intimidação para o ar, passando à frente uns dos outros com as armas em punho. pelo caminho, balearam um segurança e agrediram alguns estudantes.

o desnorte aumentou quando chegaram aos contentores das bilheteiras e não encontraram o cofre. nesta altura, vários alunos puseram-se em fuga. marlon foi um deles e acabou atingido nas costas por dois tiros disparados por um dos suspeitos.

o grupo abandonou o recinto sem conseguir atingir o objectivo e tendo disparado 17 vezes. no local, foram recolhidos invólucros de armas glock (9 milímetros), de uma caçadeira e ainda de uma arma de calibre 6.35.

nova ‘guerra’ de seguranças

para já, não tem grande força a hipótese de ter havido um ajuste de contas entre a spde, empresa que fazia a segurança do recinto, e outras rivais, apesar de o assalto ao queimódromo ter coincidido com um período de grande turbulência e rivalidade entre algumas casas emblemáticas da noite do porto.

a spde, que também está no estádio do dragão, é responsável neste momento pela segurança da maioria dos estabelecimentos de diversão nocturna da invicta, em particular na zona da baixa, mas nos últimos meses outras empresas têm conquistado algum protagonismo. há relatos de confrontos entre seguranças de insígnias rivais, que barram a entrada uns aos outros em determinados bares. aparentemente, tudo isto acontece apenas e só por ordem dos homens da segurança, que agem como se fossem os donos das casas.

o sol soube que um incidente no twin’s foz, há cerca de quatro meses, desencadeou uma ‘guerra’ entre os donos da spde e da empresa quatro quinas, que garante a segurança daquela discoteca. um dos sócios desta empresa agrediu um segurança da spde, que ali teria provocado desacatos. há cerca de três semanas, o dono da spde, eduardo silva – que tem ficha policial e é alvo de vários inquéritos por agressão – foi proibido de entrar no twin’s. mas, na noite de 26 de abril, voltou à discoteca da foz, com outros seguranças, para agredir o rival.

sonia.graca@sol.pt

*com ana isabel pereira