Bandidos bons e bandidos maus

Se dúvidas ainda tivéssemos, estas ficaram definitivamente dissipadas com o recente folhetim do Lula. Para uma parte considerável das gentes daqui do burgo existem bandidos bons e bandidos maus.

Autor: Pedro Ochôa

E, ao contrário do que seria expectável, o que os distingue não é a natureza dos crimes que cometeram, nem tão pouco a quantidade de vezes que os praticaram, mas sim as convicções políticas que alegam professar.

O bandido bom navega na área da esquerda, sendo que a graduação da sua bondade é directamente proporcional ao radicalismo que exibe, e jamais cometeu qualquer dos crimes de que é acusado. Porque a sua militância activa em defesa dos pobre e oprimidos incomoda os poderosos, acaba por ser vítima de uma conspiração reaccionária em que, ardilosamente, lhe são forjadas provas inexistentes.

Com a cumplicidade de magistrados corruptos ao serviço dos interesses do grande capital e da direita fascista, os processos judiciais que lhes são movidos estão infestados de erros processuais, pelo que a condução à cadeia do bandido bom representa uma flagrante violação dos mais elementares princípios do estado de direito democrático, configurando mesmo, em muitas situações, um golpe de estado encapotado.

O bandido mau é aquele que não se arvora de esquerda ou que não manifesta simpatias políticas. A graduação do perigo que o bandido mau representa para a sociedade aumenta consideravelmente se ele milita em partidos conotados com a direita.

Em relação ao bandido mau nunca há dúvidas da sua culpabilidade, mesmo que as provas contra ele recolhidas sejam manifestamente insuficientes para serem apreciadas em audiência de julgamento.

O lugar dele é na cadeia e somente aí não recolhe se as autoridades judiciais, corrompidas por interesses contrários à soberania popular, não fizerem o seu trabalho com isenção e eficiência.

Devo confessar que me estou a borrifar para o futuro do Lula, seja ele no recanto de uma prisão ou no conforto do palácio presidencial. E a razão é bem simples, porque se trata dum assunto do foro exclusivo dos brasileiros, que em nada diz respeito a nós, portugueses.

Principalmente todos quantos exercem funções de natureza pública deveriam abster-se de se imiscuir nas decisões do poder judicial brasileiro, reservando para si, fora do ambiente privado, as opiniões com que têm inundado a imprensa e as redes sociais.

Claro que não é assim que pensam os amigos do Costa, aqueles que protestam na rua contra as próprias medidas que aprovam no parlamento e que, graças a essa manha, têm permitido a sobrevivência política do chefe do governo.
Não nos podemos esquecer que o hino dos comunistas e dos bloquistas não é a “Portuguesa”, mas sim a “Internacional”, pelo que, na senda da doutrina bolchevique, as causas por que se batem não se resumem ao território nacional, mas sim em todo o lado onde lhes é permitido difundir a sua ideologia. 

Os amigos do Costa sempre idolatraram os piores bandidos de que a História regista, os quais, naturalmente, para eles são considerados heróis por supostamente terem libertado o povo da opressão e da miséria, recusando-se a reconhecer que aqueles submeteram esse mesmo povo a uma tirania e pobreza bem mais diabólica daquela de que presumivelmente o livraram. 

Os crimes por eles cometidos são desvalorizados, porque praticados em nome do povo. Por isso são bandidos bons! Lenin, Stalin, Trotski, Mao, Che, Fidel, Pol Pot, entre outros que ardem agora nas profundezas do inferno, porque em vida se habituaram a ter as mãos manchadas de sangue, são as referências desta simpática gente que agora se preocupa com as diabruras que estão a fazer com Lula.

E, como é óbvio, não admitem sequer questionar a probabilidade de Lula, que chegou à política como um pobre metalúrgico, ter enriquecido depois de assumir a mais alta magistratura do País, fenómeno que se estendeu igualmente aos seus também então muito remediados filhos.

Para os amigos do Costa o processo contra Lula resulta de um golpe contra a democracia, organizado pela direita reaccionária, racista e fascista, de acordo com o apregoado por uma das suas mais fiéis amigas.

Para eles Lula é um bandido bom, que apenas foi vítima de um sistema judicial que pretende impedir o seu regresso à presidência. Se, por mera casualidade, meteu dinheiro ao bolso, esse pormenor é perfeitamente irrelevante, atendendo ao seu passado revolucionário.

Costa que se cuide. Como bem diz a sabedoria popular, “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”…