Banqueiros afastam bolha no mercado imobiliário português

Garantia surge depois de o governador do Banco de Portugal ter alertado para riscos com a “euforia” no setor imobiliário, nomeadamente da habitação.

Os presidentes dos principais bancos garantiram que não há uma bolha imobiliária em Portugal, avaliando com normalidade o atual ajustamento de preços, depois de anos de pouco investimento imobiliário. Esta é a reação do setor às declarações feitas por Carlos Costa, durante uma conferência organizada pelo Banco de Portugal (BdP) ao falar de situações de euforia que podem surgir no mercado imobiliário.

Para o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, depois de anos em que bancos retraíram crédito à promoção imobiliária, o que está a haver é um ajustamento. “O mercado está mais quente”, lembrando que cidades, como Lisboa e Porto, não estão já apenas no mercado doméstico, mas no radar do mercado internacional de investimento imobiliário.

Uma opinião partilhada pelo presidente do Novo Banco. De acordo com António Ramalho, o que se passa é decorrente de anos em que havia muito pouco investimento em imobiliário, sem autorizações para construir e licenciar, e é uma situação “gerível”, acrescentando ainda que “Portugal mesmo no anterior momento não teve bolha imobiliária”, afirmou.
Pablo Forero, pelo BPI, recordou que viveu a bolha imobiliária em Espanha para considerar que “em Portugal a situação é bastante razoável”.

“Claro que há que evitar excessos, mas os bancos estão a fazer um trabalho sério e prudente”, afirmou o presidente do banco detido pelo grupo espanhol Caixabank.

Também o presidente da CGD, Paulo Macedo, considerou que há que distinguir os valores do “imobiliário residencial em Lisboa e Porto e do imobiliário industrial, que tem preços ainda baixos”.

Alertas

Carlos Costa mostrou-se ontem preocupado com os riscos que possam advir de uma bolha do setor imobiliário em Portugal. Para o governador do Banco de Portugal “decisões robustas ou sustentáveis” são determinantes para a estabilidade financeira, mas não são suficientes, considerando que tal é particularmente relevante em situações de “euforia no mercado”, sobretudo no imobiliário.

No entender do responsável, “a intensidade e a propagação de expectativas distorcidas de valorização de ativos são tanto maiores quanto menor for a literacia e a experiência financeiras”.

Neste âmbito, o governador do BdP salienta a necessidade de “medidas que ataquem os desenvolvimentos sistémicos negativos”, mas também de “medidas prudenciais mais interventivas do lado da concessão de crédito, ou do lado da aplicação da poupança, para garantir a estabilidade financeira”.

Estes alertas surgem depois de ter sido revelado que o montante concedido pelos bancos para a compra de casa rondou os 919 milhões de euros em julho, o segundo valor mais elevado deste ano e já coincidem com a entrada em vigor das recomendações do regulador. 

O aumento da concessão do crédito à habitação tem vindo a soar alarmes junto da entidade liderada por Carlos Costa. Por isso, a partir de julho, as instituições financeiras foram recomendadas a atribuir novos créditos apenas a clientes que gastem até 50% do seu rendimento líquido com as prestações mensais de todos os empréstimos detidos (habitação e consumo). Ainda assim, admite que os bancos possam ultrapassar este limite de taxa de esforço até 5% do montante total de créditos concedidos por ano e assumir uma taxa de esforço de 60% do cliente até um quinto do montante total de créditos concedidos nesse ano.

O regulador sugeriu também que os bancos tenham em consideração, entre outras questões, uma subida das taxas de juro de três pontos percentuais no cálculo da chamada taxa de esforço, para “evitar que a subida esperada da Euribor coloque o empréstimo num patamar de risco excessivo, podendo conduzir ao incumprimento no crédito”.

No que diz respeito ao rácio entre o montante do empréstimo e o valor do imóvel dado em garantia, o banco central recomenda um limite de 90% para créditos para habitação própria e permanente e de 80% para créditos com outras finalidades que não habitação própria e permanente. 

Em relação à maturidade original dos empréstimos, o limite é de 40 anos nos contratos de crédito à habitação e crédito com garantia hipotecária ou equivalente, e convergência gradual para uma maturidade média de 30 anos até final de 2022, e de dez anos nos contratos de crédito ao consumo.