Bingo! Ficámos ricos!

Para a ferrovia nacional, só faltam ‘coisas miúdas’, como a ligação à  Europa em bitola única, ou a ligação rápida Lisboa-Porto

Só pode ter sido o Pai Natal a deixar pilim no sapatinho do Dr. Centeno, ou, quem sabe, o Euromilhões. Subitamente, onde não havia, passou a sobrar, e o dinheiro jorra nas torneiras da rua da Alfândega. 

Foi a reposição de benefícios aos funcionários públicos e aos pensionistas, o anúncio da aquisição de composições para a CP, a expansão dos Metros de Lisboa e Porto, o aeroporto da Portela, o do Montijo, a redução das propinas na universidade e, cereja em cima do bolo, o plano de investimentos a dez anos. Uma de três: ou a Suécia se transferiu para Portugal, ou ‘há petróleo no Beato’, ou chegaram os ‘amanhãs que cantam’ do PCP. Se o caso é este, viva a ‘geringonça’!

A história do aeroporto é de cabo de esquadra. Vejamos o que nos diz o primeiro-ministro: a) ‘Portela mais Um’ é a solução que resolve o problema do tráfego aéreo da região de Lisboa… por décadas; b) O turismo deixa de ter estrangulamentos, e vai aumentar a contribuição para o PIB; c) Não há plano B; d) Alcochete era solução há dez anos… mas já não é; e) Se as conclusões do estudo do impacto ambiental forem contrárias à expansão da pista do Montijo… não haverá  ‘mais Um’. E é tudo à borla, a Vinci paga tudo! Coisa parecida com outras poções milagrosas, que ‘nada custariam ao erário público’, assim como a nacionalização do BPN, ou a exemplar resolução do BES.

Boa parte destas ‘judiciosas’ considerações foi comunicada ao país na manhã de uma fria quarta-feira, por um displicente passageiro do Metro de Lisboa, cuja voz parecia a do primeiro-ministro. A primeira reação deste ouvinte foi: só pode ser gracinha de algum imitador… Quem sabe, o mesmo que fez o telefonema à Cristina Ferreira. 

Para sossego da nação, as imagens das televisões – as televisões são sempre convidadas… – mostraram que foi mesmo o Dr. Costa que falou, mas a ‘coisa’ continua confusa. Melhor aguardar a clarificação do ministro Santos Silva para ver se, finalmente, as ideias fazem sentido.

Num outro cenário, o ministro que tutela o planeamento e as infraestruturas anunciou, com pose solene, a aquisição de novas composições para os caminhos-de-ferro portugueses. Caso para dizer: para a ferrovia nacional, agora só ficam a faltar ‘coisas miúdas’, como a rede integrada para passageiros e mercadorias, a ligação à Europa em bitola única, ou a ligação rápida Lisboa-Porto. É que as novas composições são mera panaceia para as dores do momento…

Já quanto ao Metropolitano de Lisboa, foi o ministro do Ambiente a dar a boa nova: as estações de Santos e Estrela e mais uns quilómetros de túneis para fazer o grande anel circular. O PCP preferia servir a periferia, mas eles entendem-se. No dia seguinte, é claro, vieram os 600 milhões para o Metro do Porto… que os espíritos do Norte não podem ficar inquietos. 

Vendo bem, não há razões para espanto: os Reis Magos trouxeram ouro, incenso e mirra. Toda a crítica é má vontade de ignorantes que não leram Keynes. O engenheiro Sócrates é que sabia de investimento público.