Blatter a bombar na corrupção da FIFA

Indignados, sim, surpreendidos, não. Parece que ninguém esperava a derrota de Blatter nas eleições da FIFA, embora a sua posição tivesse ficado moralmente fragilizada depois de Platini, da UEFA, lhe tirar o tapete. E Figo fez o seu papel, retirando-se por saber que não teria hipóteses de ganhar agora.

Nunca ninguém disse que a democracia é o melhor dos mundos, mas sim aparentemente (e até prova em contrário) o menos mau dos mundos maus. Já vimos por cá como os corruptos ou disso solidamente acusados vencem eleições sem problemas.

É que numa corrupção bem feita, urdem-se relações de interesses materiais fortes, que garantem o sucesso dos maiores corruptos. Sobretudo numa eleição indirecta, como a da FIFA (que não exige um número tão grande de entendimentos.

Ora Blatter está à frente da FIFA desde 1998, sempre a dizer que vai lutar contra a corrupção, e no entanto o descaramento dos seus dirigentes tornou-se cada vez maior e mais transparente.

Da FIFA sabe-se, e cito, que pagou US$88,6 milhões em salários aos seus menos de 500 empregados, só em 2014 (empregos invejáveis); que tem uma reserva de US$1,5 mil milhões (quem se gozará disso?); que entre 2011-14 pagou US$101 milhões só para resolver questões legais; e que quem organizar um Mundial tem de criar um paraíso fiscal para a FIFA.

Entre os acusados agora apontados pelos EUA, estão dois vice-presidentes da FIFA, 1 deles também presidente da CONCACAF (Associação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas), 1 ex-presidente da Confederação da América do Sul (Conmebol), 1 membro do comité da FIFA para os Jogos Olímpicos Rio2016, 1 membro do comité executivo da FIFA,1 antigo vice-presidente do organismo e ex-presidente da CONCACAF, 1 dirigente do sector de desenvolvimento da FIFA, 1 membro do comité executivo da CONCACAF, e 1 elemento do gabinete do presidente da Conmebol.

As acusações foram deduzidas pelos EUA, porque os seus bancos serviram aos corruptos, e alguns deles (corruptos assumidos) foram pressionados a falarem… Houve mesmo quem se declarasse culpado.

Não foi o caso de Jepp Blatter, que mal soube da vitória, se atirou aos EUA e à Grã Bretanha, denunciadores que pelos vistos o incomodam e irritam.

Mas quem começou por fazer prisões, para extraditar em direcção aos EUA, foi a Suíça, pátria de Blatter.

Resta saber durante quanto tempo ele ainda conseguirá passar entre os pingos da chuva. Talvez alguém o pudesse informar de que, por cá, Isaltino Morais acabou mesmo preso, embora por muito pouco tempo, e transformado em homem de negócios (será que isto é mesmo dissuasor?).