«é uma revisitação muito minha à cidade de lisboa, à calçada, ao fado, aos seus ex-libris», disse o pintor lisboeta, nos estados unidos para a inauguração da exposição individual once upon a time… / era uma vez …, evento inserido no festival português de boston.
patente na galeria 360 da northeastern university de 9 de maio a 22 de junho, a exposição consiste de uma série especial de doze quadros baseados na sua visão de lisboa, mas também do povo português, das suas tradições e histórias.
um destes quadros é «uma fusão entre belém de hoje e de há 500 anos», em que uma mulher navega, ironicamente, num pastel de belém.
outro, dedicado à calçada portuguesa, parte de um «trocadilho» com a palavra, em que uma mulher aparece nua, mas calçada.
«lisboa para mim hoje é uma cidade de uma certa decadência romântica, acima de tudo com alma. revejo-me muito nela», afirma.
sobre as suas referências na pintura, passos tem um nome na ponta da língua – paula rego – e aponta também para o britânico francis bacon.
«atrai-me o insólito, o grotesco. não o fazer bonito ou bem feito, para decorar», disse à lusa.
ricardo passos afirma que o registo da série agora apresentada vai continuar, «em termos de maneira de apresentar, de técnica», mas deixando para trás o tema de lisboa e suas personagens.
«já tenho mais trabalhos feitos, mas nunca sei bem o que vem a seguir», afirma.
constantes nos seus quadros são as mulheres, sem que saiba explicar porquê, além do «bizarro e insólito».
«agora vou chamar [à nova série] maldades. maldades que a sociedade faz, que fazemos a nós próprios para estar inseridos nesta sociedade que por vezes é tão cruel. é o lado menos bonito da sociedade ocidental em que vivemos», afirma o pintor.
a última tela acabada tem como tema o aborto, e a que está a começar agora «tem a ver com a sociedade consumo», fazendo o «contraponto» entre aquilo que era no passado e o que é hoje «em que tudo é normalizado, tem códigos de barras, deixou de ser humanizado».
sobre as possibilidades que esta exposição individual abre para a sua carreira artística, passos diz «não ter expectativas em relação a nada».
«o apresentar não é o objectivo. comercializar é uma consequência do que faço. se começar a criar com objectivos comerciais deixo de ser genuíno (…) não estou preocupado se [a exposição] será um trampolim ou não», diz passos.
«quero só continuar a pintar, a sentir-me chocado e provocado com aquilo que faço», adianta.
lusa/sol