Capitães de Abril: Acusações a Cavaco e maioria

Assunção Esteves reconciliou-se quarta-feira com os capitães de Abril. Para menorizar os efeitos da polémica, contou com a ajuda do PS, que lhe pediu por carta uma reunião para avaliar os motivos que levaram os capitães de Abril a decidirem não marcar presença, pelo terceiro ano consecutivo, nas comemorações do 25 de Abril. E também…

Mas nesta operação, que incluiu ainda uma visita da presidente da Assembleia da República (AR) à sede da associação dos capitães de Abril, em Lisboa, o contributo de Vasco Lourenço foi essencial: o coronel fez passar Assunção Esteves de responsável pela polémica a vítima do PSD, do CDS e do Presidente da República, Cavaco Silva.

“Estou convencido de que a Presidente convidou-nos para uma intervenção, mas sentiu que não tinha o apoio da maioria e de Cavaco Silva, que vai lá estar presente”, disse ao SOL Vasco Lourenço, recordando que o convite para que os capitães fossem ao Parlamento partiu da presidente, que lhe ligou para dizendo que a presença destes “era imprescindível”.

O capitão de Abril informou Assunção Esteves que a associação até estava disponível para regressar à sessão solene, se o próprio pudesse usar da palavra. “Era mais fácil até para convencer a direcção. Já tínhamos decidido e deliberado que não iríamos ao Parlamento”, explica.

‘Parlamento é sagrado’, ouviu Assunção Esteves

Só que o gabinete da presidente da AR ficou a aguardar uma proposta formal por parte dos capitães, sabe o SOL – uma proposta esta que nunca chegou.

Entretanto, multiplicaram-se os pedidos de esclarecimento, apertando o ‘cerco’. Assunção Esteves já tinha sido avisada pelos partidos de que não deveriam ser abertas excepções ao regimento da AR, que impede que estranhos à actividade parlamentar usem da palavra. “O Parlamento é sagrado. Não se podem abrir excepções” – terá sido dito a Assunção Esteves numa conferência de líderes, logo no arranque da preparação do programa das comemorações do 25 de Abril. Daí à polémica reacção “o problema é deles” – com que a presidente reagiu ao anúncio de os capitães de Abril não irem à AR – foi um passo, incendiando as relações.

Ramalho Eanes chegou a ser apontado como solução

Mas a condição apresentada por Vasco Lourenço para os militares irem à AR não apanhou de surpresa Assunção Esteves, nem as bancadas parlamentares. O SOL sabe que, precisamente por ter sido colocada a hipótese de os capitães de Abril pedirem a palavra, o nome de Ramalho Eanes chegou a ser apontado, no Parlamento, como a melhor solução para todas as partes – já que Eanes beneficia do duplo estatuto de ex-Presidente da República e de sócio-fundador da Associação 25 de Abril.

Questionado pelo SOL, Ramalho Eanes começou por afastar a hipótese de discursar em representação dos capitães: “Teria de ser um capitão mais jovem. Mas gostaria que os capitães de Abril estivessem presentes na cerimónia, obviamente”. E se a presença dos capitães depender da sua intervenção em nome da associação, aceitaria? “Em princípio não”, respondeu.

Perante esta hipótese, Vasco Lourenço sublinha que a solução Eanes teria de passar sempre pela vontade da AR, de Eanes e da própria associação. E é aqui que entra a unidade entre os capitães de Abril em torno de Vasco Lourenço: “Fui nomeado por unanimidade para ser o representante da Associação 25 de Abril no Parlamento. Portanto, não seria natural ser o general Ramalho Eanes a representar a direcção da associação”, clarifica o coronel ao SOL.

Na mesma linha, Garcia dos Santos, presidente da mesa da assembleia-geral da associação, contesta a possibilidade de Eanes representar os capitães – hipótese que saiu dos corredores do Parlamento para a opinião pública através de Marcelo Rebelo de Sousa, no seu comentário na TVI. “Vasco Lourenço é o presidente da direcção e, naturalmente, é ele quem nos representa e quem fala em nome da associação”, frisa Garcia dos Santos.

ricardo.rego@sol.pt