Carjacking abre guerra entre polícias

A detenção dos presumíveis autores do sequestro do director da RTP e do administrador da Caixa-Geral de Depósitos, Norberto Rosa abriu nova guerra entre a PSP e a Polícia Judiciária (PJ). Cada uma das polícias investigou os mesmos casos, repetindo inquirições e diligências.

o desentendimento estalou na mesma semana em que o governo desenterrou uma medida dos socialistas para combater os recentes assaltos violentos: as ‘equipas mistas’, compostas por agentes de várias polícias.

a verdade é que a investigação daqueles dois casos de sequestro e carjacking mostrou que a articulação entre as forças e serviços de segurança está longe de ser fácil de alcançar. é que, quando a psp começou a fazer diligências para investigar estes crimes, já os inspectores da pj tinham em curso dois inquéritos: as vítimas já tinham sido ouvidas, os reconhecimentos fotográficos estavam feitos e as imagens que provam os levantamentos no multibanco já tinham sido pedidas aos bancos. a psp estava a par de tudo e foi reunindo informação, uma vez que registava as queixas das vítimas e ia comunicando os roubos à judiciária, entidade competente para investigar estes ilícitos.

pj não foi avisada

mesmo assim, com luz verde da unidade especial de combate ao crime violento do departamento de investigação e acção penal (diap) de lisboa, a psp deu início à sua investigação, repetindo muitas diligências já feitas pela judiciária – várias vítimas daquela dupla de assaltantes, sabe o sol, foram chamadas a depor duas vezes e a repetir reconhecimentos já feitos.

a situação criou mal-estar no seio da judiciária, que nunca terá sido avisada, nem pela psp nem pelo diap, para interromper e entregar os inquéritos a outra polícia.

esta terça-feira à noite, a dupla de assaltantes – suspeita de uma dezena de sequestros deste género nos últimos dias – acabou por ser detida, numa megaoperação que envolveu dezenas de agentes, em lisboa e loures. depois de lhes seguir o rasto dias a fio, a psp esperou que fizessem mais uma vítima (forçada a levantar dinheiro com ameaça de arma) para os deter. a estratégia era mesmo essa: o flagrante delito. feita a operação, seguiu-se a conferência de imprensa. «o vosso contributo ‘mediático’ é essencial para que as medidas de coacção sejam o mais lesivas possíveis para os suspeitos» – pediu o porta-voz da psp, paulo flor, num insólito comunicado enviado aos jornalistas, antes de os suspeitos serem presentes a tribunal.

joana.f.costa@sol.pt