Comandante da esquadra de Vila Franca de Xira intima agentes a passar multas a carros estacionados

Segundo os e-mails a que o jornal i teve acesso, o comandante da esquadra de Vila Franca de Xira disse, em tom de ameaça, que “é possível (e fácil) de verificar quantos autos cada um levanta por dia/mês/ano…”, dando a entender que quem não seguir as ordens terá algum tipo de consequência.

Os agentes da Divisão Policial de Vila Franca de Xira receberam ordens do comandante da esquadra para que autuem “as muitas viaturas” que se encontram mal estacionadas naquela zona, através de e-mails. A correspondência surge em tom de ameaça, já que, logo de seguida, é sugerido aos agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) que “é possível (e fácil) de verificar quantos autos cada um levanta por dia/mês/ano…”, lê-se no documento, dando a entender que quem não seguir as ordens terá algum tipo de consequência.

Neste caso, o comandante de Vila Franca de Xira dirige-se ao efetivo em geral, mas especialmente aos agentes responsáveis por fazer patrulhamento apeado. Na correspondência lê-se ainda que “uma das missões será autuar viaturas em infração” nos dias em que não existem ordens para patrulhamento nas ruas, ou em que “não seja possível cumprir” esse mesmo patrulhamento. 

Pedro Carmo, presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP/PSP), referiu que, “infelizmente”, a situação descrita “tem acontecido em mais sítios” do país, citado pela mesma fonte. 

Esta forma de pedir aos agentes que passem mais multas surgiu também “depois do Movimento Zero, porque há muita gente descontente que começou só a cumprir os mínimos”, explicou Pedro Carmo, acrescentando que “quando vão de patrulha não fazem nada”. 

Para o presidente da OSP, estes e-mails não são dirigidos a todos os agentes, mas apenas a alguns que não cumprem, de facto, o serviço, “porque há muitos que fazem o seu trabalho”. Trata-se, para Pedro de Carmo, de “cobardia de não dirigir a quem de direito” a reclamação, já que “por uns pagam os outros”. “Se há suspeitas de fraude, ou de alguém que não faça o seu trabalho, abre-se um processo, mas muitas vezes isso não acontece e opta-se pelo castigo”. 

Esta forma de contacto pode, no limite, diz Pedro Carmo, ter o efeito contrário, já que os agentes que cumprem as regras laborais podem levar as palavras como uma ofensa e “os que não trabalham, continuam a não fazer nada”.