Constrangimentos económicos podem levar a descontrolo da asma

O pneumologista Jorge Ferreira alertou hoje para a eventualidade de os constrangimentos económicos que muitas famílias portuguesas vivem poderem contribuir para um aumento do descontrolo desta doença, que afecta cerca de um milhão de portugueses.

jorge ferreira, que coordena a comissão de trabalho de alergologia respiratória da sociedade portuguesa de pneumologia, contou à lusa que, «no dia-a-dia», se tem apercebido de que «o orçamento familiar para medicamentos começa a ser cada vez mais reduzido».

«os doentes questionam muito o preço do tratamento, querem saber se há medicamentos mais baratos e qual o preço», sustentou o pneumologista, que falava a propósito de um debate sobre o futuro do tratamento da asma, que se realiza no sábado, no luso.

jorge ferreira explicou que esta é «uma doença perigosa, no sentido de que, como melhora muito com o tratamento, induz por vezes a percepção errada de que a doença desapareceu. ou seja, a resposta à medicação é, de facto, numa grande parte dos doentes, tão boa que gera a sensação de que a doença já desapareceu, o que não acontece, porque se trata de uma doença crónica».

«e, claro, que não sendo tratada irá inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo, voltar a manifestar-se, eventualmente, até com uma dimensão e uma gravidade maiores. merece, por isso, uma atenção especial da parte dos técnicos de saúde e uma preocupação por parte de todos os especialistas que tratam este tipo de patologias», sublinhou o especialista.

o pneumologista salientou que «numa época de grande contenção económica, uma grande franja da população vê o acesso a estes medicamentos, que por vezes têm um custo elevado, relativamente comprometido ou dificultado. obviamente, que isto terá implicações imediatas no controlo da doença».

«é uma doença que, sendo tratada, é facilmente controlada, mas se houver um desvio do sistema terapêutico mais adequado a cada doente poderá ter consequências imediatas em termos de controlo da situação clínica e, indirectamente, vai disparar os custos com esse doente porque vai obrigá-lo a ir ao serviço de urgência e obrigá-lo a ficar internado. já para não falar do absentismo escolar e laboral que poderá estar relacionado», frisou.

de acordo com o especialista, a asma é uma doença que tem «um impacto enorme no dia-a-dia de muitos doentes», mas que «tem motivado investigação intensa e intensiva, que tem dado origem a novos fármacos e a novas formas de tratar a doença».

«têm surgido novidades e irão surgir novos fármacos e novas moléculas com maiores tempos de duração de acção e grande actividade anti-inflamatória, mais dirigida, assertiva e adequada a cada doente. agora, tratamos os doentes asmáticos quase todos da mesma maneira, mas acreditamos que, no futuro, poderemos tratar melhor cada doente, cada tipo ou subtipo de asma em função do arsenal terapêutico de que viremos a dispor nos próximos tempos», acrescentou.

lusa/sol